Atualizado em 12/07/06 às 16h03 Exatos dois meses depois de iniciada a primeira onda de ataques do crime organizado, São Paulo voltou a viver uma segunda onda de horror nesta quarta-feira. A violência chega a superar a de maio, por estar concentrada num único dia. Os ataques começaram na madrugada e 53 alvos foram atingidos. Sete pessoas foram mortas. Apenas duas delas eram policiais militares. Duas eram civis e três eram vigilantes de empresas particulares.
Alvos civis foram eleitos pelos bandidos para protestar contra o governo. Metade dos ataques foram feitos a ônibus e bancos ou caixas eletrônicos. Até meio-dia, 16 ônibus foram queimados, 10 bancos atacados - entre agências e caixas eletrônicos - três casas de policiais militares sofreram atentados, além de dois imóveis públicos, o sindicato da construção civil, dois supermercados, cinco revendas de veículos e uma loja. Também foram alvejadas duas bases da polícia militar, três delegacias, dois locais de vigilância privada e um prédio do poder judiciário.
Os dois civis mortos sãoRita de Cássia Lorenzi, de 39 anos, assassinada com um tiro na cabeça ao aparecer na janela quando seu irmão, um policial militar, estava sendo executado. Em São Vicente, o filho de um ex-carcereiro também foi baleado e morreu.
Os ataques continuam e a última morte ocorreu no meio da manhã, quando um policial, da Polícia Científica, foi baleado em casa e morreu no Mandaqui, zona norte. Um ônibus foi incendiado em Ferraz de Vasconcelos e o Centro de Cidadania do Jaçanã, na zona norte, foi alvejado por tiros. Ninguém ficou ferido. Em Guarulhos, mais ataques a ônibus resultaram num incêndio que atingiu a rede elétrica e assustou os moradores da rua onde o veículo foi parado.
Motivos
Entre os motivos do recrudescimento dos ataques estariam a prisão de um líder da quadrilha que atua em presídios paulistas e a situação em penitenciárias do estado. O homem preso é Emivaldo Silva Santos, conhecido como BH.Na porta dos supermercados atacados na capital foram colados bilhetes contra a situação carcerária no estado.
A primeira morte foi a do soldado Odair José Lorenzoni da Força Tática do 18º Batalhão da PM, irmão de Rita de Cássia. Ele foi morto a tiros em frente à casa, na Vila Nova Cachoeirinha, nos primeiros minutos da madrugada. Um policial militar, que foi até o local, atender a ocorrência ficou ferido, após trocar tiros com os criminosos.
No Guarujá, no litoral paulista, dois vigilantes de uma empresa particular de segurança foram mortos. Um deles trabalhava numa escola e o outro no Instituto Médico Legal da cidade.
Em São Paulo, duas bases da Guarda Civil Metropolitana foram atingidas por disparos na zona leste. Uma delas, em Cidade Tiradentes, foi atacada duas vezes no intervalo de apenas 20 minutos. Ninguém ficou ferido. Em Suzano, na Grande São Paulo, o 2º Distrito Policial da cidade foi metralhado.
Ataques a supermercados e agências bancárias também movimentaram a polícia e o Corpo de Bombeiros. Em Santos, uma agência foi incendiada e depredada. Na capital paulista, os bombeiros foram acionados para atender a uma ocorrência de incêndio em um banco na zona sul. Dois supermercados na região central tiveram as fachadas atingidas por disparos. Os criminosos colocaram cartazes onde estava escrito "contra a opressão carcerária".
Nas duas últimas semanas 15 pessoas - entre agentes penitenciários, policiais civis e militares e um segurança da Justiça Federal - foram assassinados em São Paulo. O ritmo foi de uma morte por dia . Em apenas quatro casos, os crimes podem não estar diretamente ligados à atuação do crime organizado no estado, pois as mortes ocorreram em assaltos. Nos demais, a polícia trabalha com a hipótese de emboscadas.
Segunda onda
Esta é a segunda onda de ataques à segurança pública e penitenciária desde maio, quando 39 servidores públicos (entre PMs, policiais civis, guardas civis metropolitanos e agentes) foram mortos durante na semana que ficou conhecida como 'semana do horror', entre os dias 12 e 20.
Nos últimos 15 dias, os criminosos começaram atacando os agentes penitenciários. Em atentados isolados eles mataram cinco servidores. A estratégia mudou neste fim de semana e o alvo passou a ser policiais.
Assustados com as mortes de colegas, os agentes passaram a mudar sua rotina e até a se disfarçar com roupas de pedreiro para ir ao trabalho. Os assassinos passaram então a visar os policiais militares.
Na madrugada desta terça-feira, dois homens em uma moto Honda Twister preta jogaram um artefato explosivo contra a sede da 1ª Companhia do 3º Batalhão da Polícia Militar, no Jabaquara, zona sul de São Paulo, na madrugada desta terça-feira.
A bomba explodiu na frente da porta no pátio, mas não feriu nenhum dos PMs que estavam de plantão no local.
Na manhã desta terça-feira, o alvo foi o filho de um carcereiro e durante a madrugada uma base da PM foi atacada. Segundo a secretaria de Segurança Pública, o filho do carcereiro, identificado como Douglas Konishi de Souza, de 23 anos, andava pela rua com a mulher quando atiradores dispararam várias vezes contra ele de dentro de um carro. O atentado ocorreu por volta de 6h30 e o rapaz morreu. O caso foi registrado no 35º Distrito Policial do Jabaquara, mesmo local em que motoqueiros jogaram bombas.