Em sua primeira entrevista coletiva pós-eleição, na quarta-feira, o presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump pouco falou sobre economia além do tradicional “trazer os empregos de volta”. No Twitter, o republicano parece mais revelador. Ameaçou sobretaxar montadoras dos EUA que produzem fora do país, fez a Ford desistir de um plano bilionário de montar uma fábrica no México e influenciou a Amazon a criar empregos em solo norte-americano. Ao mesmo tempo, se cercou de críticos ferrenhos à relação comercial com a China. Uma clara indicação de que o discurso agressivo adotado na campanha pode realmente ser colocado em prática. E com consequências que ligam o alerta no Brasil.
Os resultados da agenda econômica de Trump, a ‘Trumponomics’, são tão imprevisíveis quanto a persona do magnata, que espantou meio mundo ao chegar ao posto mais importante dos Estados Unidos. Basicamente, sua política se apoia em três pontos ainda nebulosos (não se sabe exatamente como ele irá aplicá-los): cortar drasticamente impostos de empresas e pessoas físicas (a fim de estimular a produção e consumo); injetar dinheiro na economia com grandes projetos de infraestrutura e proteger a indústria dos Estados Unidos renegociando e personalizando acordos comerciais.
Obviamente, implementar tais medidas depende do acordo com vários agentes, “sobretudo um Congresso dominado por republicanos, mas que não necessariamente compactuam com as medidas esboçadas pelo novo presidente, entre elas a do isolacionismo comercial e dos gastos públicos em excesso”, destaca o economista e professor de Relações Internacionais Paulo Arthur Tarso. Ainda assim, a uma semana de sua posse, os efeitos já são sentidos com um ar de otimismo pelos norte-americanos: dólar se fortaleceu e as bolsas têm reagido positivamente. A expectativa é resumida pelos números do Wall Street Journal, que calcula o dobro de crescimento econômico para os EUA neste e no próximo ano -- em 2016, o pais cresceu 1,5%.
No curto prazo, destaca Tarso, Trump deve agradar a massa de desempregados, já que tais medidas devem, de fato, estimular a atividade econômica, “trazendo de volta os empregos”.
Mas a que preço? O do déficit público, aparentemente. As alíquotas de redução de imposto ainda não são oficiais, mas estima-se que, por exemplo, a taxa de imposto para empresas que produzam nos EUA caia de 35% para 20%. Na média, o imposto de renda para pessoas físicas será reduzido de 7% a 3%. O imposto sobre herança desaparece; os gastos do estado aumentam. Essa quebra na arrecadação, diz a think tank Tax Foundation, de Washington, representará de US$ 2,6 trilhões a US$ 3,9 trilhões nos próximos 10 anos. Resta saber se a economia permanecerá tão aquecida a ponto de cobrir tal rombo até lá.
Efeitos para o Brasil
O Trumponomics dá indícios de que não será fácil para o Brasil, ainda que o embaixador brasileiro em Washington, Sergio Amaral, tenha afirmado nesta semana, em entrevista à rede estatal EBC , que o momento é de “oportunidade” para que o Brasil atraia investimento norte-americano e aumente o comércio bilateral.
“O Brasil não vai se favorecer das opções políticas e econômicas dos EUA porque tem pouca velocidade para se contrapor a medidas que nos impactem. Por exemplo, se Trump resolver desvalorizar o dólar para estimular as exportações, o resultado vai ser de valorização do real e o brasileiro não vai conseguir mais exportar”, diz o professor Corival Alves do Carmo, coordenador do núcleo de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe. “O Brasil quer se aproximar dos Estados Unidos no momento em que os EUA não estão interessados nos problemas do mundo”, avalia o professor.
De fato, o presidente eleito pouco, quase nada, falou sobre o Brasil, exceto para colocar em um bolo de países emergentes que estariam “roubando empregos norte-americanos”. Com a tendência de se fechar aos acordos comerciais, é difícil que o Brasil se posicione de forma mais confortável com os EUA – mesmo esta relação sendo mais benéfica para eles; hoje a balança é deficitária na casa de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões ano a ano para o Brasil.
Esse talvez nem seja o principal problema. O fator substancial aqui são os juros norte-americanos. É dado como certo que o Federal Reserve, o Fed, banco central dos EUA, elevará as taxas básicas nos Estados Unidos para controlar a inundação de dinheiro – fala-se em aumentos sucessivos em 2017 e 2018. Nesse cenário, é possível que o Brasil seja ameaçado pela fuga de capitais. Certamente, tudo o que o país não precisa no momento de crise.
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