Sindicatos pedem CPI

A Frente Popular contra a Corrupção, formada por sindicatos e movimentos populares de Curitiba, iniciou nesta segunda-feira (29) uma série de manifestos com o objetivo de mobilizar a população para pressionar os vereadores a assinarem o pedido de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar suposto caixa dois nas eleições municipais do ano passado. Além da falsificação de assinaturas de ex-candidatos a vereador.

"Queremos que os vereadores entendam que essa é uma responsabilidade da Câmara", disse a diretora do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, Alessandra Cláudia de Oliveira. Por enquanto, a oposição tem seis dos 13 votos necessários.

Durante o ato realizado na Boca Maldita, no centro da cidade, a frente colocou vários televisores no calçadão, onde foram reproduzidos o vídeo que mostra os dissidentes do PRTB recebendo dinheiro.

CARREGANDO :)

Veja o vídeo dos ex-candidatos recebendo dinheiro das mãos de Alexandre Gardolinski, coordenador do comitê pró-Beto

Publicidade

O prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB) negou, nesta segunda-feira (29), que tenha havido irregularidades e uso de "caixa dois" em sua campanha de reeleição em 2008. Em entrevista à Rádio BandNews, o prefeito classificou como uma armação de seus adversários políticos as denúncias que vieram à tona com a divulgação de um vídeo revelando o pagamento em dinheiro a dissidentes do PRTB que criaram um comitê de apoio a ele. "Sou vítima de meu sucesso", disse Richa.

Durante toda a entrevista, o prefeito negou a compra do apoio político. Segundo ele, isso não seria necessário, pois todos os candidatos a vereador do PRTB que desistiram de concorrer para apoiar sua reeleição já seriam de sua base de apoio. Na campanha municipal de 2008 o PRTB se coligou com o PTB do então candidato a prefeito Fabio Camargo. "A polícia federal comprovou que houve fraude na ata da convenção do PRTB. Os dissidentes estavam descontentes em não poder de me apoiar e por isso desistiram das candidaturas", afirmou Richa.

Quanto à prestação de contas, ele desafiou os outros candidatos a apresentar documentação mais completa que a sua. "Fizemos uma campanha limpa. São cerca de 16 mil páginas de prestação de contas", explicou. Richa contou que foram arrecadados R$ 6,9 milhões e gastos R$ 6,8 milhões na campanha. O restante teria sido devolvido para o partido.

Richa explicou que durante sua campanha foram montados 16 comitês eleitorais na cidade. O dinheiro entregue a membros destes comitês seriam para despesas de manutenção, como material de limpeza, alimentação, combustível e material de propaganda. "Todos os comitês eram mantidos com recursos de uma única conta, a conta de campanha", garantiu.

O prefeito, no entanto, não soube explicar os motivos dos pagamentos e nem de onde veio o dinheiro entregue por Alexandre Gardolinski, coordenador do Comitê Lealdade, para os dissidentes do PRTB. "Nossa equipe está revendo as contas para ver de onde veio estes recursos, ver as notas fiscais que comprovam este dinheiro", disse.

Publicidade

Sem citar nomes, o prefeito atribuiu as denúncias à integrantes do governo estadual. Richa afirmou que as "velhas raposas" da política não querem que ele seja governador do Paraná. Mesmo depois a declaração, o prefeito diz que não é pré-candidato ao governo e que ainda é cedo para definição das candidaturas.

Desde a semana passada a reportagem da Gazeta do Povo tenta entrevistar o prefeito Beto Richa, mas ele se recusa a conceder entrevista.

Entenda o caso

Na quinta-feira, 18 de junho, o prefeito anunciou a demissão de três funcionários da prefeitura de Curitiba: o secretário de Assuntos Metropolitanos, Manassés de Oliveira; Raul D'Araújo Santos, superintendente da mesma pasta e ex-secretário do Trabalho e Emprego; e Alexandre Grandolisnki, lotado na Secretaria do Trabalho.

No domingo (14), a Gazeta do Povo publicou uma reportagem revelando o pagamento em dinheiro a dissidentes do PRTB que criaram um comitê de apoio a Richa na eleição do ano passado. O dinheiro era entregue por Gardolinski, na sede do Comitê Lealdade, aos ex-candidatos a vereador do PRTB. O pagamento era feito em espécie, o que não é permitido pela legislação.

Publicidade

No mesmo dia, o programa Fantástico mostrou uma reportagem com o vídeo gravado por Gardolinski fazendo os pagamentos. No total, 23 pessoas aparecem recebendo dinheiro – entre eles, Manassés e Raul. Os dois aparecem assinando recibos em nome de terceiros.

Dentre os que aparecem no vídeo recebendo dinheiro, outras cinco pessoas trabalhavam na prefeitura, três delas com cargos em comissão. Outros ex-candidatos a vereador pelo PRTB afirmaram à Gazeta que houve oferta de cargos na administração pública como pagamento por uma possível desistência.

Na segunda-feira (22), o presidente do comitê financeiro da campanha de Beto Richa, Fernando Ghignone, e o coordenador jurídico do PSDB durante a eleição, Ivan Bonilha, negaram a existência de caixa 2 na campanha e afirmaram que o comitê financeiro da campanha de Richa não teria responsabilidade sobre a gestão financeira do Comitê Lealdade, porque ele era independente. A Gazeta apurou que a casa onde funcionou o comitê foi alugada pela campanha de Richa.

Bonilha e Ghignone procuraram relacionar a divulgação das suspeitas de caixa 2 na campanha a uma armação política para prejudicar o prefeito de Curitiba em uma possível candidatura, no ano que vem, ao governo do Paraná. Apresentaram um vídeo que registra uma conversa entre eles e Rodrigo Oriente – o responsável pelo vazamento das gravações realizadas no comitê de dissidentes do PRTB.

A prefeitura anunciou, na quarta-feira (24), a exoneração de mais três pessoas que aparecem no vídeo recebendo dinheiro: o assessor técnico Luiz Carlos Déa (o ex-vereador Mestre Déa), lotado na Secretaria do Esporte; o gestor público Luiz Carlos Pinto e o assessor técnico Gilmar Luiz Fernandes, ambos da Secretaria do Governo Municipal. Já os servidores de carreira Cristiane Fonseca Ribeiro (Secretaria do Trabalho) e Nelson Bientinez Filho (Secretaria de Esporte) perderam gratificação.

Publicidade

No mesmo dia, o prefeito foi à sede da Procuradoria Regional Eleitoral, em Curitiba, para protocolar um pedido de investigação para que todas as denúncias fossem apuradas. Em depoimento à Procuradoria Regional Eleitoral, Rodrigo Oriente afirma ter sido funcionário fantasma da administração municipal, durante quase um ano, como parte de um esquema de repasses de recursos para Alexandre Gardolinski. E entregou documentos que indicariam o que o secretário da Administração de Curitiba, José Richa Filho, sabia sobre o repasse de dinheiro do PSDB para o comitê. Na sexta-feira, foi protocolado no TRE o pedido de cassação de Richa.