Depois do desembarque da oposição, da perda de apoio entre aliados e do desconforto no PMDB, cresce a insatisfação na bancada do PT com a política de boa vizinhança mantida pelo Palácio do Planalto e pela direção petista com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) convocou uma reunião com deputados do PT descontentes para a noite desta segunda-feira (23).
Já o peemedebista, fiel ao seu estilo de se defender atacando, afirmou neste domingo (22) que é “furado” acharem que ele vai cair antes de decidir sobre o pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o que promete fazer antes do recesso parlamentar, que começa em 22 de dezembro. Cunha disse ainda que “não existe qualquer hipótese” de se afastar do cargo. “Furado é achar que vou cair. Mais furado ainda é achar que não vou decidir [sobre o impeachment]”, afirmou Eduardo Cunha ao GLOBO, por meio de mensagem de texto.
Ele disse que na semana passada arquivou sete outros pedidos e que faltam outros sete para avaliar, o que pode fazer a qualquer momento: “Não sei [se será na próxima semana]. Vai ser na medida do meu convencimento”.
O peemedebista ironizou as avaliações segundo as quais ele, isolado, pode cair antes e dar um refresco para a presidente Dilma. “Todos os dias, faz quatro meses, esses mesmos articulistas falam que vou cair e estou aqui”, respondeu.
A avaliação de governistas é que o clima para o impeachment esfriou e que a presidente ganha fôlego com o recesso parlamentar. A aposta é que, até fevereiro, quando o Congresso voltar a funcionar, Cunha já terá sido afastado do comando da Câmara e substituído por um aliado que enterre de vez a possibilidade de impeachment. Mas Cunha disse ontem que vai se decidir sobre os sete pedidos de impeachment ainda pendentes, inclusive o dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, antes do início do recesso.
Divergindo da orientação do Planalto e da direção partidária, mais da metade da bancada do PT quer partir para o enfrentamento com o presidente da Câmara. Dos 60 deputados petistas, 34 assinaram a representação contra Cunha protocolada pelo PSol e pela Rede no Conselho de Ética da Casa. “Quero que alguém me explique qual é o ganho de manter essa situação”, disse um dos convidados para a conversa com Wagner.
O Planalto e a direção do PT continuam tentando ganhar tempo, temendo que um confronto com Cunha prejudique o governo. A preocupação é que o presidente da Câmara revide com a abertura de um processo de impeachment e que a crise política prejudique a votação de medidas do ajuste fiscal.
Ao discursar na abertura da reunião do Diretório Nacional do PT, no último dia 29, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é mais importante aprovar as matérias de interesse do governo do que “derrubar” o presidente da Câmara. “O Eduardo Cunha de fato não deve ser nossa prioridade, assim como também não é da oposição. A prioridade da oposição é o impeachment. O problema é que a situação evoluiu para uma conduta tão intolerável que teve até levante no plenário”, disse um deputado do PT, referindo-se à reação, na última quinta-feira, à manobra de Cunha para obstruir os trabalhos do Conselho de Ética.
Deputados do PT reclamam por não terem sido consultados sobre a decisão de ajudar a não dar quórum para a sessão do Conselho de Ética, na última quinta-feira (19), embora sofram o desgaste gerado por essa medida. Segundo petistas, a articulação ficou restrita à direção do partido; ao líder da bancada, deputado Sibá Machado (PT); e aos integrantes do colegiado.
Em diversos setores do PT, há insatisfeitos com a exposição negativa, como o senador Jorge Viana (PT-AC). E ao menos um dos três deputados petistas no Conselho de Ética, Léo de Brito (PT-AC), não pretende mais faltar às sessões e garante que votará com “ética” no caso. Ele disse que ainda não decidiu como votará no processo, negou ter havido pedido por parte do governo para que o PT ajude Cunha e afirmou acreditar que o presidente da Câmara não fará “retaliação política” com o impeachment, se não for salvo pelo PT no Conselho de Ética. “Minha posição é pelo pleno funcionamento da Comissão de Ética”, disse outro petista, o deputado Paulo Teixeira, de São Paulo.
A situação do peemedebista se agravou consideravelmente na última quinta-feira )19), quando manobrou durante horas para impedir que a sessão do Conselho de Ética analisasse a admissibilidade do processo por quebra de decoro do qual é alvo.
A reação da oposição foi imediata, com duros discursos e o esvaziamento do plenário, e será intensificada esta semana, quando partidos oposicionistas ingressarão no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo o afastamento de Cunha da presidência da Casa. Está prevista ainda a obstrução das votações na Câmara enquanto Cunha continuar na presidência.
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