O tucano José Serra dará a largada oficial de sua campanha à Presidência da República neste sábado (12), em Salvador. A cidade escolhida para sediar a convenção nacional do PSDB traduz a preocupação dos tucanos com a região Nordeste, um dos principais palcos da disputa que Serra irá travar com a ex-ministra Dilma Rousseff (PT).
Empatado com sua principal adversária, Serra terá um de seus maiores desafios na região, que concentra 27% dos votos do país e que nas duas últimas eleições deu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva amplas vitórias nos estados. Pesquisa Ibope divulgada no último final de semana aponta que Dilma tem 47% das intenções de voto no Nordeste, contra 27% de Serra.
Além do histórico e das pesquisas atuais, pesam ainda a favor do PT os altos índices de aprovação do governo Lula e o grande alcance de políticas sociais do governo, como o Bolsa Família.
Diante desse quadro, Serra tem concentrado esforços na região. Salvador foi a primeira cidade que o tucano visitou após ser lançado pré-candidato, no início de abril. A partir daí, o ex-governador paulista visitaria a região várias vezes: percorreu municípios do Ceará e da Paraíba, foi ao Recife ao menos duas vezes e visitou Alagoas.
Meta para o Nordeste
Segundo tucanos ouvidos pelo G1, a estratégia do PSDB é tentar reduzir a vantagem de Dilma na região e alcançar um percentual mínimo de votos para Serra no Nordeste.
"Acho que, realisticamente, poderemos ter no Nordeste 40% dos votos válidos no primeiro turno. Qualquer resultado acima de 35% dos votos válidos é positivo. Mas acho que é possível chegar a 40%", calcula o deputado Jutahy Magalhães (BA), articulador da campanha tucana na região.
"Temos uma meta mínima de chegar a 35% de média. Parece ser um bom número considerando os resultados das regiões", opina o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, João Almeida (BA).
Jutahy Magalhães afirma que o quadro no Nordeste em 2010 é "amplamente vantajoso" em relação a 2006 e 2002. "Temos presença em todos os estados, com candidatos a governador favoritos ou que podem chegar ao segundo turno e com candidatos a senador muito fortes", diz.
Para alavancar os votos na região, Magalhães aposta em "âncoras" nos estados: candidatos ao governo e ao Senado que sejam competitivos e que levem eleitores para Serra.
"Está acontecendo um fenômeno no Nordeste: uma verticalização espontânea. Quem vota em Paulo Souto (candidato ao governo da Bahia pelo DEM) está votando no Serra. Quem vota em Teotônio Vilela (governador de Alagoas do PSDB e candidato à reeleição) está votando no Serra", analisa.
Âncoras nos estados
As maiores "âncoras" de Serra no Nordeste, segundo Jutahy, estão no Piauí, com a candidatura do ex-prefeito Sílvio Mendes; no Rio Grande do Norte, com a senadora Rosalba Ciarlini (DEM); na Paraíba, com o prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), e Cássio Cunha Lima (PSDB) ao Senado; em Alagoas, com a campanha à reeleição de Teotônio Vilela (PSDB); e em Sergipe, com o ex-governador João Alves (DEM).
Já os maiores estados Bahia, Pernambuco e Ceará têm palanques "competitivos" onde se espera conseguir ao menos um segundo turno. Nos dois primeiros, os tucanos enfrentarão governadores que integram alguns dos principais nomes de base lulista: Jaques Wagner (PT) e Eduardo Campos (PSB), respectivamente. Na Bahia, o palanque de Serra será o de Paulo Souto (DEM). Em Pernambuco, o apoio aos tucanos virá do senador peemedebista Jarbas Vasconcelos, que disputará o governo.
No Ceará, ainda não há definição do candidato ao governo, mas os tucanos têm no estado o senador Tasso Jereissatti, importante força política do PSDB na região.
Além disso, o PSDB aposta num certo "voto de protesto" entre o eleitorado cearense após a manobra do PT para evitar a candidatura de Ciro à Presidência.
"Podemos eventualmente ser beneficiados do desconforto que há em relação ao Ciro. Como o Tasso lá é muito ligado ao Ciro, isso pode trazer algum benefício", avalia o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, João Almeida (BA). No Maranhão, Serra terá o palanque de Jackson Lago (PDT), que enfrentará a governadora Roseana Sarney (PMDB) e Flávio Dino (PC do B).
Campanha "anti-Lula" e apoio de "infantaria"
Além das alianças, o PSDB procura garantir apoio de "infantaria" a Serra, ou seja, cabos eleitorais na ponta das campanhas candidatos a deputado, prefeitos, militantes - que façam o trabalho miúdo de arregimentar votos para a candidatura tucana.
"Campanha, além da televisão e do rádio, tem que ter infantaria também, gente que fala, que dá entrevista nas rádios, o carro de som que faz barulho", diz João Almeida.
Segundo o líder tucano, nas duas campanhas anteriores, quando Lula disputou a Presidência, o apoio ao petista era tamanho no Nordeste que muitos "aliados" dos tucanos buscaram salvar suas próprias campanhas e deixaram de pedir votos para Serra, que enfrentou Lula em 2002, e para Geraldo Alckmin, em 2006.
"Vimos a solidariedade formal, mas a campanha não existiu. Como o Lula era um candidato muito forte, muitas lideranças achavam que prejudicariam seus candidatos fazendo campanha contra ele. Isso inibiu muita gente nos estados do Nordeste. Agora não há mais isso. O Lula não é candidato, embora continue sendo bem avaliado. Isso não será mais generalizado como na campanha passada", diz Almeida.
Candidato a vice
Recentemente, a discussão das estratégias tucanas para o Nordeste encontrou-se com um tema nacional: a definição do vice de Serra. Nomes da região passaram a ser cotados, como o do senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, e Tasso Jereissati (CE).
"Um vice do Nordeste pode agregar, mas não acho que seja um fator determinante. Será mais uma demonstração de prestígio e apreço à região. Um nome qualquer, só por ser do Nordeste, não vai significar muita coisa. Mas há nomes capazes de agregar. Tasso, por exemplo, agrega por ter uma imagem boa de nordestino, por ser de um estado com colégio eleitoral grande e é uma grande liderança. Pode significar uma posição melhor da chapa lá", opina o líder na Câmara.
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