Sistema é popular na Europa, onde há maior escassez de mão de obra| Foto: DAMIEN MEYER/AFP

Uma pesquisa de três anos com sistemas de produção de leite em seis países da União Europeia apontou os prós e contras, do ponto de vista econômico e ambiental, de deixar a ordenha e a alimentação das vacas por conta de robôs. No início do estudo, em 2013, mais de 10 mil produtores europeus já utilizavam um ou mais sistemas automatizados nas propriedades leiteiras.

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A conclusão do Projeto Autograssmilk foi de que a opção mais vantajosa é integrar a alimentação provida por robôs (silagem e feno) com a pastagem ao ar livre. Os argumentos científicos desmistificam o falso dilema de que os pecuaristas deveriam escolher entre um ou outro sistema.

Do ponto de vista econômico, o estudo comprovou que a redução da mão de obra proporcionada pelo uso de robôs não se perde quando a pastagem é reintroduzida. Um experimento levado a campo na Irlanda revelou que o sistema integrado manteve uma economia de 36% com mão de obra. Por ter um custo menor, cada tonelada adicional de pastagem aumentou o lucro líquido dos produtores irlandeses em 267 euros por hectare (quase mil reais). Ainda que os custos variem conforme o país, na Holanda, por exemplo, a alimentação a pasto é 10 centavos de euro mais barata por quilo de matéria seca do que a silagem.

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Pacto pela Pastagem

Por outro lado, diz a pesquisa da Comissão Europeia, na Dinamarca os consumidores de lácteos se dispõem a pagar mais caro pelo leite de vacas criadas em sistema que inclui a alimentação a pasto. Esse comportamento reflete a importância que o consumidor europeu, em geral, dá ao bem-estar animal e às atividades econômicas feitas com maior sustentabilidade. Na Holanda, o cenário de vacas leiteiras pastando é um símbolo nacional e a diminuição dessas áreas, devido ao confinamento, levou à criação do Convenant Weidegang (Pacto pela Pastagem). A iniciativa, que reúne 66 instituições da área de lácteos, propõe que pelo menos se mantenha o nível atual de fazendas leiteiras com pasto (em 82% em 2012).

No caso do sistema integrado - robô e pasto -, diz o estudo, o produtor continua com mais tempo disponível para a família e outras atividades, enquanto as vacas gozam do benefício do comportamento natural, liberdade de movimentos, exercícios e exposição direta ao sol e ao ar fresco. Tudo isso acaba se traduzindo em uma percepção mais positiva por parte do consumidor, tanto em relação à saúde das vacas como à qualidade do leite. “A sustentabilidade é um parâmetro crítico para todos os sistemas futuros de criação animal”, diz a coordenadora do projeto, Bernadette O’Brian, do centro de inovação Teagasc, na Irlanda.

Segundo O’Brien, 50% das novas instalações leiteiras na Europa são automatizadas. Os pesquisadores do projeto Autograssmilk desenvolveram uma ferramenta batizada de Grasshopper (gafanhoto), que controla eletronicamente a distribuição das vacas pelos lotes de pastagens, direcionando os animais para onde a “grama” está mais alta e em quantidade suficiente. Na medida em que as vacas se movem de uma parcela para outra, atraídas pelo pasto novo, elas passam por um portão automatizado. O computador lê as informações que cada animal leva em um chip e decide se está na hora de fazer a ordenha, oferecer silagem ou deixá-lo mais tempo ao ar livre.

No Brasil, ainda não há notícia da introdução de robôs dedicados exclusivamente à alimentação das vacas. Segundo Altair Valotto, veterinário superintendente da Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), o que vem se popularizando é o uso das ordenhadeiras automatizadas. Nesse sistema, a vaca se dirige sozinha à sala de ordenha onde um robô usa sensores de raio laser para colocar as teteiras. Enquanto a ordenha acontece, o maquinário oferece a cada vaca a quantidade certa de ração (conforme estatísticas individuais de produtividade), faz a higienização do úbere, controla a temperatura ambiente, comanda a limpeza do piso e direciona o leite para o tanque de resfriamento.

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