Mesmo com o avanço das investigações da Lava Jato sobre dirigentes peemedebistas, o vice-presidente Michel Temer cogita fazer seu primeiro pronunciamento à Nação como presidente, após o Senado decidir sobre o provável afastamento da presidente Dilma Rousseff, garantindo a “blindagem” da operação contra eventuais pressões políticas.
A intenção de Temer, segundo interlocutores com quem o vice tem conversado nos últimos dias, é tratar a Lava Jato não só como a maior ação de combate à corrupção no País, mas como um “patrimônio nacional” que precisa ser preservado e ter autonomia para prosseguir com suas apurações. A intenção do peemedebista é tentar manter uma base de sustentação popular à sua gestão.
Temer discutiu neste domingo (8), em São Paulo, com o publicitário do PMDB, Elsinho Mouco, a convocação de uma rede de rádio e TV para se apresentar para o país. Uma das ideias em discussão é que ele, tão logo assuma, faça o pronunciamento de quatro minutos no qual incluirá o compromisso do novo governo com a continuidade da Lava Jato.
Após a conversa com o publicitário, Temer retornou a Brasília no fim da tarde, para uma série de reuniões com o núcleo de colaboradores que formará a base de seu governo. O primeiro a chegar ao Palácio do Jaburu, nove minutos depois do anfitrião, foi Henrique Meirelles, que assumirá o Ministério da Fazenda no provável governo peemedebista. Depois vieram Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Romero Jucá (Planejamento) e Moreira Franco (ações de infraestrutura).
Justiça
Sob o risco de iniciar a gestão com o Ministério incompleto, Temer deverá optar pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, para o Ministério da Justiça, cargo considerado chave de um governo que terá de acompanhar com lupa os desdobramentos das ações judiciais que investigam corrupção em órgãos públicos. Moraes é o quarto nome da lista de opções para o cargo - os “notáveis” ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto e Carlos Velloso declinaram de sondagens e, depois, a opção por Antonio Claudio Mariz de Oliveira acabou sendo descartada.
Moraes foi advogado de Cunha, mas entraria no governo como indicação da ala do PSDB ligada ao governador paulista, Geraldo Alckmin. O vice tem demonstrado preocupação com os desdobramentos da operação sobre a imagem de seu eventual governo. Dias atrás, ele tratou com um interlocutor frequente sobre o andamento das investigações da Lava Jato referentes ao presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá, seu provável ministro do Planejamento. Mas, por ora, ele tem dado mostras de que bancará a ida dele para o governo.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo deste domingo (9) revelou que a força-tarefa da operação trabalha para ampliar provas de repasses a políticos do PMDB a partir de dados de contas e empresas offshore de operadores de propinas. Estão na mira dessa linha de apuração Romero Jucá, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi afastado do mandato de deputado e do comando da Câmara por determinação do Supremo Tribunal Federal.
A interlocutores, Temer tem dito que os ministérios da Fazenda – em razão da recessão econômica, do aumento do desemprego e da grave crise fiscal – e da Justiça – cuja Polícia Federal, responsável pela Lava Jato, está subordinada – serão dois dos pilares da sua gestão. Sua intenção é convencer a opinião pública de que vai garantir autonomia para a PF prosseguir em suas investigações, ainda que eventualmente atinja correligionários.
A desconfiança em relação às ações anticorrupção em um eventual governo do peemedebista tem sido alvo de reclamações de que, uma vez no Planalto, ele trabalhará para abafar a Operação Lava Jato.
Há duas semanas, o vice desistiu de escolher o amigo Antônio Claudio Mariz de Oliveira para o comando do Ministério da Justiça, após o criminalista ter feito críticas à Lava Jato, em especial ao instituto das delações premiadas, base das investigações da operação.
No ano passado, Mariz, que advogou para Temer quando ele foi citado na Lava Jato, já havia subscrito um manifesto crítico aos métodos da operação. Essa indicação foi criticada no Congresso.
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