Mathias Lima percebeu o erro durante a aplicação da prova e pensa em entrar com uma ação contra o Inep| Foto: Marcelo Elias / Gazeta do Povo

Para estudantes, prova perdeu credibilidade

Vanessa Prateano

Ansiedade dobrada. Essa é a sensação que toma conta de quem foi prejudicado pelas falhas na prova do Enem. Além da falta de informação sobre como o Inep irá contornar o problema, a proximidade do vestibular da UFPR deixa os estudantes angustiados. "A ansiedade é grande. A gente tenta não pensar no Enem e focar no vestibular da Federal, mas é difícil. Para os cursos concorridos, 10% é muita coisa", afirma a estudante Raysa Allana Siqueira, 17 anos, que tenta uma vaga em Direito.

O estudante Mathias Ramos Lima, também de 17 anos, diz não confiar mais na prova. "Na minha sala, fui eu quem percebeu o erro. Chamei o fiscal e ele me orientou a relatar o problema atrás do gabarito. Mas quem é que vai olhar atrás do gabarito, numa prova com milhões de candidatos?", questiona. Ma­­thias, que quer cursar Medi­cina, conta que, devido à rotina intensa de estudos, mal teve tempo de decidir como proceder, mas enviou um e-mail ao Inep e cogita entrar com uma ação contra o órgão. "Tenho mais esse problema para resolver", diz.

Descrédito

Na opinião do diretor do Curso Pré-vestibular Expoente, Renaldo Franque, o episódio coloca em risco a credibilidade do Enem. "Apesar do que ocorreu o ano passado, o nosso discurso para os alunos era de que dessa vez seria diferente, que eles deveriam fazer a prova, tanto que 96% deles se inscreveram. O resultado foi decepcionante", avalia. A diretora do Curso Pré-Vestibular Acesso, Elvira Santaio, concorda. Ela acredita que o episódio fará com que as universidades que ainda não adotam a prova como único critério de admissão continuem resistentes. "É uma pena, pois é uma prova bem contextualizada, capaz de avaliar bem o conhecimento". Já para o diretor do Curso Pré-Vestibular Positivo, Renato Ribas Vaz, o fato comprova que o exame deve ser revisto. "Espero que o governo reveja esse modelo de prova nacional, que exige uma logística gigantesca. Dessa forma, perde-se o controle, os fiscais são mal treinados e o aluno é que sai prejudicado".

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Gabaritos

Requerimento sobre correção deve ser feito pela internet

Entra no ar amanhã, na página do Enem na internet, no endereço www.inep.gov.br/enem, o módulo para que os estudantes possam fazer um requerimento sobre a correção dos gabaritos em função do erro de impressão das folhas de resposta distribuídas no sábado. Já estão disponíveis na internet os cadernos de prova do Enem. Os estudantes podem acessar os arquivos por meio do site do órgão, no endereço www.inep.gov.br. O gabarito oficial da avaliação será divulgado hoje, também pela internet.A folha em que os estudantes marcam as respostas das questões no último sábado estava com o cabeçalho das duas provas trocado. A avaliação teve 90 questões, metade de ciências humanas e a outra de ciências da natureza.

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A decisão do Ministério da Educação (MEC), que deverá aplicar a segunda edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para os estudantes prejudicados pelos erros na prova amarela nos dias 4 e 5 de dezembro, poderá atrapalhar a segunda fase do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), marcada para 5 e 6 de dezembro. Outra possibilidade era aplicar a segunda fase do Enem entre os dias 27 e 28 de novembro, mas essa data pode ser descartada por causa do vestibular da Fuvest, de São Paulo.Caso seja confirmada pelo MEC, a segunda edição do exame será aplicada em um único dia, pois apenas as provas realizadas no último sábado apresentaram problemas. De acordo com o ministério, cerca de 20 mil pessoas podem ter recebido provas amarelas com problemas. Deste total, o governo afirma que a grande maioria não foi prejudicada, já que ganhou um novo exemplar do caderno de questões.

Se o Enem for remarcado para a mesma data da UFPR, os candidatos que precisarem refazer o exame terão de optar por uma das duas formas de ingressar na Federal: pelo Sisu ou pelo processo seletivo tradicional.

O MEC informou que avaliará os calendários de todas as instituições federais, para que as datas do Enem e dos vestibulares não coincidam. Além da UFPR, pelo menos mais uma instituição pública do Paraná tem vestibular previsto para as datas estudadas pelo ministério. A primeira fase da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) será aplicada no dia 28 de novembro. A instituição, entretanto, não vai usar o Enem em seu processo de seleção.

Futuros calouros

Apesar dos problemas, o coordenador do Núcleo de Concursos da UFPR, Raul Von der Heyde, afirma que até o momento a instituição não pretende deixar de usar o Enem na seleção dos futuros calouros. "Vamos entrar em contato com o MEC para comunicar que temos processo seletivo em dezembro e evitar a coincidência de datas", afirmou.

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Neste ano, a UFPR vai destinar cerca de 10% das vagas em cada curso para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que escolhe candidatos de instituições públicas de ensino superior exclusivamente pela nota do Enem. Além disso, o Enem terá peso de 10% na nota final dos estudantes que fizerem o vestibular, medida que pode ser afetada dependendo da data do exame. "Os 10% das vagas estão mantidos, porém é mais complicado usar a nota do Enem no vestibular. Por outro lado, a informação que temos é que houve a troca dos cadernos com erros e que poucas pessoas foram comprometidas", disse Von der Heyde. "Temos de verificar se as pessoas prejudicadas estão envolvidas no nosso processo seletivo e se elas vão para segunda fase."

UTFPR vai manter seleção pelo Sisu

A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que no ano passado substituiu o seu vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vai manter a seleção pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), assim como o Instituto Federal do Paraná (IFPR). "O MEC está se comprometendo a corrigir o erro e a fazer outra prova no início de dezembro. Como poucas pessoas foram prejudicadas, acredito que o resultado final da seleção não deva atrasar", afirmou ontem o presidente da Comissão de Processos Seletivos da UTFPR, Jair Almeida. Ele ressaltou que a metodologia utilizada na elaboração do Enem, a Teoria de Resposta ao Item (TRI), permite aplicar provas diferentes, mas com o mesmo grau de dificuldade.

Na opinião do reitor do Ins­tituto Federal do Paraná (IFPR), Alípio Leal, os problemas apresentados no exame são fruto de um processo recente que está em fase de ajustes e sujeito a dificuldades. Segundo ele, o processo seletivo poderia ser aperfeiçoado se o MEC permitisse a participação de universidades federais e estaduais no processo de aplicação das provas. "As instituições poderiam participar não apenas da confecção das questões e dos cadernos, mas principalmente da aplicação das provas em todo o país. Esse foi um aspecto que também teve muitos problemas, talvez por falta de experiência", disse. Nesse ano o IFPR também vai selecionar os seus calouros apenas pela nota do Enem.

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Colaborou Bruna Bill

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