É quase consenso hoje que estamos no ponto de inflexão da economia. Os sinais concretos ainda são muito fracos, mas ninguém fala mais que a situação do Brasil vai piorar. As dúvidas são sobre a velocidade e força da recuperação.
A aprovação em primeiro turno da PEC que estipula o teto para o gasto público é o grande marco dessa inflexão econômica. Ocorre justamente quando o otimismo com relação ao futuro está melhorando e passa uma mensagem positiva alguns dias antes de o Banco Central começar a baixar os juros.
Foi emblemático que a mensagem sobre o projeto para a sociedade tenha sido dada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em cadeia nacional de tevê. Para quem acompanha de perto o debate político, é bastante claro que ele é o fiador do governo Michel Temer. Se seu trabalho não der resultado, haverá pouco a mostrar até 2018. Pronunciamentos e entrevistas de Meirelles deixam essa posição mais clara para toda a sociedade.
O caminho proposto por Meirelles e sua equipe é dos mais duros. O gasto público vai passar por uma dieta forçada por pelo menos uma década. Menos do que isso não daria ao mercado a confiança de que o país no longo prazo honrará suas dívidas.
Após concluir a votação dessa PEC, o Congresso estará já comprometido com a reforma da Previdência, que começa a tramitar entre o fim de outubro o início de novembro. Não existe alternativa porque o teto de gastos não permitirá que o governo acomode o custo crescente da Previdência sem cortar em outras áreas. O risco de não aprovar a reforma previdenciária é não sobrar nada para as outras áreas.
Com as votações andando, o governo pode ver a parte mais difícil do trabalho de recuperação da economia fechado até o fim do primeiro semestre de 2017. Será o momento em que os dados da economia real vão melhorar.
A tendência é que os juros comecem a cair ainda neste mês de outubro. A inflação corrente já desacelerou bem e a aprovação do teto do gasto melhora a percepção sobre as contas públicas. O câmbio sob controle nos últimos meses também dá uma folga para o BC relaxar a política monetária. O ritmo não deve ser muito rápido, mas será um alento.
A ponta que falta para o governo fechar 2018 bem nas pesquisas de aprovação é o crescimento ser melhor do que o projetado hoje pelo mercado. Os economistas mais otimistas indicam uma expansão na casa de 2% em 2017 e entre 3% e 4% em 2018. Bom, mas talvez insuficiente para uma recuperação forte do emprego.
O histórico de recuperações, no entanto, joga ao lado da equipe de Meirelles. Estudos sobre as retomadas pós-recessões no Brasil e outros países da América Latina mostram que a média de crescimento é de pouco mais de 4% no ano seguinte ao fim da recessão. Poderíamos entrar 2018 em ritmo de 5% se o investimento prometido em infraestrutura realmente andar a partir do ano que vem.
Inflação em queda, juros baixos e emprego crescendo. Esse é o cenário otimista para o segundo semestre de 2018, muito tentador para o governo se organizar fazer o próximo presidente. Como fiador dessa transição, Meirelles seria um nome forte para a corrida presidencial de 2018.
Detalhe importante dessa história, o ministro da Fazenda nunca escondeu que gosta de política. Era deputado federal quando aceitou o convite para presidir o BC nos anos Lula. Migrou para o PMDB para tentar viabilizar sua participação em alguma chapa em 2010. Teria gosto em participar do processo caso o presidente Michel Temer mantenha a palavra e não concorra à reeleição.
Resta a pergunta: o plano de recuperação fiscal se compara politicamente ao Plano Real? O tipo de ajuste feito agora é muito mais difícil de vender em uma eleição. Mas Meirelles pode ter números suficientes para convencer a plateia.
Em alta
As empresas chinesas saíram às compras no Brasil e estão se tornando grandes em alguns setores. A China Three Gorges já é a maior geradora de energia elétrica do Brasil, após aquisições de quase R$ 20 bilhões.
Em baixa
A aprovação da PEC do teto do gasto público começou seu caminho para ser aprovada ainda neste ano. Será um instrumento poderoso para segurar o crescimento do gasto público na próxima década.
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