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O sobrevôo freqüente de helicópteros foi o aviso de que algo estava mudando em Curitiba e Pinhais, na região metropolitana. Desde domingo, olhares constantes monitoram o que acontece nas duas cidades por conta da largada oficial dos maiores eventos ambientais realizados no Brasil depois da Rio 92: a 3.ª Reunião das Partes Signatárias do Protocolo de Cartagena (MOP3), de segunda-feira a sexta-feira, e a 8.ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8), de 20 a 31 de março. As reuniões são promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Na noite de domingo, com a presença de autoridades e das delegações internacionais que já chegaram à cidade, foi realizado, no Memorial de Curitiba, o cerimonial de boas-vindas. O evento nada mais era do que a apresentação de dois vídeos de recepção, gravados pelo prefeito Beto Richa e pelo governador Roberto Requião.

"A idéia mesmo era só começar a integração", comenta o superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no Paraná, Marino Gonçalves. Os participantes foram brindados com um coquetel e com apresentações artísticas. Aos estrangeiros foi apresentada a cachaça, num setor de degustação no segundo andar.

Ao sair da igreja que freqüenta, Antônia do Amaral Meier, 54 anos, viu a movimentação em frente ao Memorial e foi se informar sobre o que se tratava. "Sou interessada em meio ambiente", disse ela, que afirmou desconhecer que Curitiba estava sediando o evento. Contudo, a expectativa dos organizadores é envolver todos os moradores durante o mês de março. "Os ares de Curitiba vão inspirar os participantes a decidir o futuro do planeta", espera Beto Richa. Já o governador é mais incisivo e anseia que o Paraná seja palco de uma mudança radical de posição. "Que se inicie um comportamento novo dos governantes", declarou.

A presença mais esperada da noite se transformou em ausência. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que estava na cidade desde sábado, não foi ao cerimonial de boas-vindas. Membros do ministério disseram que ela foi convocada para uma reunião ministerial de última hora. Contudo, na noite de domingo, na agência de notícias do governo federal, não constava nenhuma reunião ministerial na agenda do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Representantes de organizações ambientais comentavam, na noite de domingo, que a ministra, na verdade, retornou a Brasília para pressionar mudanças de atitude do governo brasileiro. O impasse seria a decisão dos ministros, por oito votos a três, de que o Brasil manteria a posição de defender a especificação "pode conter" e não "contém" e "não contém" para cargas de organismos vivos modificados (OVMs) – os transgênicos.

Marina estaria relutante em declarar uma posição com a qual não concorda. Requião corrobora com a opinião da ministra e diz ser um absurdo a posição condicional. "É como colocar uma frase no nome de um partido: pode conter mensalão", ironiza. Para ele, é preciso deixar claro se a carga é de transgênicos. Já Beto Richa foi mais cauteloso e disse que prefere aguardar as discussões.

A ministra deve ser forçada a apresentar a posição oficial do governo na noite desta segunda-feira, durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura. Ele retorna para a capital paranaense na terça ou na quarta-feira e deve ficar aqui até o fim dos eventos, em 30 de março. Um gabinete ministerial foi montando no centro de convenções para que ela possa despachar de Curitiba.

A abertura oficial da MOP3 acontece nesta segunda-feria, a partir das 10 horas, no Expo Trade Center, em Pinhais. À tarde, os delegados dos 131 países signatários do Protocolo de Cartagena devem se dividir em dois grandes grupos para iniciar as discussões sobre biossegurança. Mas não devem ser tomadas decisões. As plenárias que aprovam revisões no documento só devem acontecer no dia 17, quando encerra a MOP3. "Esta segunda-feira é só o começo", anuncia um dos coordenadores dos eventos, Bráulio Ferreira Dias.

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