A propina cobrada de fornecedores da BR Distribuidora variava entre 5% e 10% do valor dos contratos, os quais, segundo investigações da Operação Lava-Jato, eram superfaturados para garantir lucro maior às empresas e repasse de "comissões" a diretores da própria empresa, da Petrobras e agentes públicos.
O modelo da corrupção era o mesmo adotado na matriz: os fornecedores faziam pagamentos a empresas de fachada, por meio de falsos contratos de prestação de serviços, e um operador era encarregado de fazer a distribuição entre os beneficiados.
Notas e contratos falsos, firmados entre 2013 e 2014, mesmo depois de março, quando foi deflagrada Lava Jato, foram apreendidos na Arxo, fabricante de caminhões-tanque e tanques de armazenamento de combustíveis para aeroportos localizada no Norte de Santa Catarina, maior empresa envolvida na nova fase da operação - a nona deflagrada no âmbito da Lava-Jato, batizada de My Way.
Entre as 26 empresas alvo de mandados de busca e apreensão na quinta-feira, quatro eram ligadas ao operador Mário Goes, que teve prisão preventiva decretada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba. Elas eram usadas para emitir notas e fechar contratos sem prestar serviços. Goes não foi encontrado e é considerado foragido pela Polícia Federal. De acordo com a investigação da PF, Goes atuava tanto na diretoria de Serviços da Petrobras, na distribuição de dinheiro para o ex-diretor Renato Duque e para João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, quando na BR Distribuidora, cujos beneficiários ainda são investigados.
A Polícia Federal chegou a Goes unindo depoimentos de delação premiada de Pedro Barusco Filho, ex-gerente da Diretoria de Serviços e gerenciador também da propina, que dividia com Renato Duque, a informações passadas voluntariamente por um ex-funcionário da Arxo. Na quinta-feira, 1.400 documentos, entre eles notas e contratos, foram apreendidos pela PF nos escritórios da Arxo e de uma empresa de arquivos terceirizada. Grande quantidade de dinheiro foi apreendida em fundos falsos de móveis na sede da Arxo e será levada para contagem e depósito na Caixa Econômica Federal nesta sexta-feira.
Segundo os investigadores, a Arxo pagou propina no fechamento do contrato no valor de R$ 85 milhões, fechado em outubro passado para fornecer 80 caminhões-tanque à BR Distribuidora. Há expectativa que os três representantes da empresa, que tiveram prisão temporária decretada, colaborem nas investigações. Dois deles foram presos quinta-feira - Gilson Pereira, sócio, e Sérgio Marçaneiro, diretor financeiro - e João Gualberto Pereira. Outro sócio, João Gualberto Pereira, se apresentou na tarde desta sexta-feira, após chegar de viagem aos Estados Unidos.
Além da BR-Distribuidora, a Polícia Federal já tem indícios de cobrança de propina na Transpetro, em obras realizadas no Ceará, e na Sete Brasil. O delator Pedro Barusco Filho afirmou que a propina era "parte da relação" com os fornecedores. A Polícia Federal está convencida que o mesmo "modelo de negócio" era adotado em todas as subsidiárias da empresa.
O advogado Charles Zimmermann, que representa os dirigentes da Arxo, afirmou que a empresa nunca pagou propina e sequer conhecia representantes da BR Distribuidora, pois fechava os contratos por pregão eletrônico. Segundo ele, no contrato fechado em outubro passado, a Arxo foi a terceira colocada e os dois primeiros colocados foram inabilitados, pois, além de preço, é necessário também capacitação para o fornecimento.
Não existia propina. Não precisava nem ir na sede da empresa para fornecer, pois o pregão eletrônico é impessoal - afirmou o advogado.
Sobre o dinheiro apreendido em fundos falsos na empresa, Zimmermann disse que os valores eram mantidos ali para pagar despesas do dia a dia e o pro labore dos sócios. Ele afirmou que um dos sócios também guardou na empresa dinheiro pessoal, pois o apartamento dele estava sendo reformado. Entre os valores estavam, além de reais, dólares e euros.
Ele estava reformando e ficou com medo de deixar na casa dele. Mas o maior dinheiro era para pagar despesas do dia a dia - disse Zimmermann, acrescentando que os sócios da Arxo desconhecem a figura do operador Mário Goes.
Empresário é apontado como um dos principais operadores do esquema
Apontado por Pedro Barusco Filho entre os principais operadores de propina na diretoria de Serviços da Petrobras, o empresário Mário Goes atuou em contratos que somaram pelo menos R$ 10 bilhões, com desvio estimado entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões entre 2007 e 2010. Segundo o ex-gerente da área de Serviços, que foi comandada por Renato Duque até 2012, Goes repassou o dinheiro por 14 empresas que fizeram obras para a estatal, entre elas OAS, Mendes Junior, acusadas de formação de cartel.
A Polícia Federal espera encontrar nos documentos apreendidos nesta quinta-feira provas de participação no cartel de grandes empreiteiras que, até agora, aparecem apenas como acusadas de fraudar a Petrobras e distribuir propinas.
Numa planilha entregue por Barusco, aparecem pelo obras de pelo menos quatro gasodutos (Urucu-Manaus (AM), Cacimbas-Vitória (ES), Osório-Canoas (RS) e Cacimbas-Catu (BA), do Oleoduto São Sebastião/Vale do Paraíba (SP), além de terminais - Terminal de Utinga, em Barueri (SP), Terminal Aquaviário de Barra do Riacho - e da unidade de Nafta da Replan.
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