Cursos
Além da prova de Filosofia, os candidatos de Direito resolvem questões de História. Diferentemente do que ocorreu no último vestibular, os candidatos de Medicina não terão Filosofia. Para esses estudantes, as específicas serão de Química e Biologia
Daqui a duas semanas, nos dias 5 e 6 de dezembro (domingo e segunda-feira), milhares de candidatos participarão da segunda fase do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No primeiro dia de seleção, os estudantes farão a prova de Compreensão e Produção de Textos, comum a todos. No segundo, serão aplicadas provas específicas, de acordo com o curso escolhido. Os candidatos de Filosofia, Psicologia e Direito farão prova de Filosofia. Serão dez questões discursivas, valendo quatro pontos cada uma, sobre quatro livros: O Discurso do Método, de René Descartes, A República (Livro X), de Platão, Einstein e a crise da razão, de Maurice Merleau-Ponty, e Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, de Jean-Jacques Rousseau. Confira as resenhas de cada obra e boa prova!
Platão
O Livro X da República: uma questão moral
Tradicionalmente o Livro X da República é lembrado pela dura crítica que dirige aos poetas e à arte em geral. Aos olhos modernos, parece bastante estranho que um escritor como Platão, dotado de uma capacidade literária ímpar, defenda a expulsão da poesia de sua cidade ideal. O que nos choca é justamente o fato de que possuímos uma opinião absolutamente contrária: a arte, para nós, vale como algo que amplia e aprofunda nossa compreensão da realidade. Surpresos, então, perguntamos: por que Platão considera a arte e a poesia como coisas nocivas e dispensáveis?
O filósofo ateniense, lançando mão de sua teoria das ideias ou formas, nos responde: a poesia está a três pontos da verdade. Suas obras são imitações imperfeitas de objetos particulares que são, por sua vez, cópias igualmente imperfeitas das ideias ou formas. No exemplo platônico, temos a mesa ideal, que determina todas as particulares, as mesas sensíveis, que são utilizadas cotidianamente, e as mesas representadas pelos artistas, que não determinam as outras e não servem aos mesmos propósitos que as mesas particulares.
Ora, reconhecer que as obras de arte estão distantes da verdade das ideias não basta, contudo, para expulsá-las da cidade ideal. Afinal, o que na maior parte das vezes nos chama atenção nas produções artísticas é justamente seu aspecto fantasioso. Compreendemos, assim, que a "mentira" ou "engano" da arte não são simplesmente negativos, mas contém algo de positivo que pode despertar novas percepções da realidade.
A chave da questão se encontra no papel central que a poesia exerce na educação dos gregos antigos. Diferente das nossas produções poéticas, as obras de Homero são utilizadas na educação dos jovens e constituem o padrão moral na Grécia de Platão. Assim, Platão expulsa as produções poéticas não simplesmente porque elas expressam coisas distantes da verdade, mas principalmente porque a poesia que ele conhece tem a pretensão de estabelecer os critérios morais dos gregos antigos.
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* Juliano Orlandi, professor do Curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)
Rousseau
O discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens
O Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens foi elaborado por Rousseau em sua fase de grande prestígio, no ano de 1754, ocasião em que ele competia pelo prêmio da Academia de Dijon. Venceria aquele que desse a melhor resposta para a pergunta: qual é a origem da desigualdade entre os homens, e ela é respaldada pela lei natural? Ainda que seu texto não tenha sido reconhecido, publicou seu trabalho em 1755.
O pensador tem a convicção de que o homem já nasce bom. Em seu primeiro discurso afirma que os costumes degeneram à medida que os povos desenvolvem o gosto pelos estudos e pelas letras.
Rousseau divide o estudo em duas partes: na primeira o homem é analisado tanto em seu estado natural como civilizado. Na segunda é defendida a ideia de que as desigualdades têm sua origem no estado de sociedade. Na segunda parte, Rousseau começa com uma explicação para o fato de os homens reunirem-se em uma sociedade, visto que em grupo é mais fácil resistir e combater animais selvagens. Com essa convivência, observa-se que foi dado o primeiro passo para a desigualdade, com a distinção entre o mais belo, o mais forte, o mais destro, o mais eloquente.
Com a conglomeração humana, também foi delimitada a propriedade, e, por meio de sua divisão, foram geradas as primeiras regras de justiça, tendo o trabalho como origem dos direitos sobre os produtos da terra e do próprio terreno (aquele que trabalha e produz tem direito sobre aquele espaço). Feita a aquisição da propriedade, esta foi repassada aos sucessores, geralmente seus familiares, donde partiram as primeiras ideias de dominação, servidão e, consequentemente, violência.
Importante não esquecer que ideia de perfectibilidade está na base de toda esta transformação. Como homem de seu tempo, Rousseau procurou realizar uma análise científica da sociedade. Ele utilizou a "noção de estado de natureza", que nunca existiu efetivamente, mas serve de patamar de comparação para verificarmos o quão distante uma sociedade está do estado natural.
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* David Camilo, professor do Colégio Sesc São José e mestrando em Filosofia Política pela UFPR
Descartes
A dúvida metódica
O Discurso do Método, obra de René Descartes publicada em 1637, é um dos textos mais conhecidos do pensador, que pertence a uma corrente racionalista e é considerado o fundador da Filosofia. O racionalismo privilegia o pensamento lógico como forma de explicação da realidade A obra foi escrita originalmente em francês, algo incomum para o período. Descartes é um dos primeiros a escrever filosofia em primeira pessoa e em francês, quando era comum que autores europeus preservassem o latim.
Descartes se vê comprometido a afastar-se de tudo aquilo que até então fora estabelecido e dado como certo. Inicia este caminho a partir da dúvida: é preciso duvidar para chegar à certeza. Partindo disto, supõe que tudo o que vê é falso e despreza, ao menos inicialmente, todos os sentidos, para recomeçar do zero. Para buscar a fundamentação das coisas e a verdade sobre elas, também se faz necessário um caminho, uma ordem, o que Descartes denomina como Método.
Assegurando que as coisas corpóreas são mais fáceis de conhecer que a nossa própria imaginação, ilustrará seu pensamento com um exemplo, o do pedaço de cera que acaba de ser retirado da colmeia: "Ee não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que foi recolhido; sua cor, sua figura, sua grandeza, são patentes; é duro, é frio, tocamo-lo e se nele batermos, produzirá um som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo encontram-se neste." Diz a seguir que, ao aproximar-se a cera do fogo, ela derrete e mudam os seu atributos. Constata que nada permanece senão enquanto algo de extenso, flexível e mutável. Ao conceber a cera e apresentando estas observações, nosso filósofo concluirá pela primazia do espírito em relação à imaginação e aos sentidos.
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* David Camilo, professor do Colégio Sesc São José e mestrando em Filosofia Política pela UFPR
MERLEAU-PONTY
A ciência como religião em Einstein e a crise da razão
Qual o interesse de Merleau-Ponty (1908-1961) na discussão entre Einstein (1879-1955) e Bergson (1859-1941) sobre a unidade ou multiplicidade do tempo? E o que isso tem a ver com a crise da razão? No primeiro parágrafo o autor nos esclarece sobre um primeiro momento dessa crise quando afirma que o positivismo procurou transformar a ciência numa espécie de religião por meio da qual seria possível compreender todos os domínios da existência com absoluta clareza. Será que foi isso que ocorreu? Parece que não, pois cada vez mais nos embrenhamos numa ampla gama de conceitos científicos e filosóficos que nas mais diversas áreas objetivamente não alcançaram muito sucesso.
A reflexão sobre um segundo momento da crise da razão se dará por meio da investigação da noção de tempo, o qual Einstein considera plural desde sua teoria da relatividade e que o filósofo francês Bergson, contrariamente, tenta afirmar como sendo único. O cientista colocou em xeque a física newtoniana que prescrevia o espaço e o tempo como sendo absolutos. A consequência disso é que o tempo pode se retrair ou distender-se conforme o sistema de referência. Mas, Bergson argumenta que talvez essa seja uma maneira exclusivamente física de compreender o tempo e que na sua essência só existe um tempo válido para todos.
Porém, o cientista não foi capaz de aceitar a ideia de que o tempo do filósofo é o mesmo que o do físico e preferiu acreditar que sua análise científica é a única verdadeira e confiável. Esse fato reintroduz uma crise da razão.
A intenção do texto parece estar relacionada ao apontamento de uma espécie de superação de um primeiro momento da crise da razão, a qual se caracteriza pelas promessas não cumpridas do Iluminismo e do Positivismo tardio, pela física especulativa de Einstein. Porém, na medida em que o físico abre mão da experiência perceptiva do tempo, não considerando as admoestações de Bergson, uma nova crise tende a se instaurar e a ciência retorna ao ambiente de suas pretensões absolutas.
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* Rodrigo Alvarenga, professor do Departamento de Filosofia da PUCPR. Tem suas pesquisas voltadas para o pensamento de Merleau-Ponty, mais especificamente os estudos acerca da corporeidade
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