A Petrobras não está preocupada com um eventual agravamento da crise boliviana e uma consequente restrição no envio de gás natural para o Brasil. Segundo a diretora de Gás e Energia da estatal, não existem sinais de que haverá problemas de fornecimento.
"Não conheço supridor mais confiável do que o boliviano... a Petrobras acredita no bom senso da Bolívia, é uma questão de política interna", afirmou Maria das Graças Foster a jornalistas nesta segunda-feira (8), referindo-se aos problemas enfrentados por Evo Morales nas últimas semanas.
Segundo afirmou o presidente boliviano na sexta-feira passada (5), a oposição de direita do país estaria organizando um "golpe de Estado civil". A Bolívia envia 31,74 milhões de metros cúbicos diários ao Brasil e, segundo Maria das Graças, "o Brasil não pode abrir mão de nem um milhão" dessa carga.
A executiva explicou que o Brasil está produzindo internamente 61 milhões de metros cúbicos e, com o volume vindo da Bolívia, o mercado brasileiro está plenamente abastecido.
Ela descartou a utilização de Gás Natural Liquefeito (GNL) para abastecer o mercado numa eventual falta de gás natural boliviano. Explicou que em caso de crise, seria acionado o plano de contingência da estatal, "que está pronto desde 2004", destacou sem dar detalhes.
"Se acontecer (o desabastecimento) não seria o GNL que poderia resolver", disse a diretora, lembrando que o único terminal de GNL da empresa, inaugurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto, no Ceará, ainda está em período de teste.
"Estamos nos últimos acabamentos do terminal, só vamos trazer o navio (com carga de GNL) quando houver demanda econômica... esse é nosso primeiro ano e vamos testar", esclareceu.
A partir do ano que vem, uma eventual suspensão do fornecimento da Bolívia poderá ser amenizada com a entrada em operação dos terminais do Ceará, no porto de Pecém, e outro na baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, totalizando uma oferta de 27 milhões de metros cúbicos de GNL.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, também disse que os problemas internos na Bolívia por enquanto não preocupam o governo.
"Não vemos motivos para alarde. É claro que se houver problema teremos medidas emergenciais. Além do GNL, temos um parque industrial flexível (bicombustível), temos margem de manobra", disse Tolmasquim, salientando que a frota de veículos a gás também é bicombustível.
PRÉ-SAL
A experiência que vem sendo obtida com a implantação dos terminais para regaseificar o GNL importado pelo Brasil está sendo útil também nos estudos que a Petrobras vem fazendo para a utilização do gás natural existente nas reservas pré-sal da bacia de Santos.
Ainda sem uma estimativa sobre o volume de gás do pré-sal -- "o que falarem por aí é mentira, não há como saber ainda" --, Graça explicou que a liquefação do combustível em alto-mar está sendo avaliada, já que esta seria possivelmente a forma mais econômica de resolver o escoamento do produto, como a diretora já havia antecipado à Reuters.
"Nós estamos trabalhando é na otimização da infra-estrutura em que consideramos a possibilidade de ter uma unidade flutuante de GNL, inclusive para atender o mercado doméstico", informou a diretora.
"Para que buscar gás na Nigéria, Catar, se o gás é meu e está a 300 quilômetros da costa?", perguntou.
Para os terminais que estão sendo construídos -- Ceará e Rio de Janeiro -- a Petrobras tem feito acordos para compra futura de GNL com esses e outros países. Segundo Maria das Graças, o Brasil poderia inclusive exportar esse GNL, no mercado spot (à vista).
"Cria-se um mercado doméstico ainda mais flexível, se estou num grande volume de gás e com chuva, vou para o mercado spot", explicou, referindo-se à menor necessidade de gás natural para as térmicas quando o Brasil está com as hidrelétricas operando normalmente.
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