Pense em algum setor da economia que tenha crescido mais de 100% nas últimas duas décadas. No mínimo, você vai ter que fazer algum esforço pra se lembrar. Agora imagine um segmento que cresceu quase 4.000% nesse período. É até difícil “palpar” esse número, mas basta dizer que, desde o ano 2000, quando o cultivo de pupunha passou a ganhar força no litoral paranaense, o valor bruto da produção na região saltou de R$ 480 mil para R$ 19,5 milhões. Isso somente em ganho financeiro. Na parte ambiental, também houve avanços, já que a Mata Atlântica depois que o corte do palmito-juçara – que corre risco de extinção – foi substituído pela “prima” ecologicamente correta.
“Era necessário dar opção a esses produtores, que também precisavam se adequar à legislação ambiental da Mata Atlântica”, diz o pesquisador da Embrapa Florestas Álvaro Figueredo dos Santos, um dos responsáveis pelo impulso ao cultivo, em parceria com o Emater e diversas universidades do Paraná e outros estados. São 650 famílias que se dedicam à atividade em 1,65 mil hectares. “É uma nova agricultura no litoral do Paraná, em ascendência, com os produtores tendo mais rentabilidade, com segurança de renda e de preservação ambiental”, analisa Sebastião Beletini, extensionista do Emater, que faz o atendimento aos produtores de pupunha do litoral paranaense.
Mais eficiente
A pupunha é ecologicamente correta porque é mais eficiente. Diferentemente do palmito-juçara, que morre após o corte, ela começa a produzir já aos 18 meses e continua assim por mais 15 anos, com colheitas anuais.
Atualmente, 13 agroindústrias processam o palmito de pupunha cultivado no litoral do Paraná. Uma delas pertence a Geraldo Moraes Bertucci. Funcionário no mercado financeiro durante 29 anos, ele procurava um plano B para a geração de renda. Por meio de uma pesquisa de mercado e apoio do Emater (PR), teve contato com a produção de pupunha. Hoje, além 160 mil pés plantados em 32 hectares em Antonina (PR), abriu uma agroindústria e comercializa o palmito processado. O que era plano B virou a principal atividade de Geraldo, que saiu do mercado financeiro antes mesmo de se aposentar. “O palmito de pupunha é um produto com grande potencial, pois o mercado brasileiro não está 100% atendido, e o mercado externo é enorme. É um cultivo de alto investimento inicial, mas gera um produto de grande rentabilidade”, explica.
Quem também se beneficia é a família do produtor Vilson Cordeiro dos Santos. Morador há quase 50 anos em Paranaguá (PR), cultiva pupunha, banana e cana-de-açúcar em uma área de cerca de dez hectares. A produção de palmito é toda comercializada in natura, em uma feira aos sábados no centro da cidade, pelo filho José Roberto. “Mas o que produzo com meus 30 mil pés é insuficiente, então ele pega produção também de vizinhos”, conta Vilson. “Se eu pudesse, trocaria tudo o que tenho na propriedade por cultivar só pupunha. É a cultura mais importante, é única”, analisa. A mudança só não é feita pelos altos custos de implantação da cultura por causa do preço das mudas, que custam cerca de R$ 1,30 atualmente na região. O custo de implantação, por hectare, é de aproximadamente R$ 10 mil.
Este é o próximo desafio de pesquisa: viabilizar formas para que a produção de mudas seja mais barata. Hoje, o custo da semente é alto, pois elas vêm da Amazônia brasileira e peruana. Segundo a Embrapa, é necessário estabelecer áreas de produção de sementes para aumentar a oferta, uma vez que, ao fazer a colheita do palmito, é inviabilizada a produção da semente.
De extrativista a produtor
Mauro de Freitas Rosa, produtor rural, conta que a pupunha foi transformadora para a agricultura de Guaraqueçaba, um município que era totalmente extrativista e que, com a definição da Área de Proteção Ambiental (APA), teve que aprender a produzir: “A população não estava preparada para ser produtora, ela era historicamente extrativista. Então os proprietários ficaram à deriva. Mas, com a chegada da pupunha, encontramos alternativa de produção”. O produtor recorda da desconfiança em relação à nova atividade. Outras culturas já haviam sido tentadas, como feijão, arroz, gengibre, e todas fracassaram. “O investimento inicial é alto, mas contamos com apoio do Emater. Cerca de 80% dos produtores do Município de Guaraqueçaba têm a pupunha como carro-chefe”, conta.
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