Em pronunciamento no plenário do Senado para explicar sua renúncia, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), disse que fez tudo o que podia para dar um andamento adequado ao processo aberto contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de ter as contas pagas por um lobista e de apresentar documentos irregulares para comprovar que pagou suas despesas com recursos próprios.

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Sibá fez questão de dizer que a responsabilidade deveria ser de todo o Conselho, e não apenas dele. Disse ainda que, ao perceber que os trabalhos estavam contaminados por interesses que vão além dos objetivos da representação do PSOL que deu origem ao processo contra Renan, entendeu que era melhor se afastar.

- Acredito que foi visível meu esforço para fazer com que os trabalhos não fossem paralisados - disse.

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Sibá voltou a explicar que não escolheu um membro da oposição para relatar o processo porque o regimento interno, amparado na Constituição, prevê que cabe ao bloco majoritário, liderado pelo PMDB, fazer a indicação. Disse também que não indicou um senador do PT porque entendeu não ser justo que um mesmo partido acumulasse a presidência e a relatoria do Conselho de Ética.

- Não escolhi um senador do PT porque não seria justo meu partido assumir as duas tarefas: a relatoria e a presidência do Conselho - afirmou.

O petista disse ainda que fez de tudo para não passar a impressão de que fazia "corpo mole" à frente do colegiado. Também fez questão de dizer que lealdade não deve ser confundida com subserviência.

Futuro do Conselho deve ser pauta da reunião

Uma reunião do colegiado está marcada para a tarde desta quarta. A pauta, entretanto deve ser modificada. Em vez de votar os pareceres sobre o caso Renan, os integrantes do Conselho de Ética devem decidir o futuro da comissão. O vice-presidente do Conselho, Adelmir Santana (DEM-DF), assumiria interinamente o cargo.

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A bancada do PSDB já decidiu lançar o líder do partido, Arthur Virgílio (AM) como candidato à vaga. Para tornar a candidatura possível, a titular do conselho Marisa Serrano (PSDB-MS) seria substituída por Virgílio, que é suplente. A candidatura do tucano já tem o apoio do DEM.

Para relator, Virgílio defendeu Aloizio Mercadante (PT-SP). O partido pretende votar no plenário ainda nesta tarde a inclusão do nome de Virgílio. O tucano negou que o bilhete que recebeu terça-feira de Renan, em que o presidente do Senado pede que Virgílio o ajude, possa comprometer suas ações se eleito presidente do conselho.

- Me sinto isento, não é um bilhetinho que vai me fazer mudar de posição. Nem a mídia toda me pressiona. Espero que a eleição aconteça hoje. Não podemos prolongar o que já está sendo uma agonia para o Congresso Nacional - afirmou.

Renan elogiou nesta tarde a indicação de Virgilio.

- Eu não tenho discutido as decisões do conselho, mas o Arthur Virgílio é um grande nome, um grande quadro e um grande amigo. Ele tem condições de ocupar qualquer cargo - disse.

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Renan elogiou também Mercadante.

- O Mercadante é um homem honrado e isento - afirmou.Senadores do PT elogiam trabalho de Sibá

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), saiu em defesa de Sibá. Segundo ela, o colega de partido não tinha outro caminho a adotar diante da falta de sustentação política que deveria ser dada pelo conjunto do Conselho.

- A partir do momento que o coletivo da Casa não dá as condições, acho que Vossa Excelência não tinha mesmo o que fazer - afirmou.

O senador Tião Viana (PT-AC), que teria irritado Sibá ao sugerir que ele deveria renunciar, também saiu em defesa do colega, afirmando que o processo político dirigido pelos partidos prejudicou os trabalhos do Conselho. E falou da importância de respeitar o regimento interno:

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- Não se pode abrir a pressões políticas quando se tem essa responsabilidade - disse.Lula recebe Renan para discutir a crise

Indagado nesta quarta sobre a renúncia Sibá, Renan absteve-se de comentários:

- Essa coisa do Conselho de Ética não é comigo. É com o Conselho de Ética. Qualquer coisa com relação a isso, pergunte ao Conselho de Ética.

O presiente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - Agência SenadoRenan disse que está havendo politização de seu processo e fez uma crítica velada ao DEM, que pediu na terça seu afastamento da presidência até a conclusão do processo. Sem citar o nome do partido, Renan disse que o Conselho de Ética tem que votar de acordo com os dados do processo por quebra de decoro, e não movido por influência política.

Renan se reuniu nesta manhã com presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em seguida, encontrou-se com o vice-presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC), e com a líder do PT, Ideli Salvatti (SC). Nos dois encontros, foi feita uma avaliação do quadro político do Senado na qual prevaleceu o entendimento de que o posicionamento adotado pelo DEM ao pedir o afastamento de Renan da presidência antes que se concluam as investigações no Conselho de Ética levou a questão para o campo da luta política.

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- Todos sabemos que o que se está em jogo não é a ética, mas a governabilidade e a luta política - disse Ideli.

Durante a reunião entre Renan e Lula, o processo enfrentado pelo peemedebista foi comparado à crise na Câmara quando esta era presidida por Severino Cavalcanti (PP-PE). Na época, a oposição pediu a renúncia do ex-deputado. Segundo o entendimento da reunião, com o posicionamento assumido ontem pelo DEM, a oposição estaria tentando agora conquistar a presidência do Senado.

A saída de Sibá é a terceira renúncia ligada ao caso; antes, Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Wellington Salgado (PMDB-MG) haviam desistido de relatar o processo, que cada vez atrasa mais.