Um delator tranquilo, sorridente e irônico afirmou nunca ter tratado com a presidente Dilma Rousseff, com o ex-presidente Lula ou com ex-ministro Antônio Palocci sobre o suposto repasse de R$ 2 milhões à campanha presidencial da petista em 2010. Mas o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa pontuou achar “um pouco estranho” que Dilma não soubesse do esquema de desvios da Petrobras, em razão de a então ministra ter presidido o Conselho de Administração da estatal entre 2003 e 2010.
Parte dos vídeos com os depoimentos do ex-diretor e do doleiro Alberto Youssef, anexados aos inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), tornou-se pública na tarde desta terça-feira. Os processos tramitam sem sigilo. Parte do material gravado – como essas referências ao episódio envolvendo Dilma e Palocci – não aparece transcrita nos termos do depoimento. Ao todo, o STF determinou a abertura de inquérito para investigar 13 senadores e 22 deputados federais.
Essa fala de Paulo Roberto ocorreu em 11 de fevereiro, numa complementação a um depoimento dado no ano passado. O delator foi ouvido no Rio por dois procuradores da República e por um promotor de Justiça que integram o grupo de trabalho criado na Procuradoria Geral da República (PGR) para tratar das citações a políticos. Essa complementação sobre o suposto repasse de R$ 2 milhões à campanha de Dilma em 2010 consumiu quase sete minutos de depoimento. Os integrantes do grupo da PGR fizeram mais de 20 perguntas a respeito.
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Leia a matéria completaUm integrante da PGR perguntou se a presidente, no período em que presidiu o Conselho de Administração, “tinha algum conhecimento do que se passava lá”.
– Não sei. Não sei, não sei, não posso te dizer – respondeu o ex-diretor.
– O senhor nunca teve alguma conversa com ela sobre isso?
– Não. Nem com ela nem com o presidente Lula, nunca tive. Se ela sabia ou não sabia, não sei te dizer – afirmou o delator.
–Nem com o Palocci?
– Nem com Palocci, com nenhum dos três. Nunca tive conversas sobre esse tema. Agora, de 2003 a 2010 presidente do conselho e não saber de nada é um pouco estranho. Mas eu não tive essa conversa nem com ele nem com ela nem com Palocci – respondeu Paulo Roberto.
Palocci é suspeito de ter pedido o repasse de dinheiro para a campanha de Dilma em 2010, por meio do doleiro Alberto Youssef. O ex-diretor da Petrobras não soube dizer se a reunião com o doleiro para tratar do assunto ocorreu num “hotel” ou no “escritório” de Youssef em São Paulo.
Youssef prestou depoimento no mesmo dia, em Curitiba. De camisa vermelha e aparentando mais tensão do que o outro delator, negou ter feito o pedido de dinheiro para a campanha de Dilma. O investigador que lhe questionou introduziu o assunto já ressaltando que se tratava de um “tema bem delicado”. O doleiro afirma que o ex-diretor pode ter se confundido devido à pressão e ao tempo que passou na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
“Nunca tive contato com Palocci, nem com o irmão do Palocci e nunca recebi nenhum pedido desse valor, nem de nenhum emissário em nome do Palocci. Acredito que ele (Paulo Roberto) deva ter pedido para alguma empresa que fizesse isso e não eu. Acho que ele (Paulo Roberto) pode ter se confundido num momento de pressão, da cabeça não estar muito boa devido a muito tempo na carceragem, alguma coisa assim. Realmente, isso não aconteceu comigo”, afirmou o doleiro.
Paulo Roberto afirmou que um grupo de políticos que teria se beneficiado com recursos do esquema tratava do assunto diretamente com ele. Outros procuravam Youssef.
“Alguns fatos, como esse aí especificamente, as pessoas falavam direto com o Youssef. Outros fatos as pessoas falavam comigo. Por exemplo: o ministro (Edson) Lobão (PMDB-MA) falou comigo. Pessoal aqui do governo do Rio: falou comigo. Não tem nada a ver com Youssef. Senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), falecido: falou comigo. Nesse caso específico, o Youssef me trouxe numa reunião que tive com ele e falou: “Paulo, o ministro Palocci tá pedindo aqui uma contribuição para a campanha da Dilma Rousseff agora em 2010 de R$ 2 milhões. Podemos dar?” “Pode, pode dar”. Então eu autorizei Youssef a fazer”, disse o delator.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, alegou “vedação inconstitucional” e argumentou que não poderia investigar a presidente Dilma por um fato que seria anterior ao mandato. O entendimento foi acatado pelo ministro Teori Zavascki, relator dos autos da Lava Jato no STF. Com isso, o processo foi remetido para a 13ª Vara Federal de Curitiba para se analisar a conduta de Palocci, que não tem foro privilegiado.
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