Os lobistas Jorge Luz e Bruno Luz, alvos da operação Blackout, movimentaram US$ 40 milhões em dez anos. Pai e filho são apontados como os operadores do PMDB na Petrobras, mas há indícios de que a relação com o partido é ainda mais antiga. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (23), a força-tarefa da Lava Jato explicou que esse valor foi repassado para agentes públicos e políticos em ao menos três diretorias da estatal – na Internacional, com mais frequência, e esporadicamente nas de Serviços e Abastecimento. Os políticos seriam da bancada do PMDB no Senado.
O dinheiro serviu para o enriquecimento de políticos. Ainda segundo os investigadores, há indícios de pagamentos para políticos que têm direito ao foro privilegiado. Esses casos são investigados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Jorge Luz e Bruno Luz, pai e filho respectivamente, são investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, “suspeitos de intermediar propina de forma profissional e reiterada na diretoria Internacional da Petrobras, com atuação também nas diretorias de Serviço e Abastecimento da estatal”. A Operação Blackout ocorre dois dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) livrar das mãos do juiz federal Sergio Moro o ex-presidente José Sarney, cacique do PMDB.
A força-tarefa, porém, nega que a operação tenha o objetivo de pressionar a Suprema Corte a liberar a investigação da Sarney em primeira instância. O procurador da República Diogo Castor de Mattos destacou que os pedidos de prisão foram realizados dias antes da decisão do STF. Além disso, segundo Mattos, as investigações tiveram como ponto de partida depoimentos de colaboração premiada que foram desmembrados e enviados para Curitiba pelo próprio Supremo, como dos ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, e do lobista Fernando Soares.
Ligação forte com o PMDB
Jorge Luz teria uma forte ligação com o PMDB. O também lobista Fernando Soares, o Baiano, havia detalhado a atuação de Luz em depoimento a Sergio Moro, em novembro de 2015. Soares citou uma reunião entre o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), Jorge Luz e Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da Petrobras. Segundo ele, Aníbal teria agido como emissário do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), então presidente do Senado.
Aníbal Gomes teria cobrado repasses de propina da Diretoria de Abastecimento, que incialmente destinada apenas ao PP. A partir deste encontro, ocorrido entre o fim de 2006 e início de 2007, o PMDB também teria passado a receber parte da propina dos contratos da diretoria.
Baiano disse que o PMDB passou a ter direito na propina da Diretoria de Abastecimento quando Paulo Roberto Costa ficou doente e se licenciou do cargo, que passou a ser disputado por outros funcionários da estatal. Baiano diz que buscou apoio de Jorge Luz para que Costa não perdesse o cargo.
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“Ele [Jorge Luz] me retornou dizendo que tinha fechado esse acordo de apoio ao Paulo e que esse apoio seria dado pelo PMDB do senado e que viria uma pessoa indicada por esses parlamentares pra tratar com o Paulo, essa pessoa depois eu vim a saber que era o deputado Aníbal Gomes”, disse Baiano a Moro.
O próprio Costa confirmou que passou a ter apoio do PMDB após ficar doente e admitiu que foi procurado por Aníbal Gomes. Segundo o ex-diretor, o parlamentar atuava em nome do presidente do Senado, Renan Calheiros, o que Calheiros nega.
Também foram relatados desentendimentos na distribuição de propinas envolvendo Aníbal Gomes. O próprio Paulo Roberto Costa, em sua delação premiada ao Ministério Público Federal no ano passado, acusou o parlamentar de lhe “passar a perna” em um acerto de R$ 800 mil para que o diretor ajudasse o Sindicato Nacional dos Mestres de Cabotagem e Contramestres em Transportes Marítimos a resolver um impasse com a Petrobras. Aníbal Gomes já negou qualquer envolvimento com corrupção na Petrobras ou atuação como intermediário de Renan Calheiros.
Pagamentos de propina ‘dissimulada’ no exterior
A família Luz usou contas de empresas offshores no exterior para pagar propina “de forma dissimulada”. Durante as investigações, foram identificados pagamentos em contas na Suíça e nas Bahamas, segundo a força-tarefa da Lava Jato. Era por meio dessas contas no exterior que a dupla fazia os repasses aos agentes públicos.
Entre os contratos da diretoria Internacional, os alvos são suspeitos de intermediar propinas na compra dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000; na operação do navio sonda Vitoria 10.000 e na venda, pela Petrobras, da Transener para a empresa Eletroengenharia.
A força-tarefa afirma ainda que “esporadicamente” os investigados atuavam também em outras diretorias da Petrobras. Na área de Abastecimento, as investigações identificaram a participação de Jorge Luz e Bruno Luz na intermediação de propinas no contrato de aluguel do terminal de tancagem celebrado entre a Petrobras e a empresa Trafigura, e no contrato de fornecimento de asfalto com a empresa Sargent Marine.
Também foi identificada atuação dos investigados no pagamento de propinas para Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços, decorrente de contratos celebrados com a empresa Sete Brasil para exploração do pré-sal.
“Futuro” delator diz que Jorge não ‘não brinca quando fala’
O empresário Milton Schahin, um dos sócios do Grupo Schahin havia entregado em abril do ano passado ao juiz Sergio Moro documentos que comprovariam o pagamento de cerca de US$ 2,5 milhões em propina por exigência de Jorge Luz. O valor, segundo ele, teria sido depositado em contas indicadas por Luz. No início desta semana, Schahin assinou acordo de delação com o Ministério Público Federal, ainda não homologado pela Justiça.
Milton afirmou em depoimento a Moro ter ouvido de Luz que o dinheiro seria destinado a Nestor Cerveró, Fernando Soares, o Baiano, Edson Musa e Luis Carlos Moreira. A principal delas é uma conta chamada Pentagram, cujo beneficiário ainda não é conhecido. A outra conta, a Debase, recebeu depósitos para Edson Vaz Musa, gerente da área internacional da Petrobras, já analisados nas investigações da Lava Jato.
Milton contou que a primeira abordagem para pagamento de propina ao grupo de Jorge Luz foi feita por Fernando Baiano. Edson Musa e o lobista Fernando Baiano disseram Fernando Schahin, filho de Milton, que não haveria como “fazer negócio” sem pagamento. O rapaz declinou e, segundo ele, Musa chegou a levantar o tom de voz e dizer que iriam procurar quem resolvesse.
Depois dessa conversa, segundo o relato, Milton recebeu o telefonema de Jorge Luz, que pediu que o atendesse. O encontro ocorreu no escritório da Schahin. Luz teria lhe dito que o contrato de fato não sairia se não fizessem pagamento e que deveria pensar logo, pois havia outras empresas interessadas.
“Conheço ele há mais de 20 anos, eu sei que ele não brinca quando fala. Resolvi não correr o risco”, disse Milton Schahin a Moro.
Em 2011, o grupo precisou renegociar pagamentos de leasing com a Petrobras. Milton Schahin disse que Jorge Zelada, que substituiu Cerveró, chegou a lhe pedir US$ 5 milhões para tratar do assunto, mas que ele não pagou. Na avaliação de Milton, sua empresa foi prejudicada, pois a Petrobras cobrou juros absurdamente altos na operação.
O empresário também falou sobre propinas destinadas ao PT. Ele assegurou ao juiz que João Vaccari Neto condicionou apoio político para que a empresa fechasse um contrato de US$ 1,6 bilhão para operar a sonda Vitória 10.000 à quitação de um empréstimo feito em 2004 em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, que era destinado a cobrir dívidas do PT. “Tem uma condição, vocês têm que quitar o empréstimo do Bumlai”, teria dito Vaccari.
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