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Para um grupo de 37 cientistas de 26 países, a MOP3 – conferência da ONU sobre biossegurança que tem início nesta segunda-feira no Expo Trade Pinhais – começou antes. No sábado e no domingo, o grupo que em 2004 se organizou sob a sigla PRRI – Public Research anda Regulation Iniciative – ficou a portas fechadas num hotel de Curitiba para preparar um documento que deve ser divulgado para os 1,3 mil participantes da MOP.

O texto – cujo teor foi adiantado em coletiva à imprensa no sábado – coloca lenha na fogueira dos transgênicos. Ao contrário do governo brasileiro, que ainda não disse a que veio e se vai assinar as mudanças propostas no Protocolo de Cartagena, texto que regula a identificação e transporte de transgênicos entre as fronteiras, os membros da PRRI não têm dúvidas: eles aplaudem o Protocolo, reconhecem sua necessidade, mas alertam para o obscurantismo científico em torno do tema.

"O Protocolo de Cartagena é um meio-termo para agradar os que apóiam e os que não apóiam certas regras de identificação de sementes. O problema do protocolo é que não se baseou numa ciência sólida e ouviu apenas setores ligados ao meio ambiente. Por isso estamos discutindo o assunto até hoje", disse o cientista ucraniano Jaroslav Blume, que trabalha com transgenia.

Blume sintetiza o perfil dos integrantes da PRRI. É um cientista público que presta serviços para universidades, consultorias para governos e permanece indo a campo para o desenvolvimento de pesquisas, característica que faz de sua associação uma voz dissonante em meio à tribo das conferências, formada por lobistas, debatedores políticos e representantes de grandes corporações.

Segundo o belga Piet Van Der Meer, líder do grupo, ele e Jioraslav fazem parte de uma comunidade de aproximadamente 100 mil pesquisadores independentes de todo mundo que, curiosamente, nunca foram convidados a participar de negociações do protocolo.

O ponto de vista do PRRI tende a engrossar o caldo da discussão em torno dos transgênicos. Esses cientistas não se alinham nem com as empresas privadas, em geral na defensiva de seus interesses econômicos, nem com os naturalistas, que tratam a biotecnologia com desconfiança e andam sempre com o dedo no botão de alarme. Formam uma terceira via.

Eles minimizam, por exemplo, o risco de contaminação ambiental provocada pelos transgênicos. "O cruzamento de espécies acontece há milhares de anos. É verificado em espécies selvagens. Além do mais, há barreiras naturais. Não dá para sair dizendo que o milho transgênico vai acabar com a beterraba", comentou Van Der Meer.

Para o belga, o que existem são equívocos profundos em relação à transgenia e aos possíveis danos à saúde. "A biotecnologia melhorou muitas espécies. Foi um ganho para as lavouras. A tragédia de participar das conferências é ter de ouvir representantes de países falarem besteira e não poder corrigir na hora." Para o cientista, fala-se à exaustão da transgenia no campo e se esquece que a vitamina C que enriquece os alimentos é produto da biotecnologia, assim como o desenvolvimento da insulina. Há sempre novidades, como o arroz dourado, rico em vitamina A, o que deve ser de grande ganho para populações que têm nesse alimento a base das refeições. "A biotecnologia precisa ser entendida como uma ciência", acrescenta a brasileira Leila Oda, presente à reunião do PRRI e presidente da Associação Nacional de Biossegurança, órgão de caráter técnico e científico que analisa o impacto dos OVMs que agremia 4 mil pesquisadores brasileiros.

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