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Demógrafos são melhores em fazer previsões do que economistas. Por isso é bom o Brasil se preparar para um fenômeno lento e irreversível que vai mudar completamente suas relações sociais e econômicas. As últimas projeções do IBGE mostram que o envelhecimento populacional brasileiro entrou em um curso já visto nos países ricos da Europa e em diversas nações asiáticas, como Japão e Coreia. Atual­mente, só 7% dos brasileiros têm mais de 65 anos. São 12,6 mi­­lhões de pessoas. Em 2050, os ido­­sos serão 23% da população, ou 49 milhões.

O reflexo econômico mais forte será no mercado de trabalho. A população em idade economicamente ativa deve chegar a seu ápice na década de 2030, quando haverá quase 150 milhões de brasileiros entre 15 e 64 anos de idade. Hoje, são 128 milhões. Em 2050, serão 138 milhões, com a diferença de que a maior parte dos trabalhadores estará com mais de 45 anos. A idade mediana na população pulará dos atuais 27 anos para 46 anos nas próximas quatro décadas.

"O mercado de trabalho terá de se adequar a ter participação maior das pessoas com mais idade e o país terá de fazer esforços para garantir o máximo de autonomia para os idosos, com um sistema de saúde eficiente e cidades adaptadas para sua circulação", afirma o demógrafo José Marcos Pinto da Cunha, professor da Unicamp e presidente da As­­sociação Brasileira de Estudos Demográficos (Abep).

Uma das adaptações que serão necessárias é na gestão do sistema previdenciário brasileiro. Hoje ele funciona como uma piscina onde todos os trabalhadores formais colocam suas contribuições. Dali sai o dinheiro que paga mensalmente as aposentadorias do INSS. Como a piscina seca antes de todos receberem, o governo tem de pagar a diferença. Nos próximos anos, com mais pessoas no mercado de trabalho, é provável que sobre algum dinheiro. Será o momento de o país pensar em como guar­­dar para pagar as aposentadorias de 2050.

"Temos a oportunidade de preparar o sistema para a pressão que virá no futuro. É preciso aumentar a adesão dos trabalhadores ao sistema formal, porque é a maneira de garantir que todos terão o benefício", diz Ana Amélia Camarano, economista especializada em estudos populacionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Nas próximas décadas também vamos ter de debater o estabelecimento de uma idade mínima para a aposentadoria, acima dos 60 anos." A longevidade estimada para 2050 é de mais de 81 anos, enquanto hoje é de menos de 73 anos – a idade média para a aposentadoria é de 57 anos para homens e 52 anos para mulheres.

A grande dificuldade para fazer uma alteração nos critérios para a aposentadoria é a desigualdade na entrada do brasileiro no mercado de trabalho. "No Brasil é muito grande o contingente de pessoas mais humildes que começam a trabalhar muito cedo. É diferente de países desenvolvidos, onde a idade de entrada é mais equilibrada", ressalta a economista Rosa Maria Marques, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Assim, se o sistema atual de repartição, em que trabalhadores da ativa pagam pela aposentadoria dos inativos, tivesse uma idade mínima muito elevada (65, ou 70 anos, por exemplo), penalizaria os trabalhadores que começaram a trabalhar mais cedo.

Uma alternativa de reforma previdenciária seria a adoção do sistema de capitalização, em que cada um tem uma conta individual que será usada para pagar sua aposentadoria. Para os defensores desse modelo, ele resolve o problema de déficits de longo prazo, já que a poupança feita no passado seria usada para pagar os inativos. "O problema é que há o risco de as pessoas mais pobres não conseguirem contribuir com o necessário para uma aposentadoria decente", diz Rosa Maria.

Independentemente da mudança de modelo, o Brasil precisa correr para aumentar a base de contribuintes da Previdência. Um estudo feito pelo pesquisador do Ipea Marcelo Caetano mostra que o número de contribuintes para o sistema previdenciário é menor do que a média mundial – de 56% da força de trabalho contra 67% na média de 52 países. Além disso, o gasto com aposentados é maior do que a média, chegando a 59% da renda per capita. A conclusão é a de que o Brasil é uma das nações com maior dificuldade para manter a sustentabilidade dos gastos previdenciários.

Produtividade

Em outra frente o país terá de fazer uma transição no seu sistema de saúde e acelerar a adoção de tecnologias que aumentem a produtividade das pessoas com mais idade. Juntas, essas duas políticas têm o potencial de melhorar a qualidade de vida e o resultado do trabalho dos idosos. Um exemplo de como essa combinação funciona é o Japão. Lá, a população começou a encolher em 2005 (fenômeno que, no Brasil, vai começar lá por 2040) e a permanência dos mais velhos no mercado é estimulada – mais de 20% dos trabalhadores têm mais de 65 anos.

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