Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Wagner Moura partiu para a briga. Caio Junqueira ameaçou ligar para o chefe. Como os personagens em "Tropa de elite", os atores que participaram do filme foram levados ao limite. E não fazia parte da simulação do treinamento do Bope (Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro).

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Preparadora de elenco do longa de José Padilha, Fátima Toledo conseguiu o improvável: transformar a intensa preparação física a que eles foram submetidos em "fichinha". O segredo da "força" de Fátima é o método de trabalho, que coloca os atores para experimentar as mesmas sensações dos personagens na ficção. Na prática, isso significa que eles têm que se imaginar em situações nem sempre agradáveis - André Filippe de Mauro, que viveu o Pedro no filme, por exemplo, teve que se ver sendo queimado vivo.

De quebra, os atores não recebem os roteiros das cenas, nem têm idéia do que está por vir. Para "Tropa", foram três meses de preparação.

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- No meu método, o ator não constrói personagens. Faço com que eles encontrem o personagem dentro deles mesmos - explica Fátima.

- É um exercício doloroso, porque as pessoas têm que se livrar de vaidade, explorar o lado obscuro. Não cultuo ninguém. Eu destruo atores. É assim: ou ele se despe ou desiste.

Não duvide se até o Capitão Nascimento pedisse para sair.

E não seria o primeiro. Ou o 01, como no filme. Na função há mais de 27 anos - antes de "Tropa", ela já preparou os atores para filmes como "Cidade de Deus" (2002) -, Fátima conta que muita gente já ameaçou abandonar filmagens no meio do trabalho.

- Sempre há crises. Mas, no fim, eles acabam persistindo. Percebi que quando alguém diz 'desisto' é porque voltará com tudo. É um jogo, ninguém gosta de perder. É o que acontece com a maioria deles.

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Do elenco de "Tropa", talvez Wagner Moura tenha sido o primeiro a pensar em gritar "eu desisto!". O ator teve uma experiência um pouco mais brutal com a preparadora e seu método. Wagner, que acabara de se tornar pai quando foi convidado para participar do longa, não conseguia "colocar para fora" o Capitão Nascimento.

- Wagner estava ainda mais zen por causa do bebê. Tínhamos que tirá-lo do sério - conta.

A solução encontrada não foi nem um pouco ortodoxa. - Chamei o Storani (Paulo Storani, ex-Bope, que ajudou na preparação) e ele pegou no ponto fraco: falou mal da família dele. Wagner partiu para cima, quebrou o nariz dele. Foi aí que nasceu o personagem.

Experiência semelhante foi vivenciada por Caio Junqueira, que interpreta o afobado Neto. Durante a preparação, o ator pediu uma tarde de descanso. Propositadamente, Fátima não só atendeu o pedido como deu mais dois dias de folga.

- Caio ficou angustiado, disse que não precisaria de tudo isso. No outro dia, apareceu para ensaiar. Mandei-o de volta para casa, ele se rebelou, disse que ligaria para o Padilha - diverte-se. Ponto para ela.

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- O ator tem que se sentir inseguro. Ele rende mais.

É partindo desse pressuposto que a preparadora costuma achar ser mais fácil trabalhar com não-atores. Foi com eles, inclusive, que testou o seu método pela primeira vez, em 1981, durante as filmagens de "Pixote, a lei do mais fraco". "Cidade de Deus" confirmaria mais tarde o sucesso dele. Pelo método, saíram Jonathan Haggensen, Leandro Firmino e Alice Braga. André Ramiro, o Matias de "Tropa", é a última revelação. E vem mais por aí com "Linha de passe", de Walter Salles e Daniella Thomas, em 2008.

- Não acredito que existam atores que nascem com talento. Também não acho que transformo qualquer um em ator - diz.

- Com vontade, dá para chegar no limite - acrescenta. Para aceitar o jogo dela, haja força de vontade.

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