Sarney quebra decoro em episódio de atos, diz oposição
A notícia de que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sabia da existência dos atos secretos desde o fim de maio reforçou o discurso da oposição em favor do afastamento do peemedebista.
A avaliação é a de que fica caracterizado mais um indício de quebra de decoro parlamentar, já que Sarney mentiu ao dizer da tribuna que não sabia o que era um ato secreto, após o esquema de boletins ocultos ter sido revelado pelo Estado em 10 de junho.
A informação de que Sarney já sabia dos atos foi noticiada ontem pelo Estado, em entrevista com o ex-diretor de Recursos do Senado Ralph Siqueira. Segundo ele, todos os seus superiores foram avisados. A conversa com Sarney teria acontecido entre os dias 28 e 29 de maio.
Siqueira disse que, no despacho, informou Sarney de que havia sido criada uma comissão para investigar os atos, já que havia indícios de omissão deliberada.
"Se este fato se comprovar, está caracterizada a quebra de decoro. Para nós, este elemento sozinho já seria suficiente", reagiu hoje o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). "Isso acrescenta mais uma motivação à nossa intenção de votar a favor da abertura dos processos contra ele."
Após a declaração do ex-diretor Ralph Siqueira ao jornal O Estado de S.Paulo, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) admitiu neste sábado que soube em maio da descoberta de atos secretos na Casa. Em discurso na tribuna em 16 de junho, Sarney foi taxativo: "Eu não sei o que é ato secreto". Em entrevista ao "Estado", Siqueira disse que avisou Sarney, num encontro entre 28 e 29 de maio, da existência de atos secretos.
O senador confirmou também outra declaração dada por Siqueira: a de que todos os atos secretos foram publicados, sem alarde, entre abril e maio deste ano. A manobra só foi revelada em reportagem do "Estado" no dia 10 de junho. Em sua nota, Sarney não explica os motivos que levaram a administração da Casa a inserir mais de 500 atos secretos de maneira encoberta e sem qualquer investigação preliminar, inclusive antes dos trabalhos da comissão de sindicância que analisou o assunto.
O senador diz, na nota, que a declaração de Siqueira - ex-diretor de Recursos Humanos - "não constitui nenhuma novidade". Assessores de Sarney entraram em contato com Ralph Siqueira neste sábado. Negociaram com ele a divulgação de uma nota oficial por parte do servidor para tentar amenizar o impacto da entrevista dada ao "Estado". Siqueira deve sofrer um processo disciplinar por ter publicado os atos secretos na surdina. Ele avalia agora apresentar uma versão que não prejudique Sarney e, por outro lado, o ajude no processo disciplinar dentro do Senado.
Sarney afirma também que, na data de seu discurso em 16 de junho já havia recebido o relatório final da comissão que analisou os atos secretos: "Em 16 de junho, esta Comissão encerrou seus trabalhos". O presidente do Senado recebeu, no máximo, um relatório preliminar. A comissão encerrou seus trabalhos no dia 19 de junho, três dias depois de seu discurso. Naquela sexta-feira, a servidora Dóris Peixoto, integrante da comissão na época e hoje diretora de Recursos Humanos, entregou a assessores do senador o relatório e um CD com os atos secretos. A conclusão dos trabalhos foi divulgada à Mesa Diretora somente no dia 23, uma semana depois do discurso de Sarney.
Protestos pelo país
Protestos pela saída de José Sarney (PMDB-AP) da Presidência do Senado foram realizadas em diversas capitais do país. Em Curitiba, cerca de 70 estudantes foram para as ruas pedir a saída de Sarney. Os estudantes carregavam faixas, apitos e usavam nariz vermelho de palhaço. O slogam da passeata era "Fora Sarney". A mobilização se concentrou no Centro Cívico.Outras capitais como Brasília (DF), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Recife (Pernambuco) tiveram manifestações.