Logo depois de clicar 20 na urna eletrônica, o governador Beto Richa embarca neste domingo para uma viagem de 15 dias que o levará à China, Líbano e Itália. Além de um vago "estreitamento" das relações com autoridades dos três países, não foram divulgados motivos mais concretos para a peregrinação que empreende com pequena comitiva. A bagagem que vai levar, no entanto, poderá enfrentar problemas na hora do check-in em razão do excessivo peso dos insucessos que colheu nas eleições.

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Para aliviar a carga da generalizada derrota na primeira eleição estadual que conduziu na condição de governador, só mesmo se, à última hora, acontecer uma surpreendente vitória de Ratinho Júnior – o candidato 20 que ele clicou na urna. Tal possibilidade não deve ser irresponsavelmente descartada, mas todos os indicativos levam à previsão de que Gustavo Fruet sairá das urnas neste domingo como o novo prefeito da capital.

Se as previsões estiverem corretas, Richa terá de contabilizar não uma, mas várias pesadas derrotas no seu mais precioso território eleitoral, a joia da coroa ambicionada por qualquer político que pense no próprio futuro – Curitiba, a cidade que o elegeu prefeito duas vezes consecutivas, a última das quais com avassaladores 77% dos votos.

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De erro em erro...

As sucessivas derrotas que sofreu começaram a ser construídas já no ano passado, quando assumiu pessoalmente a responsabilidade de trocar o certo pelo duvidoso ao afastar Gustavo Fruet, o candidato natural do seu partido, o PSDB, para impor o nome de sua preferência, o do prefeito Luciano Ducci, do PSB.

Este erro estratégico de Beto Richa, certamente causado por um inexplicável excesso de confiança no próprio "taco", produziu a primeira consequência fatal ao empurrar para a seara oposicionista o enjeitado Gustavo Fruet que, filiado ao PDT, juntou-se ao PT e ao PV para construir uma candidatura. Mesmo assim, de acordo com a visão soberba dos conselheiros do governador, essa candidatura seria vítima da própria incoerência política e também facilmente suplantada pelo prestígio de Richa e pelas máquinas municipal e estadual.

O resultado do primeiro turno configurou o engano: ainda que por pequena margem, Fruet venceu Ducci. A saída que Richa encontrou para não assumir a derrota foi jogar sobre as costas do prefeito a responsabilidade, já que, segundo o governador, em eleição municipal os eleitores "focam nos candidatos e não nos seus padrinhos".

... oposição se fortalece

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Atropelado pela rapidez com que o senador Roberto Requião (PMDB) declarou apoio a Ratinho Júnior, já no dia seguinte ao da eleição do primeiro turno, a Richa não sobrou alternativa se não a de se declarar "neutro" – uma neutralidade de aparência, pois frequentemente desmentida por maldisfarçadas ações de apoio ao candidato das "novas ideias".

Se se confirmar a vitória de Gustavo sobre Ratinho, Richa terá, então, acumulado (1) a derrota de perder um dos melhores quadros de seu partido no estado e no país; (2) de escolher o candidato errado; (3) de perder o primeiro turno; e (4) de perder também o segundo.

Se nas outras grandes quatro cidades em que se fere hoje o segundo turno vencerem candidatos de oposição, Beto Richa carregará na sua bagagem também o peso político de ter aberto as comportas para a consolidação de outra força expressiva no estado – hipótese que seria mantida distante não fosse a estratégia de alianças inconfiáveis que montou em detrimento do seu próprio partido. Hoje o PSDB, que não disputa nenhuma das grandes prefeituras do segundo turno, está limitado a 76 pequenas cidades (já somou 144 quando o senador Alvaro Dias foi presidente da legenda).

Sai fortalecida a ministra Gleisi Hoffmann, do PT, que ambiciona suceder Richa em 2014, e reforça o poder de fogo do ministro Paulo Bernardo (marido de Gleisi), autor das costuras iniciais que, a despeito da heterodoxa aliança que engendrou com o antigo adversário, tendem a levar Gustavo Fruet à prefeitura do maior colégio eleitoral do estado.

A tal ponto o somatório de erros de Richa é grave que, segundo chegam a comentar pessoas de seu círculo íntimo, ele até já estaria refazendo seus planos: em vez de buscar a reeleição, poderá preferir a alternativa de disputar o Senado. Para essa decisão contribuirá também o vazio de obras de seu governo, que dificilmente será preenchido nos meses que lhe restam para administrar o estado e para devolver-lhe o antigo prestígio.

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Moral da história: se se confirmar que Beto Richa de fato colherá as derrotas previstas, pode-se dizer que não foi exatamente a oposição que ganhou; foi a situação que perdeu.