Dos 109 mortos durante a semana passada durante o período de confronto entre policiais e o crime organizado em São Paulo, cerca de 30 podem não ser criminosos. A estimativa é do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, com base em relatos de famílias e casos que estão sendo colhidos em comunidades para serem investigados. O silêncio marca os trabalhos, pois boa parte dos parentes das vítimas teme se expor e acabar vítimas de perseguição.
Aos poucos, casos começam a surgir. Uma reportagem do Bom Dia São Paulo mostrou que a família do motorista Ricardo Flausino, de 22 anos, ainda está chocada com a morte do rapaz. Ele tinha ido buscar a noiva e foi morto com três tiros na nuca e três nas costas.
- Se tivessem perguntado ele diria que estava me esperando - diz a noiva, que não quis se identificar.
A Defensoria Pública está colocando à disposição de familiares de vítimas um plantão no Fórum Criminal da Barra Funda, para que os casos possam ser relatados e, a seguir, encaminhados à apuração. O defensor Antonio Maffezoli afirmou que o papel da Defensoria Pública será justamente o de orientar os parentes das vítimas nesta fase de apuração.
- As pessoas estão perdidas, não sabem o que fazer - diz Maffezoli.
O defensor afirmou que a polícia pode ser responsabilizada não apenas pela morte de inocentes. Ou seja, casos em que o morto não tinha qualquer antecedente criminal ou ligação com criminosos. Segundo ele, também os casos de execução sumária serão apurados.
- É preciso reafirmar que a diferença entre bandido e polícia é justamente por ela ter que atuar dentro da lei - diz Maffezoli.
De oito laudos do Instituto Médico Legal vistos pelo defensor Pedro Giberti, dois apresentavam indícios de execução, com tiros na nuca ou mãos.
- Mesmo em casos que os tiros não indicam execução. Ou seja, não são dados pelas costas ou na cabeça, é preciso analisar como se deu o confronto. Se a pessoa foi morta depois de dominada, isso caracteriza abuso por parte da polícia - explica Maffezoli.
Tanto em casos de vítimas totalmente inocentes como criminosos mortos depois de dominados pela polícia são passíveis, se comprovado o fato, de indenização por parte do Estado. É
O promotor Carlos Cardoso afirmou que o Ministério Público de São Paulo só vai se pronunciar depois que receber das polícias Civil e Militar, assim como os laudos do Instituto do Médico Legal. Nesta segunda-feira, o Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público determinou prazo de 72 horas para que as polícias Civil e Militar de São Paulo encaminhem a lista dos mortos e os boletins de ocorrência correspondentes aos confrontos ocorridos entre os dias 13 e 18 passados. O prazo começa a contar a partir desta terça-feira. A Secretaria de Segurança Pública informou que só vai se pronunciar depois de notificadas as polícias.
Para Cardoso, é a falta de transparência que gera suspeitas e dúvidas. Segundo ele, se houvesse uma 'postura mais republicana e democrática' por parte da Secretaria de Segurança Pública, talvez não houvesse suspeitas.
Deixe sua opinião