O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesta quinta-feira (31) que o PMDB agiu de forma “precipitada” e “não foi inteligente” ao realizar a reunião do diretório nacional na última terça-feira e aprovar o desembarque do governo Dilma Rousseff. Renan adotou abertamente um tom crítico à decisão da cúpula do partido e lembrou que havia um acordo feito com o vice-presidente Michel Temer. O PMDB do Senado, em sua maioria, era contra a antecipação da reunião do diretório, que inicialmente seria dia 12 de abril.
“Essa reunião do PMDB, sem dúvida, foi uma reunião precipitada. O que significa em outras palavras, em bom português: não foi um bom movimento, um movimento inteligente. Independentemente do que vai haver com relação aos ministros (se deixarão o governo ou não), acho que foi um movimento pouco calculado, (pouco) inteligente. É evidente que isso precipitou reações em todas as órbitas: no PMDB, no governo, nos partidos da sustentação, nos partidos da oposição”, disse Renan.
O senador afirmou que havia um acordo para que na convenção nacional do PMDB, realizada em 12 de março, se elegeria uma chapa de consenso, encabeçada por Michel Temer, e apenas isso. Mas, ao final do encontro, foi aprovada a moção dando prazo de 30 dias para os peemedebistas deixarem cargos. A ideia era voltar ao assunto no dia 12 de abril, mas aliados de Temer e pró-impeachment anteciparam o encontro para terça-feira (29). Nos bastidores, Renan e outros senadores se sentiram traídos.
“Havia um acordo na convenção partidária que elegeu a chapa única que as moções seriam apreciadas apenas pelo diretório e não naquela convenção. Mas a convenção surpreendeu a muitos votando a moção e como consequência de votação da moção realizou a reunião do Diretório Nacional para definir com relação ao afastamento do governo”, disse ele.
Em mais uma crítica à cúpula, Renan disse que a radicalização de posições não é boa para a democracia. “Na medida em que você permite a radicalização das posições, você deixa de defender o interesse nacional e, quando você abre os olhos apenas para a disputa de poder e fecha os olhos para a defesa de valores como a democracia, a liberdade, a governabilidade, você, sem dúvida, inverte os papéis.”
Mas o presidente do Senado disse que, em qualquer governo, o PMDB será sempre um partido da base. “Não acredito que o PMDB, seja qual for o cenário, vá liderar uma corrente de oposição no Parlamento. A maioria parlamentar está tão difícil e será mais difícil se dela se ausentar o PMDB.”