Sonia Braga é a estrela de “Aquarius”| Foto: Victor Jucá/Divulgação

Bons filmes nacionais chegam às telas todos os anos. Mas, de tempos em tempos, alguns deles fazem história. A partir desta semana o público vai avaliar se “Aquarius”, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, é realmente um filme brilhante, como foi saudado pela crítica no último Festival de Cannes, ou não. Porém, independente da resposta das plateias e do desempenho que venha alcançar nas bilheterias, uma coisa é certa: estamos diante do maior acontecimento do cinema brasileiro nos últimos tempos.

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Em uma breve retrospectiva do início da década de 2000 para cá, tivemos Fernando Meirelles revolucionando a linguagem e rompendo as fronteiras com “Cidade de Deus”; tivemos José Padilha e seu capitão Nascimento arrebentando bilheterias e acirrando debates com “Tropa de Elite”; e no ano passado vimos Anna Muylaert colocar o Brasil no divã diante dos gringos com seu “Que Horas Ela Volta?”. Mas “Aquarius” deu alguns passos adiante.

No tapete vermelho

O primeiro foi dado em maio na França. Oito anos depois de “Linha de Passe”, de Walter Salles, um representante brasileiro estava na mostra oficial de Cannes, o principal festival de cinema do planeta. Apesar dos elogios, o filme voltou sem nenhum prêmio. No entanto, deixou sua marca de outra maneira. Enquanto o Brasil vivia um momento político turbulento com o processo de impeachment, diretor e elenco protestaram em favor de Dilma Rousseff, destituída na última quarta (31).

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“O Brasil está em uma situação deplorável politicamente. O mais certo naquele momento era marcar posição e dizer o que estava errado”, afirma Kleber Mendonça em entrevista à Gazeta do Povo. Desse ato resultaram movimentos de boicote à produção e, mais recentemente, questionamentos sobre a possibilidade de, por questões políticas, o filme não representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar. Vários cineastas se uniram em defesa do pernambucano.

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Mas seria “Aquarius” um filme político? “Quando você faz um filme retratando o Brasil de forma honesta, a relação com a realidade surge naturalmente”, argumenta o cineasta. Na história de Clara (Sonia Braga), a crítica musical que luta contra a demolição do prédio onde passou sua vida no Recife (PE), estão presentes vários aspectos do cotidiano: corrupção, violência, preconceito e desigualdade social. Por mais sutil que isso pareça em alguns momentos.

A volta de Sonia Braga

O roteiro de “Aquarius” começou a ser escrito em 2012, quando Kleber lançou “O Som ao Redor”, filme premiado internacionalmente e que projetou o nome do diretor. “A demolição é um assunto que me comove. É a destruição de um espaço, de um lugar que tem uma história, de forma violenta”, explica. “Hoje as cidades não estão mais nas mãos dos governos. Quem comanda é o mercado imobiliário, que está apagando a história”.

Uma obra de arte toca no nervo, então dói para alguns, em outros gera euforia. Há uma suspeita de que vão tentar calar o filme, o que obviamente não vai acontecer. No fim, toda essa controvérsia é muito boa, dá ainda mais energia para o filme

Kleber Mendonça Filho Diretor de “Aquarius”

No centro dessa narrativa, surgiu a pessoa que é a força motriz de “Aquarius”: Sonia Braga, musa do cinema brasileiro nas décadas de 1970 e 80, que volta a participar de uma produção nacional depois de 15 anos. Segundo Kleber, a ideia inicial era buscar uma atriz não profissional para o papel. Mas após concluir que aquela era uma ideia “idiota”, chegou-se ao nome de Sonia. “Conseguimos o contato dela e mandamos o roteiro. Em menos de 48 horas ela disse que topava fazer o filme”, relata.

De Recife para o mundo

Rodado inteiramente no Recife, “Aquarius” consolida um movimento importante no sentido da descentralização da produção cinematográfica nacional. No caso de Pernambuco, uma trajetória iniciada há 20 anos com “Baile Perfumado” e que resultou em um dos maiores e mais premiados polos cinematográficos fora do eixo Rio-São Paulo. “São muitos filmes e um nível de acerto grande. Admito que não sei explicar exatamente o que acontece”, diz Kleber.

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“Aquarius” já colecionou fãs e detratores antes mesmo da estreia. Por toda a celeuma política criada, tem muitos adeptos do “não vi e não gostei”. Se Kleber Mendonça está preocupado com isso? “Não, eu vejo isso com naturalidade. Uma obra de arte toca no nervo, então dói para alguns, em outros gera euforia. Há uma suspeita de que vão tentar calar o filme, o que obviamente não vai acontecer. No fim, toda essa controvérsia é muito boa, dá ainda mais energia para o filme”.