Embora seja interessante como reserva financeira, a caderneta é criticada pela ótica de investimento, já que tem rentabilidade excessivamente baixa| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Embora seja a aplicação mais conhecida e popular do país, a caderneta de poupança guarda “pequenos segredos” que podem comprometer a rentabilidade, já reduzida diante da combinação de inflação e juros em alta. Atenção a esses detalhes, além de uma dose de método e disciplina, ajuda a caderneta a se tornar uma reserva financeira mais interessante.

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O principal detalhe a que o poupador deve atentar é a data de aniversário da conta, que é o dia do mês em que o dinheiro foi aplicado. A remuneração de juros, que é mensal, ocorre toda vez que a data se repete, nos períodos seguintes. A exceção são os depósitos feitos nos dias 29, 30 e 31, que recebem juros no dia 1º. Sacar valores antes dessa data implica perda do rendimento acumulado no período anterior e, portanto, depreciação do montante aplicado.

O ideal é que o depositante se lembre dessas datas ou, então, que eleja determinado dia do mês para fazer as operações, de forma a vincular o rendimento a um único dia mensal. “É legal programar os depósitos para que aconteçam sempre no mesmo dia, porque, ao longo do tempo, é normal ir perdendo esse controle de datas”, diz a planejadora financeira Licelys Marques, certificada via IBCPF.

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Outra armadilha é esperar o mês transcorrer para, ao final dele, realizar o depósito. A recomendação de Thiago Alvarez, fundador de aplicativo de controle financeiro GuiaBolso, é de que o aporte seja realizado logo após o recebimento do salário, de forma a evitar que despesas supérfluas consumam o dinheiro que seria destinado à caderneta.

Alvarez afirma que, para um bom orçamento doméstico, é preciso reservar para a poupança em torno de 15% da renda mensal, deixando 50% para gastos essenciais e os 35% restantes, para despesas especiais, conforme o padrão de vida que se almeja.

Também estão entre as recomendações de especialistas a realização de depósitos programados, em que o dinheiro é transferido da conta corrente para a poupança automaticamente, em dia escolhido e com valor previamente definido. A dica é especialmente útil para quem tem pouca disciplina para poupar voluntariamente.

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Mau investimento

Embora seja interessante como reserva financeira, a caderneta é criticada pela ótica de investimento, já que tem rentabilidade excessivamente baixa – neste ano, inferior à variação da inflação. Um hipotético investimento de R$ 1 mil, feito no começo do ano, acarretaria prejuízo de R$ 28,20 até abril, consideradas a rentabilidade da caderneta (1,74%) e a inflação oficial (4,56%) do período.

“Quem investiu na poupança perdeu poder de compra, e isso é preocupante. Se, ao longo do tempo, você investir em produtos que perdem para a inflação, o dinheiro estará se descapitalizando”, diz Licelys.

A tendência é de que a caderneta só recupere rentabilidade – hoje, está em torno de 0,60% ao mês – à medida que a inflação recue e permita o relaxamento da taxa básica de Juros (Selic), em curva ascendente há três anos e meio e, hoje, em 13,25% ao ano. Até lá, a recomendação é usar a poupança apenas para fins de reserva emergencial, com atenção às dicas para elevar a discreta rentabilidade.

Recomendações

Faça a sua caderneta render o máximo possível:

1 Não deixe dinheiro parado. Direcione para a poupança valores que estão parados na conta corrente, sem expectativa iminente de uso, para que sejam remunerados com juros mensais.

2 Deposite na mesma data. Faça os depósitos sempre no mesmo dia do mês, para facilitar o controle da data de aniversário da poupança, dia em que os juros são creditados.

3 Aplique logo. Aplique o dinheiro assim que receber o salário, de forma a evitar canalizá-lo para despesas supérfluas.

4 Programe o depósito. Programe a conta corrente para depositar automaticamente na poupança, em dia a ser escolhido, o valor desejado. Isso automatiza o processo e previne esquecimentos.

5 Guarde dinheiro extra. Se você tem dificuldade para poupar mensalmente, opte por depositar dinheiro extra, como 13º salário e restituição de Imposto de Renda, que não exigem aportes periódicos.

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Caderneta tem déficit superior a R$ 30 bilhões no ano

A caderneta de poupança acumula saldo negativo de R$ 33,95 bilhões no ano, até o dia 19 deste mês. A diferença entre depósitos e saques é a maior, para este período, desde o início da série histórica feita pelo Banco Central, em 1991. É a primeira vez, nos últimos quatro anos, que a aplicação chega à metade de maio com déficit.

A principal explicação para as perdas é um movimento intenso de poupadores que, diante das dificuldades da economia, resgatam valores para não ficarem inadimplentes. “O que está ocorrendo é a saída do pequeno investidor para cobrir as despesas mensais. O dinheiro que ele tem hoje não é suficiente para pagar todas as contas”, diz a planejadora financeira Myrian Lund, que também é professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ela afirma que a situação é grave, pelo fato de a poupança ser uma aplicação de característica mais familiar do que pessoal e formada, principalmente, por quantias pequenas ou médias.

Uma razão secundária para a acentuada evasão de recursos é a busca dos investidores por opções mais sofisticadas e atraentes. Thiago Alvarez, fundador de aplicativo de controle financeiro GuiaBolso, destaca modalidades como Tesouro Direto e letras de crédito, entre outras. “Há fundos de renda fixa que são tão cômodos e seguros quanto a poupança, que está no fim da fila dos melhores investimentos.”