O presidente da JBS, Wesley Batista, afirmou que a abertura de capital (IPO, sigla em inglês para oferta inicial de ações) nos Estados Unidos vai ficar para o segundo semestre. O adiamento da operação é uma das consequências da operação “Carne Fraca”, que investiga fraudes fiscais e sanitárias nos frigoríficos, deflagrada em meados de março.
“Um IPO no segundo semestre é o momento mais próximo para tentar sair a mercado, já que ainda há alguns questões pendentes devido a isso que aconteceu no setor. Tudo depende do mercado, mas acreditamos que o segundo semestre é a janela mais possível”, avaliou durante teleconferência a analistas.
Em dezembro a JBS anunciou a intenção de fazer nos Estados Unidos, na Bolsa de Nova York, a abertura de capital da subsidiária holandesa, que é onde está concentrada as operações internacionais. A ideia era que o IPO fosse feito no decorrer do primeiro semestre.
Batista explicou que a repercussão da “Carne Fraca” poderia gerar dúvidas nos investidores e, por essa razão, a empresa optou por esperar que essas questões fossem esclarecidas e não correr o risco da operação influenciar o momento de precificação (quando é determinado o valor da ação, a depender da demanda de investidores) . A operação da PF também contribuiu para a redução do resultado na unidade brasileira de bovinos no primeiro trimestre, já que a produção precisou ser paralisada e os gastos com publicidade também ficaram acima do previsto.
“Não vamos estar na frente do investidor para discutir outra coisa que não seja a companhia, os resultados e as perspectivas, ou não vai valer a pena e isso vai prejudicar o nosso objetivo, que é fazer com que as operações internacionais tenham um preço que a gente acredita ser o correto”, explicou.
Batista ressaltou ainda que o objetivo principal desse IPO não é reduzir a alavancagem da empresa, que está em 4,20 vezes (relação entre dívida líquida e o Ebitda). Segundo ele, uma parte da oferta de ações ajudaria a melhorar essa relação, mas o que irá influenciar na desalavancagem será a capacidade da empresa em elevar a sua geração de caixa, principalmente na operação americana.
Influência da operação da PF
Sobre a “Bullish”, operação da PF que investiga as operações do frigorífico com o BNDESPar e foi deflagrada na última sexta-feira, o executivo acredita que ela não irá influenciar no processo de IPO. De acordo com ele, o entendimento do jurídico é que não há impedimentos para a JBS continuar a fazer aquisições ou de fazer uma oferta pública.
“Nós estamos analisando o despacho de sexta-feira. No nosso entendimento isso não cria problemas para seguirmos adiante”, avaliou.
Na noite de terça-feira (16) a JBS anunciou que registrou um lucro líquido de R$ 422,3 milhões no primeiro trimestre do ano, revertendo o prejuízo de R$ 2,7 bilhões que registrou em igual período de 2016. Essa reversão foi possível graças à forte redução das despesas financeiras no período. Por outro lado, o frigorífico viu sua receita líquida cair 14,3%, para R$ 37,6 bilhões devido, principalmente, ao efeito da depreciação do dólar nas exportações.
Além da depreciação do dólar, que afeitou as receitas em dólar, a empresa ainda sofreu com a queda do resultado na JBS Mercosul e Seara, que ficaram com margem de, respectivamente, 1% e 5,3%, bem abaixo das demais unidades.
Segundo Batista, a Carne Fraca, deflagrada em 17 de março, influenciou nesse resultado, já que por três dias todas a operação de bovinos foi paralisada, além de férias coletivas e da suspensão das exportações para alguns mercados por alguns dias.
“Vamos ter um segundo trimestre um pouco melhor, mas não acreditamos que irá voltar aos níveis que tínhamos antes. O mês de abril ainda foi afetado pela Carne Fraca e agora em maio o segmento de bovinos voltou a operar mais dentro da normalidade“, disse a analistas.
O executivo não deu projeção para a margem das unidades Mercosul e Seara, mas afirmou que eles devem continuar em um dígito, mas em um patamar mais elevado.