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Quando escolheu o Brasil como sede da Copa, a Fifa acreditava que o governo era competente, administrava bem o país e o povo estava feliz da vida com modernas escolas e hospitais, assistência social, aposentadoria digna para todos os trabalhadores, segurança nas cidades, mobilidade urbana equacionada, aeroportos e portos funcionais para atender à demanda de passageiros e o vital transporte de cargas, rodovias e ferrovias no mesmo padrão do primeiro mundo e, é claro, estádios à altura do padrão exigido pelo caderno de encargos da entidade.

Como só os estádios se encontram no padrão Fifa, custando verdadeira fortuna e com alguns deles destinados a se transformar em elefantes brancos depois do Mundial, a população resolveu ir às ruas para protestar contra a má gestão pública e, sobretudo, a corrupção que assola o país.

As passeatas durante a Copa das Confederações ainda estão bem vivas na memória do presidente Joseph Blatter, que colocou em dúvida o acerto da aclamação do Brasil para patrocinar o maior evento do futebol. O governo, como não poderia deixar de ser, reagiu através de nota do Ministério do Esporte, falando em democracia, livre direito para protestos e garantia que não se registrarão distúrbios daqui a um ano. Mas nada de cortar pela metade o número de ministérios, mandar para casa os servidores públicos incompetentes, proibir a orgia de gastos com gabinetes e viagens de ministros, diretores de estatais, senadores e deputados.

Por isso, os protestos devem continuar podendo alcançar contornos de calamidade se for confirmado o boato de que a Fifa cortará duas das capitais escolhidas para os jogos da Copa. Imaginem a reação da população de cidades eventualmente cortadas depois da dinheirama que foi gasta. Mesmo arrependida de ter optado pelo nosso país, da mesma forma que aceitou fazer a Copa de 2022 no Catar com temperaturas insuportáveis nesta época do ano, acredito que as 12 sedes serão mantidas.

A partir de amanhã teremos mais um teste na segurança com a chegada do Papa Francisco. E todos esperam que haja respeito ao ilustre visitante que, afinal de contas, assim como a Fifa, não tem nada a ver com as mazelas do difuso governo brasileiro e a insatisfação generalizada da população.

Pelo que se observa, a maior bronca do povo está intimamente ligada aos maus serviços prestados pelo estado e a corrupção. Os serviços serão resolvidos somente com investimentos em obras e pessoal preparado, não com cabos eleitorais e militantes nomeados para cargos públicos, e a corrupção é o câncer da nação.

A corrupção, todavia, não se dá só no âmbito oficial, mas no privado também. Há em nossa história uma leniência com a corrupção que se acentuou com a sociedade do bem-estar, a demonstrar que a corrupção política é corolário da corrupção moral que envolve a sociedade.

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