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Ele se viu desempregado porque a empresa "quebrou de repente, por causa da concorrência chinesa, o patrão chorou de raiva, nós choramos de pena mas choro não paga conta" e, depois de um tempo...

...faltava dinheiro até para o gás, e ele descobriu que gás é coisa que "não vendem fiado de jeito nenhum, que nem cigarro".

Teve de emprestar dinheiro da sogra, "a maior humilhação, até porque ela emprestou sem falar uma palavra".

Mas Deus, ele descobriu também, não só escreve por linhas tortas como até por retalhos de jornal. Voltava da padaria, com pães comprados com os últimos tostões da sogra, ventou, uma folha de jornal lhe bateu na cara.

Ia amassando o papel, viu que eram classificados, levou para casa. Disse que queria seu pão sem manteiga (porque a manteiga estava acabando) e ficou lendo os classificados.

"Procuram-se barbudos" – não acreditou quando leu – "para trabalho interessante, preferencialmente barba branca".

No dia seguinte, estava lá com sua barba branca, que pensara em cortar se conseguisse alguma entrevista de emprego, e agora, quem diria, ia ser Papai Noel de shopping!

– As crianças – disse o gerente – puxam a barba do Papai Noel pra ver se é de verdade. E o senhor, além da barba natural, tem essa barrigona, que beleza!

Em casa, falou à mulher: – Viu? Você sempre falando mal da minha barriga, agora é ela quem vai nos acudir!

No dia seguinte, vestiu a roupa natalina, escovou a barba e foi para a jornada Noel, estranhando que pagassem tão bem para apenas seis horas, mas logo descobriu por que. As crianças maiores não só lhe puxavam a barba, mas também os cabelos e os bigodes, e cutucavam sua barriga para ver se era de almofada. As menores não puxavam nada, mas os pais queriam puxar conversa:

– Conta pro Papai Noel que você não vai mais fazer pipi na cama!

– Fala que você vai perder o medo do escuro!

– Pergunta pro Papai Noel se não é bom comer verdura!

Um pai lhe passou escondido um bilhetinho apenas com a palavra "bola", sussurrando:

– Diz que ele vai ganhar só bola neste Natal, a bicicleta fica pro ano que vem...

E tome criança no colo e xixi nos joelhos. Tinha de fazer voz doce para as que choravam, as mães olhando com desconfiança: não podiam arranjar um Papai Noel mais bonito?

No fim do primeiro dia, chegou em casa "tão quebrado que até a barba doía". Mas continuou Papai Noel até o Natal, todo dia a mulher lavando a roupa natalina e secando ao sol da manhã.

No Natal, o gerente disse que tinha um presente para ele, não queria um emprego? Ele disse que queria, claro, mas também queria a roupa de Papai Noel.

– De lembrança?

– Não, para usar ano que vem!

Ora, disse o gerente, não poderiam lhe pagar horas extras como Papai Noel. Nem quero, ele respondeu cofiando a barba:

– Quero ser Papai Noel de graça!

Sentia-se remoçado, cada dia mais leve, talvez devido ao olhar de encanto das crianças, talvez devido aos olhares de gratidão dos pais, talvez porque se sentisse presenteado com ser útil de forma alegre, andava até rindo à toa!

– E é tão bom rir, não é?

É, o gerente concordou, dizendo que então ele ganharia nova roupa de Papai Noel. Ele o abraçou chorando, o gerente ficou sem jeito, ele explicou:

– É que estou me sentindo uma criança!

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