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Dez em cada dez e-mails que recebo pelo financaspessoais@gazetadopovo.com.br se referem a investimentos. Investir é importante para quem pensa no futuro, mas convém não esquecer que qualquer estratégia bem sucedida precisa contemplar três aspectos da vida financeira: ganhar dinheiro, poupá-lo e multiplicá-lo. Os investimentos entram na última etapa. Para fazê-los é preciso ter dinheiro em caixa e consumir de maneira inteligente. É desse tema, o segundo no tripé citado acima, que vamos falar hoje.

Uma discussão bem interessante nesse sentido surgiu a partir de um comentário do jornalista Kenneth Rapoza, da revista Forbes, que saiu no sábado em um dos blogs da publicação. O texto que deu origem ao debate intitula-se "Brazil's Ridiculous $80,000 Jeep Grand Cherokee" ("O ridículo Jeep Grand Cherokee de US$ 80 mil do Brasil") e apresenta a um leitor global um absurdo que os brasileiros conhecem muito bem: o alto preço dos automóveis por aqui. No caso, o dinheiro gasto para comprar um jipe no Brasil seria suficiente para comprar três nos EUA. Mas o foco do jornalista não está na lenga-lenga de impostos altos e mão de obra cara, argumentos com que as montadoras justificam seus preços. O tema até aparece, mas aliado a outro: a ingenuidade do consumidor, que paga por um status que o veículo, na verdade, não tem.

Automóveis, entre outros produtos, são classificados como bens posicionais – as pessoas atribuem valor a eles não apenas pelo que representam em termos de satisfação de necessidades (deslocamento, conforto), mas pela comparação com outros bens (maior ou mais "chique"). O blogueiro da Forbes observa, entretanto, que o Grand Cherokee em sua terra de origem é um carro de classe média. Não é usado por presidentes de empresa, mas por trabalhadores assalariados em geral. Segundo ele, um Jeep nunca poderia ser comparado, como símbolo de prosperidade, a marcas como BMW, Mercedes ou aos esportivos italianos. "Não seja enganado pelo preço da etiqueta", escreve. "Definitivamente, você está sendo roubado."

Rapoza, conhece o comportamento brasileiro porque viveu por dez anos no país. Foi correspondente de diversas publicações, incluindo o Wall Street Journal. Quem quiser conferir o texto original (em inglês), pode encontrá-lo em http://blogs.forbes.com/kenrapoza. Se puder, dê uma olhada nos comentários, que incluem alguns pitacos de leitores e respostas do blogueiro, parte delas escritas em português.

Há um bom debate econômico nessa história. Quem pensa que o preço de um produto é definido apenas com base no custo de produção está sendo, novamente, ingênuo. Os preços tendem a refletir o valor que o consumidor dá aos produtos ou serviços. E essa é uma avaliação subjetiva. Pense, por exemplo, em um aquecedor e em um ventilador, ambos com custo de produção e distribuição rigorosamente igual. No inverno curitibano (em um inverno normal, não nesses dias ensolarados que temos tido), o aquecedor será mais valorizado pelo consumidor. Em consequência, custará mais.

Jipões e fusquinhas

No caso do aquecedor, o preço vem do valor de uso. No caso dos carros, ele é só parte da história. O consumidor valoriza exclusividade, imponência, luxo, atributos que nem sempre têm correspondência com o uso corriqueiro. A moda dos utilitários esportivos (como o próprio Grand Cherokee) é ilustrativa. São veículos robustos, desenhados para rodar fora-de-estrada, embora raramente se veja algum metido na lama – de fato, o que mais há nas estradas rurais da região metropolitana de Curitiba são carros velhos, de fuscas a Monzas com mais idade do que a maioria dos leitores desta coluna.

Tudo isso vira preço. Assim, é possível dizer que a valorização de carrões importados como esse decorre da cabeça do consumidor – como escreveu o jornalista da Forbes. Não é errado dizer que a carga tributária contribui para elevar o preço, nem que há muita ganância na política de preços das montadoras. Mas o consumidor também tem sua parte.

Claro, nem tudo é tão simples. Esses carros incluem opcionais de segurança que não estão presentes na maioria dos veículos nacionais. Duvido, entretanto, que seja nisso que pense a maioria dos consumidores.

Consumo inteligente inclui pagar pelo que tem valor para você. Se for segurança e conforto, ótimo. Se aparência e exclusividade te fazem feliz, ótimo, também – desde que você saiba o impacto dessas decisões sobre o seu rico dinheirinho.

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