O nome do veterinário Flávio Turquino apareceu nos depoimentos de colaboração premiada da Operação Lava Jato neste final de semana, mas ao contrário dos demais envolvidos no caso, foi citado por ter se recusado a fazer parte do esquema. Ele foi mencionado nos depoimentos de Alexandre Margotto, que era ligado a Lúcio Bolonha Funaro – apontado como operador financeiro do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB). O conteúdo foi exibido com exclusividade pelo Fantástico deste domingo (19).
Paranaense, Turquino é formado em medicina veterinária pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1998 e cursa MBA em gerenciamento de projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente mora em Londrina, no interior do estado, onde é diretor da empresa Campo Verde, especializada em fornecimento de carnes congeladas. Turquino trabalha na empresa desde 2013. A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com a companhia, mas foi informada que Turquino está em uma viagem de negócios ao exterior.
Flávio Turquino foi indicado para o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Ministério da Agricultura em agosto de 2013. À frente do Dipoa, Turquino teria como atribuição dirigir toda equipe de Fiscais Federais Agropecuários que desempenham suas funções em frigoríficos, indústrias de laticínios, entrepostos de pescados, ovos e mel.
A indicação teve o aval de Funaro e do ex-deputado Eduardo Cunha e tinha como objetivo atender a um pedido do empresário Joesley Batista – presidente da J&F, que controla o frigorífico JBS –, que queria ter uma pessoa de confiança indicada ao cargo, que seria estratégico para seus negócios.
A nomeação, porém, enfrentou resistência dos fiscais federais. Isso porque o veterinário havia sido gerente de exportação da Agrícola Jandelle S.A. (Big Frango) e ter passagem por outras empresas como a Cargill – empresas estas fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura.
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O presidente do Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) à época, Wilson Roberto de Sá, chegou a dizer que a nomeação “confirma as suspeitas de que a Defesa Agropecuária será utilizada para arrecadar fundos para as campanhas eleitorais do próximo ano”. A categoria reclamava que os principais cargos da Defesa Agropecuária foram entregues à iniciativa privada – e não a técnicos de carreira da pasta.
No dia 7 de outubro de 2013, a exoneração, a pedido de Turquino, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). Na época, o então ministro Antônio Andrade (PMDB-MG) justificou a saída afirmando que Turquino recebeu convite mais compensador economicamente de uma empresa privada - a Campo Verde.
A delação de Margotto, porém, conta uma história diferente. Segundo o delator, Turquino não aceitou as condições do esquema e pediu demissão. “Alguma operação que eu não sei te dizer, o Flávio ficou absurdado. Falou ‘não vou fazer’. ‘Tenho uma família, não preciso de dinheiro, eu prezo por fazer as coisas certo. Não quero estragar o nome da minha família’”, disse Margotto, na delação premiada.
A delação de Margotto foi homologada pelo juiz federal Vallisney Oliveira, da Justiça Federal de Brasília. Nos depoimentos, o delator deu mais detalhes de como funcionava o esquema de corrupção montado dentro da Caixa Econômica Federal.