Os partidos de oposição decidiram entregar na presidência da Câmara, na tarde desta segunda-feira, uma carta pedindo ao deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) que se afaste da função até que termine a investigação sobre a denúncia de que ele recebeu propina de um empresário. Líderes e presidentes dos partidos de oposição passaram cerca de três horas reunidos nesta segunda para discutir a situação do presidente da Câmara.
Além de entregar a carta, a oposição vai propor a formação de uma comissão composta por vários partidos para acompanhar as investigações em várias instâncias. Entre elas, a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU).
O líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), disse que Severino "perdeu a autoridade moral e política para dirigir a Câmara", mas, como não existe no regimento da Casa a figura do pedido de afastamento, Goldman defendeu o auto-afastamento do presidente. O vice-líder do PPS, deputado Raul Jungmann (PE), informou que seu partido também é favorável ao auto-afastamento, para que a investigação sobre o assunto seja "independente e rápida".
Já o deputado Fernando Gabeira, que discutiu com Severino na semana passada e também participou da reunião, sugeriu representação contra Severino no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. Caso Severino se recuse a sair, os partidos devem pedir a cassação de seu mandato.
O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen, disse que o objetivo da reunião foi criar um movimento de defesa da imagem da Câmara.
- Vamos fazer uma manifestação púbica em defesa da Câmara dos Deputados, que não pode mais continuar sendo comandada pelo deputado Severino Cavalcanti - disse Bornhausen.
Ele explicou:
- Nosso objetivo é defender a imagem da Câmara dos Deputados. Severino tem de entender que precisa se afastar para que as acusações que envolvem o nome dele possam ser feitas de forma correta e independente.
No domingo, o presidente da Câmara divulgou nota informando que determinou a abertura de sindicância na Casa para apurar as denúncias e que enviou o caso para a Corregedoria. O titular da Corregedoria da Câmara é o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), considerado homem de confiança de Severino e chamado por ele de "meu filho".
Reportagem da revista "Veja" afirma que Severino recebeu propinas mensais de R$ 10 mil entre março e novembro de 2003, pagas por Sebastião Augusto Buani, que explora atualmente um dos oito restaurantes da Câmara. A revista diz que ele também recebeu de Buani outros R$ 20 mil pela renovação de seu contrato em 2002, quando o deputado era primeiro-secretário da Casa. A reportagem menciona ainda um suposto documento assinado por Severino, assegurando a Buani monopólio de cinco anos como concessionário. Esta seria a prova mais importante contra Severino.
No fim de agosto, Severino já causara polêmica ao informar que enviaria para a Corregedoria, e não para o Conselho de Ética, os relatórios dos processos de pedido de cassação dos parlamentares envolvidos com o escândalo do mensalão. A medida, vista como forma de retardar o processo de apuração, foi chamada de "operação abafa", causou intensa reação no Congresso e não foi levada adiante.
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