O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de Toledo, Oeste do Para­ná, atinge R$ 1 bilhão, o maior entre os municípios do estado. Não fosse a quebra na safrinha de milho, o indicador das riquezas geradas no campo teria condições de superar essa marca – no entanto, o município apenas restabelece o recorde obtido em 2007. Poderia ser melhor? As variáveis são inúmeras e algumas delas imprevisíveis, mas a resposta é sim: sempre pode ser melhor. No caso de Toledo, a avaliação mais em linha com a realidade é que poderia ser pior, não fosse uma combinação de fatores que favorecem a economia agropecuária local. E não se trata apenas do clima ou das vocações regionais.

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As políticas públicas também são importantes, porém o que realmente faz a diferença são o empreendedorismo e a participação da sociedade no desenvolvimento econômico e social da região. Mais do que a vocação regional, é preciso reconhecer e exaltar a vocação das pessoas que fazem o agronegócio acontecer e movimentar a economia no campo e na cidade.

Também é essa vocação que faz de Toledo um dos municípios mais diversificados do estado e do país. Em parte, uma característica que ajuda a justificar seu expressivo VBP no segmento agro. Grãos, aves, suínos, peixes, frutas e leite, uma cesta de produtos que segue um processo de diversificação ordenada e sustentável, pensada em cadeia ou sistemas integrados de produção. Frango e suíno nada mais são do que a transformação de grãos em carnes. Produção primária que é processada no próprio município e passa a compor uma cadeia de valor agregado, não mais ou apenas do VBP. Mas começa a ter participação na conta do PIB, o Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas dentro de seus limites territoriais, no ambiente urbano e rural. É onde o efeito multiplicador da produção primária, de dentro da porteira, faz girar setores como indústria, comércio e prestação de serviço. Gera emprego, renda e divisas a partir do agronegócio.

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Também é nos números que o VBP traduz a força de um agronegócio diversificado e teoricamente sustentável. Assim como em todo o Brasil, a produção de grãos e cereais é relevante no município, mas está longe de ter a principal participação no VBP. Mais uma vez, estratégia inteligente de agregação de valor. A principal origem do R$ 1 bilhão é a comercialização de suínos, com aproximadamente R$ 360 milhões. Em seguida estão as aves, com mais de R$ 270 milhões, marca muito próxima da agricultura, que aparece em terceiro com R$ 270 milhões. Culturas tradicionais como soja, milho e cereais de inverno respondem por pouco mais de 27%, enquanto suínos e aves têm respectivamente 36,5% e 27,4%. Para constar, 90% do VBP de Toledo é sustentado em cima de cadeias produtivas que se complementam, ou se completam, em sistemas de produção.

Maneira sustentável e inteligente de fazer agricultura e pecuária.

Mas para atingir essa marca e status o produtor em Toledo tem que fazer mais do que plantar e colher, criar frango ou suíno. Ele também constrói estrada.

Através de uma parceria público-privada, a pavimentação das vias rurais é bancada em parte pelo agricultor. Implan­tado em 2005, o programa já investiu R$ 27 milhões em 150 quilômetros, segundo a prefeitura. A meta é atingir 180 quilômetros em 2011, com uma contrapartida de 30% dos recursos provenientes do bolso do produtor. A função é do estado, mas pergunte se a comunidade concorda ou não em pagar parte da conta. Com raras exceções, a resposta é sim, por entender que estradas em condições de tráfego facilitam o escoamento, traduzem-se em eficiência no transporte e redução nos custos de produção, além do ganho social e da qualidade de vida da população que vive no campo. A malha municipal conservada favorece não somente a produção como a logística necessária à industrialização. Calcula-se que 50% da produção local são transformados no município.

Toledo mostra então que o produtor faz a sua parte. E de certa forma ajuda o estado a fazer a sua. O que não deixa de ser obrigação do agricultor assim como de todo o cidadão. Mas não vamos esquecer que ele já faz isso produzindo, gerando emprego e pagando impostos. Se agora ele constrói estrada, isso é necessidade, não boa ação. A rigor, quem deve fazer isso é o município, o estado ou o país.

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Esses 30% de contrapartida do produtor na pavimentação pode fazer a diferença em anos de crise no campo. Na melhor das hipóteses são alguns sacos de soja ou quilos de frango que comprometem cada vez mais as já achatadas margens do agronegócio.

A lógica seria desonerar o setor. Mas se não tem outro jeito, que assim seja. O importante é deixar claros os papéis. Vamos comemorar o VPB de R$ 1 bilhão, mas vamos dar nome aos bois. Que neste caso é menos governo e mais produtor.