Professores do câmpus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) pressionam a reitoria para que a unidade se mude da cidade. Um dossiê com o pedido foi entregue ao reitor na semana passada. O desconforto com a localização do câmpus já havia surgido entre docentes, mas é a primeira vez que a proposta é oficializada à reitoria.
O documento, de 18 páginas, diz que a unidade é isolada geográfica e culturalmente, além de não acrescentar nada à região onde está, no carente Bairro dos Pimentas. Além de dificultar o acesso à maioria dos funcionários e alunos, colaborando para os altos índices de abandono, a localização prejudicaria as pretensões de excelência do câmpus.
"A dificuldade extrema de acesso ao câmpus Guarulhos impede que os alunos recebam devidamente a formação concebida pelo projeto acadêmico original da EFLCH (Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas)", cita o dossiê. "A EFLCH dificulta o intercâmbio formativo previsto pelo projeto, o enriquecimento docente e discente pelo diálogo com as variadas modalidades de cultura formal (...). A EFLCH foi fundada para cumprir seu projeto acadêmico original; não para atender às urgências do Bairro dos Pimentas."
Os professores favoráveis à mudança defendem que os cursos poderiam ir para o centro de São Paulo. A sugestão se dá porque a Unifesp acaba de oficializar o prédio que abrigará um curso de Direto a partir de 2014, no Largo do Paiçandu.
A Unifesp foi para Guarulhos em 2007 por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) com cursos de humanas. Desde a inauguração há queixas de falta de infraestrutura e dificuldade de acesso. Não há trem ou metrô e as vias que levam ao bairro não suportam o trânsito local.
Medo
O dossiê não é assinado, pois professores temem represálias de lideranças estudantis consideradas radicais e ligadas a movimentos políticos. A proposta não é unanimidade entre o corpo docente, mas, segundo o coordenador da pós-graduação em Filosofia da Unifesp, Juvenal Savian, cerca de 70% dos professores apoiam a ideia. "A escola, como foi concebida, não cabe lá, é uma falsa imagem. A Unifesp não faz nada especificamente para a população local", afirma.
Savian lembra o exemplo da USP Leste, unidade da Universidade de São Paulo (USP) que não atrai uma maioria de alunos da região e não colaboraria com sua transformação. Cerca de 70% dos alunos da Unifesp não moram em Guarulhos. "Os mesmos problemas da USP Leste ocorrem lá. Há uma evasão enorme." Não há dados oficiais sobre a evasão em Guarulhos - na USP Leste, esse índice chegou a 37%.
Há queixas do perfil dos alunos: muitos dos mais bem colocados desistem de se matricular ao conhecer o câmpus. "Estudantes com melhor preparo desistem de frequentar a EFLCH, obrigando-a a receber estudantes semialfabetizados", diz o dossiê.
O documento é criticado por professores favoráveis à permanência em Guarulhos. "Esse dossiê não foi apresentado em assembleia, não é representativo da categoria docente do câmpus Guarulhos e contém expressões e juízos de valor muito equivocados e alguns até preconceituosos", ressalta a professora Lavinia Silvares, da Letras.
Savian defende que a presença da Unifesp no bairro possa ser mantida por atividades de extensão universitária ou escola de aplicação. O dossiê sugere que alguns cursos permaneçam no bairro caso seja de interesse de seus coordenadores.
A reitoria criou uma comissão para analisar o dossiê. Na quinta-feira (2), reunião da congregação do câmpus discutia o assunto.
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