Atualizado em 01/01/2007 às 19h57
O governador de São Paulo, José Serra, prometeu ousar e enfrentar interesses à frente do Palácio dos Bandeirantes em discurso de posse feito na Assembléia Legislativa. O tucano, eleito com 12 milhões de votos, 57,83% dos votos do estado, afirmou que o Brasil vive um período de crise de valores. Segundo ele, não se trata de uma indisposição passageira ou simples pane, mas de 'uma crise moral que prospera numa economia onde faltam empregos e sobra estagnação'.
Serra afirmou que a crise política que 'se alimenta da teimosa incoerência entre os discursos e as ações na vida pública' e começou o discurso lembrando o Winston Churchill, primeiro-ministro britânico considerado exemplo de estadista, para quem a democracia é o pior de todos os regimes políticos, à exceção de todos os outros. Segundo Serra, a ineficiência crônica, a corrupção, o compadrio e o fisiologismo desmoralizam a democracia. Aos paulistas, ele prometeu um governo ético, sem o loteamento de cargos que traz 'ineficiência e estimula a corrupção'.
O novo governador disse que, em sua gestão, São Paulo não ficará indiferente às questões nacionais e lembrou que no estado estão um quarto da população brasileira, um terço do Produto Interno Bruto (PIB) e mais de 40% da indústria nacional.
- Aqui são recolhidos até a metade dos principais tributos federais. Para que o Brasil vá bem, é preciso que São Paulo vá bem. E para que São Paulo vá bem, é preciso que o Brasil vá bem - disse.
Serra prometeu transformar São Paulo num exemplo de políticas sociais responsáveis e inclusivas, de batalhas pela segurança, pelo emprego e desenvolvimento. Por duas vezes, disse que fará um governo solidário com as demais regiões do país.
- Meu governo vai procurar convencer, não cooptar. Vamos buscar a maioria para realizar um programa, não para viver o conforto de não ter adversários
Ao falar sobre seu estilo de governo, afirmou que na escolha dos secretários não houve loteamento de cargos. (Veja aqui quem são os secretários de Serra) . Deu ainda recado aos aliados e opositores:
- Não estamos fazendo e nem faremos loteamento no segundo escalão.
O novo governador afirmou que vai propor à Assembléia Legislativa uma ação pela ética, pelo desenvolvimento e pela Justiça social, quando novamente voltou a falar em solidariedade em relação ao restante do país.
- Sem cooptação nem barganhas fisiológicas, com uma situação responsável e uma oposição sadia e vigilante.
No quesito segurança, Serra prometeu fazer da segurança das pessoas uma prioridade em seu governo e enfrentar o crime organizado. Outras prioridades, afirmou, serão a saúde e a educação.
O novo governador encerrou o discurso dizendo que São Paulo 'é a terra da liberdade', que acolheu imigrantes, incluindo seus familiares, é a dialética de um estado das contradições e da superação. E acrescentou que não tem medo do novo, nem de inovar.
- Não há bom governo na história que não tenha ousado, Eu vou ter a coragem de ousar, enfrentando interesses quando for preciso, aumentando o controle do estado pelo estado e estimulando o controle do estado pela sociedade, pelo povo - afirmou.
Depois da Assembléia Legislativa, Serra seguiu para a cerimônia de transmissão de cargo no Palácio dos Bandeirantes, onde são esperadas 2 mil pessoas.
Serra é o 35º governador no pleito republicano, eleito por voto direto. Ele venceu já no primeiro turno das eleições com 57,93% dos votos válidos e manteve a hegemonia do seu partido, o PSDB, que está há 11 anos no poder. Seu primeiro cargo executivo foi como prefeito de São Paulo, em 2004, mas o tucano ficou pouco mais de um ano à frente da Prefeitura. Deixou o cargo em meados de 2006 para disputar o governo paulista. Antes, disso, disputou a presidência da República em 2002, com Lula, e foi ministro da Saúde no governo de Fernando Henrique.
Com 64 anos, Serra começou a vida política cedo. Foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1963, e depois partiu para o exílio, no Chile, em 1964, para fugir da ditadura. É economista por formação. O retorno ao Brasil ocorreu em 1978, quando participou do governo de Franco Montoro, eleito em 1982 pelo PMDB. Ele é um dos fundadores do PSDB, junto com Franco Montoro, Fernando Henrique e Mário Covas.
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