Sessão do Congresso que aprovou a meta fiscal: tucanos e petistas trocaram de papel.| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agênciia Brasil/Fotos Públicas

A primeira grande votação do Congresso durante o governo do presidente interino Michel Temer (PMDB) deu uma mostra do que serão os próximos meses em Brasília. PT e PSDB trocaram de posição na defesa e crítica do Planalto, mas mantiveram seu protagonismo nas discussões. Enquanto isso, o Centrão – grupo de partidos sem perfil ideológico definido e que estava no governo Dilma e agora está com Temer – serviu como “rolo compressor” e garantiu uma aprovação folgada da nova meta fiscal do governo federal.

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Apesar de, pela primeira vez em 21 anos, o governo não estar sob o comando do PT ou do PSDB, os dois partidos – além do PCdoB, legenda que sempre atuou próxima ao PT – protagonizaram o debate no Congresso. O PT, desta vez, fazendo o papel de oposição, enquanto o PSDB defendeu as medidas do novo governo.

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A votação era sobre a meta fiscal, mas como é de praxe a discussão abrangeu o contexto político em geral. O PT aproveitou a revelação de conversas do senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento – curiosamente, o responsável pelas alterações do orçamento – para criticar o governo.

“Nós não deveríamos estar realizando esta sessão no Congresso. Basta ver a repercussão internacional depois dessas gravações: The New York Times: ‘Transcrição sugere complô para afastar a presidente’; Die Zeit, jornal alemão: ‘Complô de Brasilia’; The Guardian, inglês: ‘Complô maquiavélico para derrubar a Presidenta da República’”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

As acusações foram retrucadas pelo próprio Jucá. “Assim como eu, no governo passado foi grampeado o ministro Aloizio Mercadante. E o que é que a Dilma fez? A Dilma manteve o Mercadante, que ofereceu dinheiro a quem estava querendo se esconder”, disse. Ele disse, ainda, que o governo interino recebeu uma “herança maldita” do governo Dilma.

Além disso, o PT tentou evitar que o projeto da meta fiscal fosse votado, argumentando que o projeto nem sequer foi analisado pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) – impedindo um debate aprofundado das medidas. Deputados e senadores do partido argumentaram, também, que a não apreciação do projeto pela CMO seria inconstitucional.

Já o PSDB criticou duramente a presidente afastada durante a sessão. “O mal que o PT causou ao Brasil ao longo desses últimos 13 anos, o mal que fez no governo, ele continua fazendo – agora na oposição”, criticou o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP). “Esse tipo de comportamento a sociedade brasileira não atura mais. Não há mais espaço para esse tipo de gente que só pensa em si, no poder e no seu partido.”

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Parlamentares tucanos também defenderam um projeto como uma proposta realista de orçamento. “Nós estamos recuperando a credibilidade, a transparência, mostrando o problema do tamanho que ele é. Isso é fundamental. Para quem quer tratar uma doença, é preciso diagnóstico e é preciso ter convicção sobre qual é o tamanho do problema. Hoje, é só o primeiro passo”, declarou o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).

Renan Calheiros

Presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL) foi bastante criticado pela nova oposição por, supostamente, ter favorecido o governo nas questões de ordem – e bastante elogiado pelo governo por permitir a votação rápida da matéria.

Em alguns momentos, ele chegou a bater boca com parlamentares da oposição. “Eu vou suspender a sessão por dois minutos para que a oposição não continue a protagonizar esse espetáculo que os senhores e as senhoras estão vendo aqui”, declarou, após pedido da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) para usar os vinte minutos regimentar, a despeito da decisão da Mesa de limitar o tempo dos discursos.