Manifestantes bloquearam rodovias, interromperam o trânsito urbano e liberam a passagem de veículos em diversas praças de pedágio do Paraná nesta quinta-feira (11) em um protesto chamado de Dia Nacional de Lutas, organizado por centrais sindicais e que se repete em diversas cidades do País. Os ônibus de Curitiba podem parar nesta tarde.
INFOGRÁFICO: Veja os locais que podem ser evitados por quem não for participar da mobilização
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O Sindicato dos Comerciários de Curitiba e região (Sindicom,) que representa mais de 12 mil estabelecimentos, orientou os empresários a liberarem seus funcionários a partir das 14 horas, para evitar problemas com locomoção. Isso porque o transporte coletivo de Curitiba pode ser interrompido entre 15h e 19h desta quinta. A definição virá uma assembleia com cobradores e motoristas marcada para as 15 horas na Praça Rui Barbosa.
Os serviços de táxi da capital devem ficar sobrecarregados durante o dia. As centrais de rádio que administram os veículos alertam que trabalharão normalmente, mas que a procura deve ser bem maior que em dias normais.
O Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba funciona parcialmente, a maioria das aulas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi cancelada, e escolas municipais de Curitiba vão liberar os alunos mais cedo.
Ônibus podem parar
A paralisação do transporte coletivo de Curitiba é uma das possibilidades cogitadas pela categoria e ainda não se sabe, com certeza, qual será o impacto do ato ao transporte coletivo de Curitiba. A duração e adesão à paralisação dos ônibus na capital serão colocados em votação na tarde de quinta, segundo o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), Anderson Teixeira.
Como precaução, a Urbanização de Curitiba (Urbs) protocolou uma medida cautelar na Justiça do Trabalho no início da noite desta quarta-feira (10). A intenção é garantir a circulação de uma frota mínima para atender a população, mesmo que os trabalhadores decidam pela paralisação.
O documento protocolado diz que 1.554 ônibus, que representam 80% da frota da Rede Integrada de Transporte (RIT), devem circular no horário de pico (entre 17h e 20h). Fora desse período, a frota deverá ser de 1.658 ônibus, ou 60% do total. Caso haja descumprimento da decisão, poderá ser aplicada multa diária com valor a ser determinado pela Justiça.
A Urbs afirma que não recebeu o indicativo de greve da categoria até a noite desta quinta-feira. O presidente do Sindimoc informou que enviou um ofício para as empresas na segunda-feira (08).
Pedágios são "liberados" e rodovias ficam bloqueadas
Por voltas das 9h45, manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começaram uma série de protestos em pedágios de rodovias do Paraná. Até às 13 horas, pelo menos 15 praças foram ocupadas e tiveram as cancelas abertas. Na BR-376, os postos de cobrança Ortigueira e Umbaú estão ocupados. Já na BR-277, os manifestantes ocupam a praça de pedágio entre Curitiba e Paranaguá. Nesta mesma estrada, no trecho que leva da capital paranaense ao interior do estado, a praça de pedágio São Luiz do Purunã também possui protesto idêntico. Completam a lista de cidades que tem protestos em pedágio: Candói, Corbélia, Cascavel, Nova Laranjeiras, Candói, Guarapuava, Mandaguarí, Arapongas, Jataizinho, Cambará, Campo Mourão e Lapa.
Na Lapa, a manifestação terminou por volta do meio-dia após uma confusão. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu seis manifestantes no local e acabou com o protesto. Os policiais do posto responsável pela região ainda não tinham informações, até as 13 horas, sobre os motivos das prisões. A assessoria do MST também não soube informar o que motivou o fato.
A estimativa do MST é de que 21 praças estejam ocupadas nesta quinta. O objetivo é exigir a redução imediata das tarifas cobradas pelas concessionárias e agilidade na reforma agrária. Fazem parte da lista das praças de pedágio liberadas, que ainda não tiveram as manifestações confirmadas pelo MST, as cidades de Santa Terezinha do Itaipu, Céu Azul, Presidente Castelo Branco, Floresta, Sertaneja, Mauá da Serra e Irati.
Perto da fábrica da Volvo, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), um protesto de metalúrgicos bloqueou totalmente o trânsito em ambos os sentidos durante cerca de quatro horas. O tráfego nas marginais também ficou restrito. Uma longa fila de veículos se formou no local, que fica na região do cruzamento da Avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira com a Rua Eduardo Sprada. Os funcionários da Volvo saíram da fábrica e se juntaram aos manifestantes das centrais sindicais que convocam o protesto.
Na mesma região, na BR-277, no cruzamento com o Contorno Sul, uma manifestação foi feita por operários próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O bloqueio ocorreu na rodovia apenas no sentido interior-capital. O fluxo na região foi liberado mais ou menos no mesmo horário da que ocorreu na Volvo, por volta das 10h30.
A BR-376, na região da fábrica da Volkswagen, também teve restrições no tráfego devido a uma passeata feita por 4 mil trabalhadores. Eles são compostos por parte do quadro de empresas terceirizadas e também da própria montadora. A caminhada se estendeu até por volta das 10 horas. O trânsito primeiro foi bloqueado no sentido Joinville-Curitiba. Na sequência, quando os participantes chegaram ao Contorno Sul, o bloqueio foi invertido e, então, passou a ser no sentido Curitiba-Joinville.
Uma marcha de trabalhadores também deixou o trânsito complicado na BR-277, na região da fábrica da Renault, em São José dos Pinhais. De acordo com a PRF, o trânsito na região foi liberado por volta das 9h45 no sentido Litoral-Curitiba. Os protestantes fizeram uma caminhada até o viaduto do Contorno Sul e então os manifestantes voltaram até a Renault. O fluxo ficou bastante complicado na região.
Na Rodovia do Xisto, manifestantes bloqueiam a rodovia no km 148, entre Curitiba e Araucária. Às 10h45 o fluxo já se encontrava liberado.
Centro de Curitiba
Desde o início da manhã, na região central de Curitiba, segundo a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), o trânsito tem bloqueios em pontos alternados devido a aglomerações de trabalhadores. Por volta das 14h30, funcionários dos Correios iniciaram uma caminhada por ruas centrais da capital em direção à Praça Rui Barbosa. Segundo a secretaria, eles devem seguir pela Conselheiro Laurindo, Marechal Deodoro e Desembargador Westphalen, até chegar à praça. Haverá bloqueios parciais nestas ruas conforme a passagem dos trabalhadores.
A assessoria de imprensa dos Correios informou que 6,5% dos trabalhadores da empresa estão ausentes do trabalho por causa das manifestações, o que equivale a 416 pessoas. Os Correios afirmaram que, mesmo com uma diminuição no número dos trabalhadores, não há problemas com as entregas.
Pela manhã, a Avenida João Bettega, a Rua Eduardo Sprada, a Avenida Visconde de Guarapuava, a Avenida Sete de Setembro e a Travessa da Lapa, além das ruas do entorno, foram as que tiveram situações mais críticas. No fim da manhã, a Avenida Vicente Machado também ficou totalmente bloqueada.
A partir das 8 horas, o trânsito chegou a ficar interditado na Avenida Getúlio Vargas, entre as ruas João Negrão e a Conselheiro Laurindo, em frente à empresa Cavo. Um protesto dos trabalhadores na coleta de lixo começou na região e passou a percorrer vários trechos da cidade, com destino à Praça Nossa Senhora da Salete. Eles seguem, durante todo o percurso, gritando palavras de ordem, como: "trabalhador na rua, governo a culpa é sua."
Os manifestantes seguiram primeiro da João Negrão à Câmara Municipal. Em seguida foram à Procuradoria do Ministério do Trabalho, na Travessa da Lapa, e utilizaram a Rua Marechal Deodoro da Fonseca para chegar à sede da Justiça do Trabalho, na Avenida Vicente Machado. Por voltas 11 horas, quatro carros da Setran orientavam o fluxo e faziam um bloqueio total do cruzamento da Rua Brigadeiro Franco com a Avenida Vicente Machado. O fluxo estava prejudicado em todo o entorno.
Um dos participantes do protesto, Daniel Franco, 20 anos, é funcionário da limpeza especial há um ano. Ele diz que participa do protesto devido à desigualdade entre as profissões e a falta de respeito com a categoria. "Nossa categoria tem que trabalhar mais de 20 anos correndo atrás de um caminhão para se aposentar, enquanto um governador trabalha quatro, oito anos e consegue aposentadoria vitalícia", comparou.
O presidente do Siemaco, Manassés de Oliveira, ressaltou que a manifestação de hoje inclui outras pautas além da reivindicações por melhores salário, como mais vagas em creche, melhora na saúde e na educação. Além disso, Oliveira aconselhou as pessoas a segurarem o lixo em casa para evitar transtornos. "Orientamos as pessoas que não coloquem o lixo na rua porque hoje os funcionários não farão a coleta e limpeza das vias públicas", disse.
Sobre as manifestações nas fábricas, o presidente da Força Sindical no Paraná, Nelson Silva de Souza, diz que pelo menos nove indústrias estão totalmente paralisadas. Volvo, Renault, WHB, CNH (New Holland), Abraser, Plásticos do Paraná, Perfecta, Cabs e Volkswagens compõem a lista, atualizada por volta das 8h30 pelo dirigente.
Frentistas de alguns postos de combustíveis da região central de Curitiba também vão parar os trabalhos durante a tarde. Segundo o Sindicato dos Frentistas de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpospetro), profissionais de pelo menos cinco postos vão aderir aos manifestos do Dia Nacional de Luta nessa quinta-feira.
HC e UFPR
O HC cancelou os atendimentos eletivos nesta quinta-feira (11), mas o movimento no local é tranquilo. Os funcionários do estabelecimentos relataram que a maior aglomeração de pacientes aconteceu entre 6 horas e 7 horas. A maior parte das pessoas que teriam atendimento hoje foi avisada da paralisação e da necessidade de remarcar consultas e exames.
Na UFPR, maioria das aulas foi cancelada, segundo a assessoria de imprensa da instituição. Apenas o setor de ciências jurídicas, que funciona no prédio histórico da Praça Santos Andrade, não registrava problemas nesta manhã. Os campus Centro Politécnico, Juvevê, Jardim Botânico e Reitoria tinham funcionamento afetado nesta manhã. À tarde também não deve haver aula devido à possível paralisação dos ônibus, conforme a assessoria. Também estão parados todos os restaurantes universitários (RUs) da instituição e os serviços realizados pelos servidores da faculdade estão suspensos. (Voltar)
Reivindicações
As manifestações acontecem nesta quinta-feira em várias cidades do Brasil. No Paraná, o movimento é organizado pelas centrais sindicais CSP Conlutas, CTB, CUT, Força Sindical, NCST e UGT.
No nível estadual, os trabalhadores pedem queda das tarifas do pedágio; mudança no sistema de eleição para conselheiros do Tribunal de Contas; sistema permanente de reajuste do salário mínimo regional e regulamentação da profissão de motorista.
As pautas nacionais são redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução salarial; fim do projeto de lei que amplia a terceirização; reajuste digno para aposentados; fim dos "leilões do petróleo"; investimento de 10% do PIB em educação e outros 10% do orçamento da União na saúde; transporte público de qualidade e com preço justo; e reforma agrária. (Voltar)