Nas empresas privadas, a primeira atitude diante de uma crise de proporções incertas é cortar gastos que até parecem insignificantes, como corridas de táxi e impressão de documentos. Coisa parecida poderia ser feita no setor público, mas com uma grande barreira: a dificuldade de impor uma norma social de eficiência nos gastos que englobe toda a imensa máquina do governo.
"Este é um momento em que é preciso avaliar cada gasto, por menor que seja", diz o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas. "Os órgãos públicos podem usar de forma mais racional recursos como energia elétrica, máquinas de fotocópia, aluguel de carros, ou outros gastos pequenos." O site da Contas Abertas traz uma vez por semana uma lista de desembolsos curiosos do governo, como oito bolsas de couro compradas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela bagatela de R$ 7,2 mil. Ou os R$ 7,8 mil gastos pela Câmara na aquisição de um tapete de lã para seu museu.
Segurar pequenos gastos pode não resolver rombos no orçamento, mas certamente tornaria o setor público mais eficiente. "É possível gastar melhor, reduzir perdas e definir as prioridades. Há um sub-aproveitamento de recursos no orçamento público", diz Roberto Piscitelli, especialista em contas públicas da UnB.
No setor privado, a contenção de despesas é facilitada por uma cobrança diária por resultados e pela cultura corporativa. Nesse ambiente, emerge uma norma social em que quem dá o bom exemplo é recompensado e seguido por seus colegas. Muitas vezes, a iniciativa parte de cima. O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, é um famoso pão-duro. Diz o folclore que ele passou duas décadas sem comprar um terno.
John D. Rockefeller, o milionário americano que fundou a indústria petrolífera moderna, também ficou conhecido por economizar cada centavo. Certa vez, convidou um casal para ficar em sua casa de campo por algumas semanas. Quando foram embora, os amigos receberam uma conta de US$ 600 pela estada.
Bom exemplo
O poder do bom exemplo é uma nova fronteira em estudos comportamentais de diversas áreas. Pesquisadores americanos descobriram, por exemplo, que a chance de uma pessoa não fumar aumenta 70% quando o parceiro abandona o cigarro. Estudos ligam a influência social ao aumento da obesidade e a escolhas que parecem mais racionais, como a compra de um carro o sucesso do híbrido Prius nos Estados Unidos está mais ligada a uma "febre" em certas regiões do país do que aos incentivos fiscais dados pelo governo americano.
Para uma repartição pública, criar uma norma social de gasto mínimo é mais difícil. Primeiro, porque os donos do dinheiro, os contribuintes, têm muito pouca influência sobre os detalhes de como ele é gasto. O economista americano Milton Friedman, um defensor da redução do tamanho do Estado, dizia que desperdiçar recursos públicos não é tão doloroso quanto jogar fora o próprio dinheiro. Outro problema é que os incentivos para a economia detalhista são pequenos. Funcionários públicos não recebem um bônus, por exemplo, por produzir mais com menos. (GO)