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É chegada a hora de o PMDB provar do próprio veneno. Depois de passarem vinte anos apoiando FHC, Lula e Dilma, os peemedebistas não fazem mais parte do governo. Eles são governo. E agora, do outro lado do balcão em Brasília, terão de enfrentar o “presidencialismo de coalizão” e a briga sangrenta entre os partidos por espaço na Esplanada. Caberá ao presidente em exercício Michel Temer contornar essa situação sem desagradar o Congresso, sob pena de colocar em risco as medidas necessárias para o país sair da crise e de ver o governo ruir a exemplo do que ocorreu com o PT.

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Presente em todos os governos desde a redemocratização em 1985, o PMDB jogou com o “presidencialismo de transação” – nas palavras do cientista político Antônio Flávio Testa, da UnB − ano a ano durante essas mais de três décadas. Invariavelmente dono das maiores bancadas na Câmara e no Senado, o partido sempre foi peça indispensável para aprovação de projetos cruciais para o Planalto em troca de favores na construção da base de apoio parlamentar. A importância da legenda para a Presidência da República fica evidente ao se analisarem os impeachments de Fernando Collor e Dilma Rousseff, praticamente decididos com o desembarque dos peemedebistas do governo.

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A própria Dilma, em abril do ano passado, recorreu à habilidade de Temer para tentar conduzir o pouco que restava de articulação política com o Congresso. De certa forma, agora na cadeira presidencial, ele voltará a esse papel. E já percebeu que não terá vida fácil. O que seria um “Ministério de Notáveis” para tirar o país do buraco já se transformou no velho emaranhado de siglas repartindo poder e espaço entre si. Dentro do próprio PMDB, há setores insatisfeitos por terem de abrir mão de espaço para aliados que ajudaram o partido a chegar à Presidência.

Análise

“O Temer assumirá com um governo aparentemente forte, mas não dará conta de atender as demandas da base se não mudar a lógica de atuação que o PMDB sempre se acostumou a utilizar. Costurar acordos no ‘toma lá, dá cá’ é o que o partido mais sabe fazer, mas esse DNA pode ser o grande vilão do PMDB e a razão do fracasso do novo governo, que terá problemas para construção e manutenção da base”, projeta Malco Camargos, cientista político da UFMG.

Para o também cientista político David Fleischer, da UnB, apesar da experiência que tem como ex-presidente da Câmara, Temer terá de apelar para a solidariedade dos partidos aliados – que não são poucos. Por ora, porém, nenhum deles tem se mostrado disposto a abrir mão de um espaço no novo governo, a ponto de o peemedebista vir batendo cabeça há semanas sobre o número de ministérios que terá. “Gerenciar esse cenário não será fácil, porque não sei se haverá essa solidariedade das outras legendas. O Temer conhece muito bem o Congresso, mas é preciso esperar para ver.”

Outro agravante, na visão de Camargos, é o ambiente muito mais conturbado em que Temer assume na comparação com o momento em que José Sarney e Itamar Franco foram alçados indiretamente à Presidência. “Há uma necessidade de superação de crise política e também econômica, além da existência de uma oposição forte do PT e de movimentos sociais. Não são todos que estão dispostos a apoiá-lo, ao contrário do que ocorreu com Sarney e Itamar. A situação é bastante delicada, apesar da expectativa positiva em torno do novo governo”, afirma.

Primeiras decisões no poder ditarão futuro do governo Temer

Em Brasília, muitos apostam que logo nos primeiros dias na cadeira presidencial Michel Temer tentará mostrar força. Para isso, deverá enviar Medidas Provisórias ao Congresso apostando que terá uma votação esmagadora, para mostrar ao país que conta com o apoio dos parlamentares para tirar o país da crise. Esse seria o melhor dos cenários.

Por outro lado, os mais pessimistas apostam que o enxugamento da máquina e a consequente redução na margem para o loteamento político podem azedar o relacionamento com a base de apoio. Além disso, lançar mão de medidas amargas e impopulares também jogaria os brasileiros contra o novo governo. Basta lembrar que pesquisa Ipsos feita no início de abril apontava que 62% dos brasileiros reprovavam a atuação de Temer como vice-presidente.

“É um momento muito diferente de quando ele foi presidente da Câmara, quando era mais fácil articular as coisas. Hoje, em meio ao impeachment, o papel dos parlamentares está mais valorizado”, afirma o deputado paranaense João Arruda (PMDB). “O Temer precisa dar respostas rápidas à sociedade para recuperar a credibilidade do governo, como cortar gastos e reduzir ministérios, e segurar a maioria na Câmara ao mesmo tempo. O risco que existe é o governo se tornar refém dos partidos representados no Parlamento, entrando no mesmo círculo vicioso que derrubou o PT.” (ELG)

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