Preocupado com a demora da economia em reagir, o Palácio do Planalto começou a cobrar da equipe econômica medidas de estímulo à atividade. O rol de ações, no entanto, é limitado. O governo não quer seguir o caminho da ex-presidente Dilma Rousseff de fazer desonerações tributárias e conceder crédito subsidiado ao setor produtivo. Por isso, uma possibilidade é a liberação de compulsórios (depósitos de recursos que os bancos são obrigados a fazer no Banco Central), para aumentar a oferta de crédito.
A adoção desse mecanismo não é unanimidade. Ele é defendido pela ala política, mas não conta com a simpatia do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Mesmo assim, os interlocutores do presidente Michel Temer acreditam que essa seria uma ação favorável para incentivar setores específicos. A redução do compulsório poderia ser direcionada para a oferta de capital de giro, por exemplo.
Os integrantes do Planalto reconhecem a importância de medidas estruturais — como a aprovação de um teto para os gastos públicos e a reforma da Previdência —, mas têm dito que também é preciso reanimar a economia para além da agenda fiscal. Eles destacam já haver uma percepção da população de que a situação melhorou nos últimos meses, mas que isso ainda não se traduziu em fatos concretos.
Falta estímulo ao consumo
A inflação, por exemplo, perdeu fôlego. Ela está acumulada em 6,38% até novembro, percentual bem inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, de 9,42%. No entanto, como o desemprego ainda está elevado, isso não estimula o consumo.
Também já há uma pressão política para que o BC acelere a trajetória de queda das taxas de juros. A Selic está hoje em 14% ao ano, mas os assessores do presidente falam nos bastidores que ela poderia cair 0,50 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). No entanto, a principal aposta é que a redução será menor, de 0,25 ponto.
Um dos motivos pelos quais o BC tem reservas à liberação dos compulsórios é que isso aumentaria a oferta de dinheiro na economia e pressionaria a inflação. No entanto, os defensores da ideia dizem que, se houver um direcionamento bem feito dos recursos, a medida não vai impactar os índices de preços.
PIB: projeção menor para 2014
O desânimo com a atividade já afetou as projeções do mercado financeiro para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017. Segundo a pesquisa Focus, do BC, a expansão deve ser de apenas 0,98%. No auge do otimismo após o impeachment de Dilma, a projeção era de expansão de 1,36%.
Entre os motivos que levaram à piora está a demora na apresentação da reforma da Previdência, o agravamento do drama fiscal nos estados, o atraso do novo modelo das concessões e também a recente crise política.
A equipe econômica já reconheceu que o desempenho da economia ficará abaixo do esperado em 2017. Tanto que a estimativa oficial para o PIB do ano que vem foi reduzida de 1,6% para 1% na semana passada.
Na ocasião, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fábio Kancsuk, afirmou que essa revisão ocorreu porque as empresas ainda estão muito endividadas, o que tem aumentado os spreads (diferencial entre o que o banco paga para captar recursos e o que ele cobra de seus clientes). Isso atrasa a recuperação. Ele também reconheceu que o crescimento de 1% é a “melhor projeção” do governo, e que tem “riscos simétricos” de o número ser maior ou menor.