Os contratos de empréstimo do pecuarista José Carlos Bumlai com o BNDES estão no alvo da nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (24) e que prendeu o empresário. Policiais federais estiveram na sede do banco e intimaram a presidência a entregar cópias dos contratos e seus processos de aprovação, realizados entre 2005 e 2012.
Serão investigados três empréstimos a duas empresas do pecuarista, que é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: São Fernando Açúcar e Álcool e São Fernando Energia, que somam R$ 518 milhões. Grande parte das operações, de acordo com o Ministério Público Federal, nunca foi paga. “A investigação ainda é incipiente, mas queremos saber se as operações seguiram as normas internas do banco ou se houve inconformidades”, disse o procurador Diogo Castor de Mattos.
Segundo ele, as empresas ou estavam inativas ou não tinham atividade operacional na época dos empréstimos. A São Fernando Açúcar e Álcool, por exemplo, obteve um contrato de R$ 350 milhões com o BNDES quando já havia um pedido de falência, em 2008. A empresa tem um passivo de cerca de R$ 1 bilhão atualmente -metade dele com o BNDES.
Já a São Fernando Energia conseguiu um empréstimo de R$ 104 milhões quando estava inativa operacionalmente e possuía apenas sete empregados. As duas empresas eram administradas pelos filhos de Bumlai, Maurício e Guilherme, e também tinham participação dos sócios do frigorífico Bertin, Natalino e Silmar Roberto Bertin.
Em nota, o BNDES afirmou que não houve qualquer irregularidade nas operações, que possui garantias reais suficientes para fazer frente à dívida existente e que todas as medidas judiciais pertinentes para a recuperação do crédito foram tomadas pela instituição.
Vínculo político
Para os investigadores, está claro que o dinheiro de pelo menos uma operação conduzida por Bumlai, o empréstimo de R$ 12 milhões com o banco Schahin, era destinado ao PT. Neste caso, segundo a investigação, houve interferência direta de Delúbio Soares, tesoureiro do PT à época, e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Os procuradores, porém, ainda investigam quem eram os destinatários finais e se outras operações, como as do BNDES, também foram destinadas ao partido -num esquema semelhante ao adotado no mensalão. “A força-tarefa tem se esforçado para verificar o uso de qualquer empresa ou órgão público para a formação de caixa para partidos políticos ou para a base do governo”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, sobre a investigação no BNDES.
Uma das hipóteses é que o dinheiro dos empréstimos tenha sido direcionado para pagar dívidas das campanhas presidenciais de 2002 e 2006, quando Lula foi eleito. É o que dizem alguns dos delatores da Lava Jato -os policiais, no entanto, ainda investigam essa possibilidade.
O envolvimento do ex-presidente Lula, citado por alguns dos investigados e delatores, não foi comprovado até aqui. Segundo os procuradores, não há nenhuma evidência contra o político.
O Palácio do Planalto avalia que a prisão do pecuarista abre uma nova vertente de investigação na Operação Lava Jato, com foco no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e desdobramentos políticos sensíveis para o governo Dilma Rousseff.
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