A Volkswagen é a primeira empresa a negociar uma reparação judicialmente por ter financiado ou participado ativamente da repressão à oposição política e ao movimento operário durante a ditadura militar no Brasil. Dirigente da matriz do grupo que esteve no Brasil a pedido do Ministério Público Federal (MPF) afirmou que a companhia busca um acordo com o órgão, que baseia sua ação nas investigações feitas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Segundo Manfred Grieger, diretor do departamento de Comunicação Histórica do Grupo Volkswagen, sua intenção ao participar do encontro no MPF, ocorrido em São Paulo no dia 14, era de entrar em contato com vítimas da ditadura militar brasileira e buscar mais informações sobre o relacionamento entre a Volkswagen do Brasil e as instituições brasileiras daquela época.
“Foi o início de uma discussão sobre como chegar a um acordo a respeito dessa questão”, afirmou Grieger. “Uma ideia é talvez desenvolver um conceito de memorial em conjunto com outras instituições brasileiras, como sindicatos, e colocá-lo em prática. Queremos continuar as discussões para explorar os prós e contras a respeito dos próximos passos”, disse, por e-mail, o diretor.
Desde 2014 Grieger recolhe informações e documentos sobre as acusações de apoio dado pela montadora ao regime. Quem se reuniu com ele foi o procurador regional dos Direitos do Cidadão, do MPF, em São Paulo, Pedro Antônio de Oliveira Machado.
PETROBRAS
O próximo alvo do grupo que pediu ao MPF a investigação sobre as relações da Volkswagen com a ditadura militar é a Petrobras. A estatal é acusada de contribuir para a prisão de petroleiros, que foram torturados e, depois, impedidos de exercer a profissão durante o regime militar. Além disso, Ford e General Motors também teriam doado veículos ao comando repressor.
“Queremos fazer um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta]. O objetivo é que o dinheiro da reparação seja depositado no Fundo de Interesses Difusos ou usado para a construção de um memorial ou museu sobre o período”, confirmou Machado.
Nas mãos de Machado e de seus colegas do MPF estão os documentos reunidos por dez centrais sindicais, associações, pesquisadores, por ex-integrantes da CNV e ex-operários da Volkswagen perseguidos pelo regime militar.
“Socos e pontapés”
Lúcio Bellentani trabalhava na Volkswagen de São Bernardo do Campo (SP). Foi preso em julho de 1972, na ala de prensas em que trabalhava, numa ação acompanhada por seguranças da companhia. Outros 12 operários também foram detidos. Bellentani primeiro foi levado a uma sala do setor de Recursos Humanos, onde conta ter levado socos, chutes e pontapés. Depois foi transferido para o Dops, e passou por frequentes sessões de tortura, e passou um ano e oito meses na prisão. Após ser solto, mudou-se para o interior de São Paulo, pois não conseguiu emprego no ABC, onde morava a família.
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