Inconformados com a suspensão do depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa na CPI dos Bingos, vários senadores da oposição usaram a tribuna para criticar o governo e cobrar a demissão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disse estar decepcionado com o ministro e afirmou que seu partido não vai mais preservá-lo.
- O PSDB não se vincula mais à defesa de Palocci, que nos causou profunda decepção. Não entendo que ele possa permanecer ministro. O PSDB cobra e exige a demissão de Antonio Palocci. A economia está madura o suficiente para suportar que ele seja defenestrado - discursou.
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-RN), disse que o PT atingiu a imagem do Senado ao recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir a realização de uma sessão aprovada pelos senadores. Segundo ele, o caseiro não atingiu a honra de ninguém para ter seu depoimento suspenso.
- Com essa decisão, o Senado fica menor. A decisão tira poderes do Senado. Estamos buscando a verdade que a sociedade cobra - disse o pefelista.
ElogiosA senadora Heloisa Helena (PSOL-AL) elogiou a postura do caseiro e classificou a suspensão do depoimento como uma tentativa "da gangue partidária da base de bajulação do governo" de evitar a investigação do "gigantesco esquema de corrupção" na qual estaria envolvida.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) chegou a comparar o caseiro ao motorista Eriberto França, que denunciou as contas fantasmas ligando o presidente Fernando Collor de Melo a Paulo César Farias, o que ajudou a derrubar o governo Collor.
- Hoje é um dia para ficar marcado na história do PT, quando um rapaz simples e singelo fez denúncias graves contra o ministro. Ele nos lembra aquele motorista que o Eduardo Suplicy mostrou na época da CPI do PC. Defendo que o ministro se afaste por 30 dias até que essa história seja esclarecida - disse Simon.
O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) sugeriu que a CPI e o presidente do Senado, Renan Calheiros, respondam imediatamente ao Judiciário sobre a liminar que o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendendo o depoimento. Para o senador, a medida atenta contra o funcionamento do próprio Congresso.
- Considero isso o fato mais grave já ocorrido desde a Ditadura Militar. Na minha opinião, o autor da liminar, ministro Cezar Peluso, não é um mau juiz, mas cassar um depoimento de uma pessoa porque compromete um ministro do governo é atender a pedidos de favores do presidente da República - assinalou, ressaltando que o país ficou extasiado com a decisão.
Aliado do governo, Renan disse, por sua vez, que "a CPI dos Bingos já é conseqüência de uma decisão judicial", mas admitiu que o Senado pode recorrer ao STF contra a decisão do ministro Cezar Peluso, se houver recomendação da Mesa.
- Se houver recomendação do Senado para que façamos um recurso, vamos analisar - disse Renan.
DemocraciaAutor do mandado de segurança que suspendeu o depoimento do caseiro, o senador Tião Viana (PT-AC) disse que o direito de recorrer ao Supremo é garantido na Constituição. Segundo ele, o Supremo reconheceu que a CPI está desrespeitando a democracia.
- Recorri ao Supremo num direito que me assiste, um direito democrático. Não se pode sair por aí dizendo que todo mundo é bandido, colocar na cadeia e não dar direito a defesa. Estou muito satisfeito com a decisão do Supremo, que reconheceu a democracia como vértice principal.
O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), disse que a oposição quer transformar a comissão parlamentar num campo de batalha entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o candidato tucano, o governador Geraldo Alckmin.
- Não vamos aceitar que o PFL e o PSDB transformem a CPI numa guerra. A CPI virou uma comissão anti-PT, anti-Lula. Querem transformar numa briga entre Alckmin e Lula - disse.
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