Severino Cavalcanti (PP-PE) saiu do escuro para vencer a disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados, nomeou um filho para a Superintendência da Agricultura, chegou a se dizer preparado para assumir a Presidência da República no caso de impeachment de Lula, participou de um importante encontro em Nova York entre presidentes de Congresso de todo o mundo e acabou, no fim de sua meteórica história parlamentar, traído por um cheque de R$ 7.500 apresentado por um empresário que o acusa de cobrar propina.
Após sete mandatos consecutivos na Assembléia Legislativa de Pernambuco, Severino chegou à Câmara de Deputados. Dois anos depois, conquistou um cargo na Mesa Diretora da Casa legislativa - fato raro para deputado em primeiro mandato -, acumulando os cargos de segundo-vice-presidente e corregedor-geral por dois anos. Em 2001, chegou ao posto de primeiro-secretário - uma espécie de prefeito da Câmara.
Em 2003, com Lula na Presidência, Severino tornou-se segundo-secretário da Mesa Diretora, defendendo os interesses do baixo clero, que reúne os deputados menos influentes e pelo qual disputou a Presidência da Câmara. Na segunda vez, de forma surpreendente, foi eleito para suceder o petista João Paulo Cunha, em segundo turno, em fevereiro deste ano. A vitória se deu graças a um racha no PT, que disputou o cargo com dois candidatos: o oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG).
Dois meses após assumir o cargo, Severino causou polêmica com a nomeação do filho, argumentando que com isso estava "prestando um serviço ao país". A confusão não pararia por aí. Em agosto, no meio da crise do mensalão, o pernambucano afirmou estar pronto para usar a faixa presidencial no caso de uma saída forçada de Lula, e defendeu penas mais brandas para quem usou caixa dois em campanhas políticas.
A atuação de Severino provocou protestos generalizados. O mais duro foi do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ):
"Sua atuação é indigna para o cargo de presidente da Câmara. Vossa Excelência está em contradição com o Brasil. Sua presidência é um desastre para o Brasil! Ou fica calado ou iniciaremos um movimento para derrubá-lo do cargo!"
Severino retrucou na saída da Câmara, ao ser perguntado se representaria no Conselho de Ética contra Gabeira:
"Não sei, o que sei é que ele quer se afirmar como homem, mas não sei se conseguiu se afirmar ainda."
Era o início do fim do político que mantinha sua força com uma plataforma, segundo ele, em nome da família e dos valores cristãos. "Ganho todas as eleições porque defendo a família, sou homem de fé e cristão", disse certa vez. Os últimos momentos de glória de Severino foram poucos dias antes da renúncia: a condecoração com a Ordem do Rio Branco pelo presidente Lula e a viagem a Nova York, onde, apesar de estar visivelmente angustiado e abatido, ainda gozava de um importante status.
O golpe de misericórdia foi um cheque endossado por uma recepcionista do gabinete de Severino, acusado de cobrar propina ao empresário Augusto Buani para renovar a concessão do restaurante Fiorella, na Câmara dos Deputados. O "mensalinho", como ficou conhecido o valor da suposta extorsão, levou Severino, que disse ter passado necessidade antes de vencer na carreira política, a nocaute.
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