Ufa, a Espanha salvou a Copa em Curitiba. Para um evento desses, não é só o futebol que importa, mas também a situação econômica do país visitante. Afinal, uma das justificativas para o gasto público com o evento é o retorno financeiro que virá (supostamente) do turismo. Entretanto, não há fã de futebol suficiente para gastar em 12 cidades-sede. Este foi um grande erro do Brasil, e a situação ficou ainda mais clara com o sorteio para a Copa do Mundo.
A construção de estádios de meio bilhão em Manaus, Natal e Cuiabá locais sem tradição futebolística já é um escândalo, e em um país mais sério já teria custado, simbolicamente, a cabeça de alguns.
Cuiabá abrigará os jogos de Bósnia e Nigéria, Chile e Austrália, Rússia e Coreia, com destaque para a cabeça de chave Colômbia versus Japão. A falta de tradição nos gramados e/ou a reduzida renda do torcedor local deve fazer com que o público seja reduzido. Isso se torna uma grande preocupação na medida em que o Estádio do Pantanal está custando em torno de R$ 570 milhões e não há uma perspectiva clara para o uso que se fará dele posteriormente.
Manaus e Natal deram mais sorte, pois vão receber seleções com mais tradição e também cacife financeiro. Na capital do Amazonas, jogam Inglaterra e Itália, Portugal e Estados Unidos, Croácia e Camarões, além de Suíça e Honduras. Mesmo assim, há grandes chances de Manaus herdar um elefante branco que está custando R$ 669,5 milhões.
Em Natal, o estádio tem custo de R$ 423 milhões, e também pode ser outro elefante branco. Pelo menos receberá os jogos de Croácia e México, Gana e Estados Unidos, Grécia e Japão, e o grande Uruguai e Itália.
África do Sul
O discurso oficial exalta que o mais importante é o legado que os cidadãos brasileiros terão com a Copa do Mundo, mas obviamente é preciso potencializar as oportunidades de lucro durante o evento. Alguns dados sobre a Copa na África do Sul, em 2010, ajudarão a ilustrar isso.
De acordo com a operadora Visa, o total gasto na África do Sul por usuários de um cartão de crédito com essa bandeira cresceu 23% entre 2009 e 2010, chegando a US$ 2,2 bilhões. Considerando apenas o mês de junho de 2010, período da Copa do Mundo, houve aumento de 84% em relação a junho de 2009.
Esse não é o balanço final do turismo gerado pelo evento, pois desconsidera outras bandeiras de cartão utilizadas. Mas o material é interessante, pois traça um panorama do turista da Copa. Quais foram as nacionalidades que mais contribuíram para esse salto registrado pelo Visa?
Em termos proporcionais, os turistas dos países vizinhos são quem mais contribuíram para os ganhos da África do Sul: Zimbábue (217%), Angola (132%), Zambia (36%), Botswana (33%) e Namíbia (19%). Curiosamente, os gastos dos cartões originais de Moçambique (-11%) apresentaram queda no ano da Copa do Mundo.
Em termos absolutos, turistas do Reino Unido e Estados Unidos foram os destaques nos gastos com cartão de crédito Visa durante o ano da Copa na África do Sul. Esses países já mantinham um fluxo alto de turistas em 2009, os valores despendidos foram de US$ 461 milhões e US$ 269 milhões, respectivamente, e subiram 16% e 21% em 2010.
Esses dados mostram que Cuiabá poderá se beneficiar da proximidade com Chile e Colômbia. Por outro lado, Curitiba precisa planejar bem como potencializar os ganhos turísticos com a Copa do Mundo. A presença de países vizinhos seria de grande ajuda, mas não a teremos. Felizmente garantimos um jogo da Espanha, contra a Austrália. E quais as perspectivas de turismo com Irã e Nigéria, Equador e Honduras, e Argélia e Rússia? Se não forem boas, qual será a estratégia para atrair outras nacionalidades para Curitiba? Respostas que o poder público precisa dar.
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