Lá se vão 31 anos desde a redemocratização no Brasil, e o PMDB esteve presente em todos os governos. Agora, decidiu apostar todas as suas fichas no impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) para deixar de ser apenas copiloto na condução do país. Em uma reunião de três minutos nesta terça-feira (29), o partido rompeu formalmente com a petista.
Sem um nome competitivo nacionalmente desde a morte de Ulysses Guimarães em 1992, os peemedebistas contam os dias para assumir a Presidência de maneira indireta pela terceira vez na Nova República – antes com José Sarney e Itamar Franco e, desta vez, com Michel Temer.
Plano de governo do PMDB propõe medidas amargas para a população
Leia a matéria completaCom a votação do processo de impeachment pré-agendada para o dia 17 de abril – um domingo de ruas provavelmente tomadas −, o PMDB calculou a decisão como golpe de misericórdia no governo Dilma. Sabendo da força que tem no Congresso, o partido saiu do barco petista e enterrou de vez o pouco que restava de governabilidade no Planalto.
Na prática, a curta história da Nova República mostra ser praticamente impossível governar sem o PMDB. Ao longo de três décadas, a legenda só não teve representação nos ministérios na reta final da gestão Fernando Collor, em 1992, e no primeiro ano de mandato de Lula, em 2003.
“O impeachment é a única maneira de o PMDB assumir a Presidência, já que eles não têm um candidato viável para 2018. Eles sabem que amanhã (quarta-feira) outros partidos vão segui-los e será o fim da linha para a Dilma”, avalia o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.
Mesmo nos momentos mais tensos, o PMDB jamais rompeu completamente com qualquer dos presidentes aos quais se aliou. Na primeira eleição vencida por Lula em 2002, por exemplo, apesar de ter indicado o vice na chapa de José Serra (PSDB), o partido demorou poucos meses para indicar ministros e compor o governo do petista. “O norte do PMDB é o poder. E agora, a oportunidade de atingi-lo é via impeachment”, afirma o cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUCPR.
Divisão interna
O desembarque do governo Dilma, no entanto, não significa que todos os 68 deputados peemedebistas votarão pelo afastamento da presidente. Além disso, dos sete ministros que a legenda tinha até segunda-feira (28), pelo menos três resistem em entregar o cargo: Kátia Abreu (Agricultura); Celso Pansera (Ciência e Tecnologia); e Marcelo Castro (Saúde).
Lava Jato e ações no TSE deixam possível governo Temer longe da estabilidade
Leia a matéria completa“O Temer apostou tudo no impeachment, numa medida extremamente oportunista. Fazemos parte do governo há mais de 12 anos e agora, às vésperas da votação do impedimento da presidente, da qual o partido será o maior beneficiado, há esse rompimento?”, critica, sob condição de anonimato, um dos 119 integrantes do diretório nacional do partido.
Base fragmentada
O reflexo mais esperado com a saída do PMDB do governo é o “efeito manada” sobre outros partidos, sobretudo PP, PSD e PR. Juntas, as três legendas somam importantes 121 deputados e podem definir o rumo da votação do impeachment contra a presidente Dilma.
“Sendo otimista, dou 5% de chance para ela [permanecer no cargo]. Até o fim de abril, entendo que o Senado vai afastá-la do mandato”, projeta o cientista político David Fleischer.
Sem o PMDB, o Planalto tentará recuperar em outros partidos os votos perdidos nesta terça-feira (29). Por ora, já são contabilizados cinco ministérios que serão incluídos no varejo: Turismo, Aviação Civil, Portos e Minas e Energia (todos ocupados por peemedebistas), além do Esporte, ainda ocupado por George Hilton (ex-PRB, hoje no Pros).
A intenção é distribuir os postos já na próxima semana para legendas como PP, PR, PSD e PEN. Pelos cálculos, com esses partidos, seria possível garantir 30 votos contrários ao impeachment que seriam dados pelo PMDB.
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