O título já é trágico por si só. A situação, entretanto, é ruim para os dois lados: para o profissional, que provavelmente abandonou sua estabilidade anterior para uma nova oportunidade em que não se vê satisfeito, e para a empresa, que contratou um profissional na esperança de ter seus problemas resolvidos e, em pouco tempo, vislumbra sua incapacidade técnica ou falta de aderência no perfil comportamental ou de valores com a empresa.
Júlio era um rapaz de trinta anos e foi contratado para uma vaga de assistente em uma multinacional. Como havia sido indicado por um amigo de um bom funcionário da empresa, Júlio foi contratado com muito entusiasmo.
Em um mês de empresa recebeu grande cota de responsabilidade, todos confiavam muito em seu potencial. Como já era o esperado, ele apresentou bons resultados nos dois primeiros meses de emprego. Era pontual, fazia seu trabalho de maneira rápida, possuía um bom relacionamento interpessoal entre as pessoas e, pela sua técnica avançada, arriscava opinar sobre algumas questões estratégicas da empresa, um pouco além do que sua função demandava. Porém, logo no terceiro mês, alguns fatos inusitados começaram a ocorrer.
Não demorou a chegar ao conhecimento dos diretores algumas reclamações a respeito da conduta do rapaz. Conforme os relatos, ele estava faltando com respeito com as colaboradoras da empresa e, em alguns momentos, soltava palavras embaraçosas, sendo altamente desrespeitoso. Em um dos encontros fora do expediente, ele chegou a provocar uma briga com o marido de uma de suas colegas, pois havia mexido com a moça após tomar algumas doses de bebida alcoólica. Desse modo, após esse evento, o burburinho entre as equipes foi inevitável.
Para os gestores, esse fator não comprometeria o trabalho de Júlio, e, com o tempo, tal postura poderia ser modificada. Após uma semana, seu chefe direto, Rafael, pediu que o rapaz fosse a sua sala e se pôs a dizer alguns sermões. Falou sobre a satisfação profissional quanto ao trabalho realizado, porém ressaltou a quantidade de reclamações que vinha recebendo de diferentes colaboradores e por distintos motivos. Júlio reconheceu que estava errado em algumas situações, porém, destacava que boa parte daquelas reclamações provia de algumas pessoas que o queriam longe da empresa, como um complô. Mesmo assim, deu sua palavra de que sua postura seria diferente dali para frente e que seu trabalho não seria prejudicado.
Rafael lhe deu mais uma chance, e Júlio durante um tempo manteve um bom comportamento. Passaram-se mais dois meses, e o clima na empresa não era o mesmo. As fofocas e burburinhos eram comuns, ninguém acreditava nas mudanças de Júlio, apenas a gestão. A maioria das pessoas se sentia incomodadas com a presença dele e muitos não lhe proferiam uma única palavra fora do essencial que o trabalho exigia.
Entretanto, levou algum tempo para que Júlio mostrasse sua real personalidade. Com a entrada de uma nova funcionária, ele começou a demonstrar novamente sua falta de respeito. Indignada com o tratamento, contou o caso a uma das antigas funcionárias que logo comentou com outras mulheres. O fato evoluiu de tal forma, que elas precisaram se reunir e ir até os diretores para contar a evolução dos acontecimentos e, que se ele continuasse na empresa, todas pediriam demissão.
Dentro dessa manifestação, Rafael não pensou em outra solução, precisava demitir Júlio. O fato é que essa demonstração de caráter já havia sido percebida anteriormente e nada foi feito a respeito.
Somaram-se sete meses para a resolução do caso. Durante todo esse período, a equipe trabalhava em clima desconfortável, o que consequentemente atrapalhava sua produtividade.
Muitas vezes, a demissão é uma etapa difícil de ser tomada pelos dirigentes, mas em alguns casos é necessário pensar se continuar com um funcionário com mau comportamento pode valer a pena.
Na coluna Talento em Pauta desta terça-feira falarei mais sobre contratações erradas, e o que podemos fazer para evitar e consertar uma decisão equivocada. Até lá!
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