Parado no Conselho de Ética há mais de uma semana o processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve um dia de trapalhada. Indicado para relatar o caso, o senador Renato Casagrande (PSB-ES), em conversa por telefone, ouviu do novo presidente do colegiado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), que precisava de mais tempo para conversar com a consultoria jurídica do Senado antes de indicar o relator. Casagrande entendeu que o convite havia sido retirado e foi embora. Quando já estava no aeroporto, recebeu uma ligação de Quintanilha, na qual este explicou que o convite esta mantido.
Depois da trapalhada, Quintanilha negou que tenha desconvidado Casagrande por pressão dos aliados de Renan, acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista.
Ele explicou que só decidiu fazer uma consulta à assessoria jurídica do Sendo para saber se existe alguma irregularidade no processo antes de escolher o relator.
- A dúvida é a competência do Conselho. Essa é a grande dúvida. Eu quero uma consultoria para me auxiliar. Eu não mudei de idéia, eu não o desconvidei - afirmou Quintanilha.
No retorno ao Senado, Casagrande disse que aguarda uma conversa com Quintanilha para dar uma resposta final, deixando dúvidas se aceitará o cargo.
- Viver esse efeito sanfona não dá, de retirar convite, refazer convite. Agora vou avaliar para ver se vou ser relator, com presidente indo e voltando na posição, tem algo bem definido? Isso tem que ser bem avaliado - disse Casagrande ao chegar a seu gabinete.
Antes de ter o nome confirmado, Casagrande ficou Indignado e chegou a protestar.
- Apesar de ter me convidado ontem, ele resolveu tomar outra atitude hoje. Quer fazer primeiro uma consulta à consultoria legislativa do Senado para saber se o proceso tem alguma impropriedade. Eu aceitei o convite desde cedo, mas cabe a ele escolher o relator. Ele é que tem que responder por essa atitude. Não falta relator para o processo - afirmou.
Para Casagrande, a indefinição desmoraliza ainda mais o Senado. Segundo ele, a única saída para Renan é a investigação, para que ele possa provar sua inocência.
- O Conselho desmoralizado é o Senado desmoralizado. Se não arrumarem uma saída, o ambiente no Senado vai piorar. A única saída para o Renan é a investigação, para que possa provar sua inocência. A indefinição, a demora para nomear o relator passa para a sociedade um sentimento de total fragilidade do Senado - afirmou Casagrande antes de deixar o Congresso.
Casagrande disse ainda que não há como encaminhar o processo para o Supremo Tribunal Federal (STF), já que é um processo por quebra de decoro parlamentar. Ele alegou que não pretendia fazer julgamento precipitado do caso, mas apenas aprofundar as investigações.
O fato do senador do PSB ter dito que quer fazer "um trabalho sério", sem rito sumário e com a conclusão da perícia da Polícia Federal (PF) teria irritado aliados de Renan, que ficaram com medo de Casagrande "fugir do controle".
Depois de assistir a renúncias em série, primeiro de dois relatores e por fim do presidente Sibá Machado, o Conselho enfrentou, à noite, um embate entre governistas e oposição, na luta para garantir o comando do processo contra Renan. Quintanilha derrotou o tucano Arthur Virgílio (AM) por nove votos a seis.
O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), chegou a propor a formação de uma comissão de três senadores, com Casagrande, um petista e o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), que já analisou os documentos de Renan. A idéia também foi defendida pela líder do PT, Ideli Salvatti (SC).
Lula chama Renan no Planalto e vai lutar por ele
Apesar de a situação do presidente do Senado estar se complicando a cada dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu entrar na briga para defender a manutenção de Renan no cargo. Na manhã de quarta-feira, Lula recebeu Renan no Palácio do Planalto. Nesta quinta, na cerimônia em que reconduziu Antonio Fernando de Souza ao cargo de procurador-geral da República, e com Renan na platéia, Lula pediu cautela à PF e ao MP com a divulgação de informações e afirmou que todos são inocentes até que se prove o contrário. Desde o início da semana, Lula está intervindo junto aos senadores petistas, pedindo que dêem apoio ao presidente do Senado. Entre os governadores que também receberam esse apelo do presidente estão o tucano Cássio Cunha Lima (PB) e os petistas Marcelo Déda (SE) e Jaques Wagner (BA).
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