“Parabéns a esse time campeão.” A mensagem é o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, delator da Operação Lava Jato, e foi enviada no dia 19 de dezembro de 2013 para Ricardo Mello Castanheira, executivo do Grupo CCR, braço da empreiteira que atua no setor de transportes, como rodovias e aeroportos.
A congratulação feita ao executivo encerra uma série de mensagens entre os dois, entre os dias 12 de novembro e 19 de dezembro de 2013, nas quais tratam sobre concessões de rodovias realizadas pelo governo da presidente afastada Dilma Rousseff. A CCR foi vencedora do trecho da BR-163 em Mato Grosso do Sul.
Nas conversas reunidas pela força-tarefa da Operação Lava Jato, os investigados citam tratativas com o então ministro de Transportes, Cesar Borges, e da Casa Civil, a atual senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
“Você já deve saber. Ganhamos a 163 MS, Gleisi mandou um abraço e agradeceu. César Borges muito feliz. Abs”, escreveu Castanheira para o então presidente da Andrade Gutierrez, na mensagem anterior à congratulação de resposta.
Gleisi Hoffmann é investigada pela Lava Jato nos inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo alvos com foro privilegiado. Seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicações), foi preso no dia 23 de junho, alvo da Operação Custo Brasil – desmembramento da Lava Jato.
Os dois são suspeitos de receberam propinas desviadas via Ministério do Planejamento de contratos de empréstimos consignados em folha dos servidores federais – um rombo de mais de R$ 100 milhões, entre 2010 e 2015.
No dia 22 de novembro de 2013, Otávio Azevedo havia enviado mensagem de celular para Castanheira informando que “a Gleisi acabou de ligar e disse que falou com você”.
Ao analisar a mensagem, a Polícia Federal ressalta que “quanto à 163 MS observa-se que a CCR foi vencedora do leilão referente ao trecho da BR 163 no Mato Grosso do Sul com deságio de 52,74%, sendo que cerca de 20 dias antes a Odebrecht foi vencedora da licitação da BR 163 no trecho do Mato Grosso com deságio de 52%”.
O que diz Gleisi
Em nota, Gleisi disse que apenas agradeceu os vencedores da licitação e repudiou a abordagem que foi feita sobre o assunto. “Lamento a forma leviana da abordagem feita pela matéria. Enquanto ministra-chefe da Casa Civil, coordenei e acompanhei o processo de concessões de rodovias, aeroportos e portos através do Programa de Investimentos em Logística (PIL) do Governo Federal. Acompanhei todos os leilões. Ao final de cada leilão, liguei para todos os vencedores, agradecendo e parabenizando pelo vencimento da concessão”, disse a senadora e ex-ministra na nota.
Rodovias
A Lava Jato investiga se o esquema de cartel e corrupção descoberto na Petrobras foi espelhado em outros negócios do governo federal, como no setor elétrico e nos transportes, em especial nas concessões de rodovias, aeroportos e ferrovias.
As suspeitas envolvendo corrupção nestes contratos surgiram já no início das investigações da operação. “O que acontece na Petrobras acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas”, afirmou em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro o primeiro delator da operação, o ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera Paulo Roberto Costa, em outubro de 2014.
O Relatório de Análise de Mídia Apreendida Nº 882/2015, da PF, foi anexado nesta segunda-feira (11) ao inquérito da Andrade Gutierrez, que corre em Curitiba. Azevedo e outros executivos da empreiteira fecharam acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, no qual confessam ter pago propinas em contratos como as obras das usinas de Belo Monte, no Pará, de Angra 3, no Rio, no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), da Petrobras, em estádios da Copa.
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