Em termos de área, os dois países somados têm cerca de 300 mil km2, tamanho um pouco menor do que o estado do Maranhão. Juntas, as populações alcançam 13 milhões de pessoas, apenas 2 milhões a mais do que o Paraná. Mas quando o assunto é inovação e tecnologia, os comparativos diminutivos desaparecem. Para o setor mais pujante da economia brasileira, o agronegócio, Nova Zelândia e Israel oferecem parcerias que prometem extrapolar em benefícios a proporcionalidade das estatísticas.
“A necessidade é a mãe de toda a inovação”, aponta o embaixador da Nova Zelândia no Brasil, Chris Langley, para explicar como uma ilha num canto remoto do Oceano Pacífico, além de ter uma economia moderna no setor industrial e de serviços, mantém a dianteira tecnológica na produção de leite, criação de cordeiros, cultivo de frutos do mar, maçãs e, claro, kiwi, a fruta-símbolo do país. “Quando você é pequeno, tem que encontrar formas inovadoras de fazer as coisas. Não acho que o Brasil será um grande mercado para nossas commodities de exportação. Nunca iremos exportar muito bife para cá, por exemplo, porque vocês já tem bastante carne bovina. Mas há uma grande oportunidade de produtos tecnológicos ligados à agricultura beneficiarem alguns setores brasileiros”, destaca o embaixador.
Não sem motivos, o estande de negócios de seis empresas neozelandesas na feira Agroleite, em Castro, foi bastante movimentado na semana passada. “Quem é do segmento leiteiro, quando houve falar de alguma tecnologia que é da Nova Zelândia, já fica ligado porque, com certeza, vai encontrar um bom produto. Eles estão uns dez anos na frente”, diz Marcos Della Giustina, dono de uma loja agropecuária em Braço do Norte, Santa Catarina. Della Giustina estava interessado num monitor de ordenha neozelandês que, além de determinar o volume a ser extraído conforme a disponibilidade da vaca, ainda identifica animais doentes pela temperatura e contagem de células somáticas do leite.
No estande ao lado, o produtor Dimas Cabral, de Campina Grande, na Paraíba, conhecia um dispositivo neozelandês para detectar fuga de energia em cercas elétricas móveis que delimitam áreas de pastagem para o gado. “Na Nova Zelândia, a mão de obra custa 20 dólares a hora, então eles precisam fazer de tudo para reduzir custos. Imagina o tempo que perderiam para percorrer uma cerca elétrica até encontrar o ponto de fuga, sem esse dispositivo. Eles estão sempre em busca de inovações para resolver esse tipo de problemas”, diz Ernesto Coser Netto, gerente comercial da empresa neozelandesa Tru-Test.
Inovação contra a adversidade
Enquanto o isolamento e o custo da mão-de-obra ajudam a explicar as soluções tecnológicas desenvolvidas pelos neozelandeses, em Israel são as condições geográficas e climáticas adversas, além da animosidade dos vizinhos, que empurraram o país para a inovação constante. “Em nossa história, a maior parte dos conflitos sempre foi por causa da água. Temos que ser muito criativos para utilizar o pouco que temos e ainda criar uma economia ativa”, diz o cônsul para assuntos econômicos de Israel no Brasil, Itzhak Reich.
Em apenas 15 anos, Israel conseguiu resolver o problema crônico da falta de água – um deserto cobre a maior parte do país. Hoje, 70% de toda água consumida pelos israelenses (contra 10 a 15% no início dos anos 2000), vêm de grandes usinas de dessalinização da água do mar. Na agricultura, startups judaicas lideram em inovações de monitoramento via satélite das condições de lavouras, seja para detectar excesso ou falta de água, doenças ou deficiências nutricionais.
Itzhak Reich dá um exemplo prático do potencial da parceria Israel-Brasil. Recentemente, ele levou uma comitiva de 17 produtores brasileiros de banana para visitar seu país. “Eu expliquei que apenas um daqueles agricultores produzia mais banana do que tudo o que é produzido em Israel. E eu estava com 17 deles ali! Por outro lado, a produtividade dos israelenses é o dobro, apesar de o Brasil ter todas as vantagens de solo, água e clima. Então, há um potencial fantástico. Se o Brasil aumentasse em apenas 50% a produtividade da banana, o impacto seria tremendo, inacreditável. Os israelenses procuram locais onde podem fazer parcerias em larga escala, e o Brasil é o lugar certo”, assegura Reich.
Novo mercado
Israel, contudo, não é autossuficiente na produção de alimentos. Quase toda a carne consumida no país, por exemplo, tem de ser importada. Reich revela que nas próximas semanas uma mudança regulatória deve abrir o mercado de carne resfriada para os produtores brasileiros. Atualmente, o tempo limite de transporte é de 45 dias, o que inviabiliza as exportações da carne não congelada. Com o novo prazo proposto, de 90 dias, será aberto um mercado completamente novo para o Brasil.
“É um grande momento, Brasil e Israel têm muito em comum. A aceitação que os brasileiros têm pela inovação é muito alta. Se conseguirmos combinar as soluções inovadoras de Israel com o conhecimento e a escala para produzir dos brasileiros, o céu é o limite”, assegura Reich.
Aspectos que fazem de Israel uma nação agritech, e o potencial para parcerias com o Brasil, serão discutidos no 6º Fórum de Agricultura da América do Sul, que acontece nesta semana (23 e 24) no museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Um dos palestrantes do evento é Oded Distel, diretor de Programa de Novas Tecnologias de Israel.
Tanto Nova Zelândia como Israel ainda têm números modestos no comércio bilateral com o Brasil. Os negócios entre Brasil e Israel, nos sete primeiros meses deste ano, chegaram a US$ 750 milhões, com um déficit de US$ 342 milhões para o lado brasileiro. Já nas relações comerciais com a Nova Zelândia, as trocas alcançaram valor de apenas US$ 70 milhões, novamente com déficit para o lado de cá, de US$ 2,69 milhões. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.